A Halachá divide todas as coisas desse mundo em três categorias básicas: 1) Assuntos relacionados à santidade com os quais a Torá obriga um judeu a ocupar-se. 2) Aqueles assunto e coisas que a Torá proíbe. 3) Aqueles assuntos e coisas que são permitidos, mas não se enquadram na categoria de mitsvot.

Na opinião da Chassidut todas as coisas permitidas, mas que não estão na categoria de mitsvot, derivam sua força de vida de kelipa noga. Foram permitidas ao homem para que ele pudesse esforçar-se para elevá-las ao utilizar-se delas em seu serviço a D’us. Apesar disso, ele também tem a capacidade de degradar estas coisas e impeli-las ao domínio das kelipot impuras.

Segundo a Halachá, "agir pelo mérito do Céu" aplica-se não somente a assuntos de santidade, como também a assuntos que são simplesmente permitidos, sem estar na categoria de mitsvot. Isso se aplica a todos os aspectos da vida – comer, beber, assuntos de negócios e relacionamentos pessoais e familiares, como explica o Rambam em Hilchot De'ot, capítulo 3. E o motivo para isso, explica Rabi Shneur Zalman no capítulo seis do Tanya, é que o homem tem a capacidade de afetar a vitalidade que flui através desses objetos, pois a força de vida deriva de kelipat noga. Por sua conduta, uma pessoa pode fazer a vitalidade tornar-se degradada e se torna absorvida nas kelipot, se o propósito de suas ações é satisfazer seus desejos. De modo alternativo, ele pode deixar a vitalidade inalterada, se ele age sem qualquer intenção específica. Ou, idealmente, ele pode elevar aquela vitalidade ao nível da santidade, se suas intenções são adequadas.

O processo de separação

É impossível elevar tudo da kelipat noga, que compreende uma mistura de bem e mal. Somente o bem dentro dela pode ser elevado. Com as intenções apropriadas, que é agir pelo mérito do Céu, a separação do bem e do mal é atingida. Este é o primeiro estágio de elevação do bem da kelipat noga. Subseqüentemente, o bem "que tem sido extraído e separado do mal, prevalece [sobre ele], e ascende para ser absorvido em Santidade."

Deve-se destacar que o composto de bem e mal em noga é comparável à mistura de dois líquidos, tornando a tarefa de separá-los muito difícil. Mesmo assim, é possível conseguir esta missão espiritual e santificar até mesmo os objetos e atividades mais comuns e mundanos.

Por exemplo: "Se alguém come carne gorda e bebe vinho temperado", o que geralmente é considerado um luxo desnecessário, mas o faz para "ampliar sua mente para [o serviço de D’us] e por Sua Torá, ou para cumprir o mandamento de desfrutar o Shabat e os Dias Festivos", esta intenção faz com que a vitalidade na comida seja extraída e separada dela. Então esta vitalidade "ascende a D’us como uma oferenda queimada e um sacrifício." Esta comparação a uma oferenda queimada e a um sacrifício não é mero exagero – é o verdadeiro resultado de santificar ações mundanas, como comer e beber, utilizando as intenções apropriadas. E embora beber vinho possa ter tanto conseqüências positivas quanto adversas, o resultado não depende da potência do álcool, nem da quantidade consumida. Ao contrário, o motivo e propósito de seu consumo é o fator essencial.

A degradação dos alimentos permitidos

Obter até mesmo as necessidades mais básicas da vida exige a intenção adequada: o objetivo de uma pessoa deveria ser servir a seu Criador. Se uma pessoa é uma daquelas que "gulosamente comem carne e emborcam vinho para satisfazer seus apetites corporais e alma animalesca", as conseqüências negativas que resultam serão duplas. "A vitalidade da carne e vinho que ele ingeriu é portanto degradada, e absorvida temporariamente no mal das três kelipot impuras." E além disso, o corpo do glutão "torna-se uma veste e um veículo para estes kelipot."

Apesar disso, deve-se notar que o glutão não muda a essência da vitalidade do alimento que devora. Seu desejo pelo prazer físico apenas o degrada. Mas como seu apetite era por carne e vinho casher, e portanto permitidos, sua vitalidade que deriva de noga não é transformada em parte das três kelipot impuras. Ao contrário, é apenas temporariamente profanada, e ali permanece até retornar ao serviço de D’us.

É importante enfatizar que teshuvá, arrependimento e retorno à Torá e ao serviço de D’us, tem muitos aspectos e níveis. No presente contexto, estamos discutindo os princípios básicos de teshuvá e a retificação do pecado. Ao contrário, o serviço de teshuvá a que se refere aqui é aquele processo por meio do qual uma pessoa eleva a vitalidade a partir das kelipot até onde seu desejo pelo prazer o atira. A teshuvá exigida de uma pessoa neste contexto é forçá-la a retornar ao serviço de D’us e à Sua Torá, a ancorar em seu coração o conhecimento que seu único propósito de viver neste mundo é servir a D’us. Também, que todas as atividades nas quais ele está envolvido deveriam ser dirigidas a algum propósito Divino, e ser pelo benefício de seu Divino serviço.