Durante a Segunda Guerra Mundial havia um grupo de partisans poloneses que escapara dos campos de guerra nazistas. Estes partisans consistiam de uns poucos judeus e alguns ex-oficiais poloneses. Organizaram uma força de resistência que costumava atormentar os alemães.
Em uma dessas missões, encontraram um rabino idoso e faminto, que havia sido dado por morto pelos assassinos nazistas. Um dos partisans católicos apiedou-se do homem e alimentou-o até que ficasse saudável novamente. O rabino não tinha nenhuma verdadeira utilidade para os partisans e recebeu a incumbência de cozinhar e rezar pela segurança dos combatentes. Estranhamente, este grupo de partisans não sofreu baixas pelo restante da guerra.
Quando o conflito terminou, o grupo separou-se. Alguns voltaram à Polônia; outros viajaram para Latvia. Outros ainda tornaram-se andarilhos sem moradia fixa. Quando o governo russo começou a ficar mais severo com as pessoas, privando-as de sua liberdade, o grupo decidiu fugir.
Foi feito um plano para deixar o território russo durante a noite. Um informante que ajudava estes partisans fugitivos disse-lhes: "Devem cruzar o rio durante o inverno, quando está congelado. Ao chegarem à outra margem do rio, estarão entrando numa terra sem dono. Lá encontrarão uma cabana, usada por um soldado russo encarregado de impedir a travessia da fronteira por pessoas não autorizadas. Seu trabalho é atirar em tudo que se mova. Entretanto, à uma da madrugada ele sai da choupana e caminha algumas milhas até a próxima cabana, onde encontra outro soldado. Neste local os militares trocam relatórios e suprimentos. Então ele volta para seu posto. A jornada completa leva aproximadamente duas horas. Durante este tempo, vocês podem se aquecer em sua choupana, mas devem estar fora dela quando o soldado retornar".
Este grupo de bravos consistia apenas de jovens. Muitas das pessoas mais velhas haviam desistido, decidindo permanecer em solo russo. O único homem idoso que desejou viajar com eles foi o rabino. Uma acalorada discussão irrompeu: "Vamos deixá-lo," disse um deles. "Afinal, ele pode encontrar comida em uma das cidades. Realmente não precisamos ser atrapalhados por um homem frágil e idoso. Já fizemos nossa parte".
Um partisan, cristão religioso, exclamou: "Se o deixarmos, seremos todos condenados. Não irei sem ele". Relutantemente, incluíram o rabino.
Era uma noite fria e triste. Começou uma nevasca. O líder certamente estava correto: o ancião não conseguia acompanhar a escalada vigorosa e rápida. A tempestade se intensificou e por mais de uma vez precisaram parar para carregar o idoso rabino. Leve como era, transformava-se agora em um grande fardo, retardando todo o grupo. Mais de uma vez discutiram sobre se deveriam abandoná-lo.
Era uma da manhã quando chegaram à cabana, que àquelas alturas, estava parcialmente enterrada na neve. Podiam aspirar o cheiro e sentir o calor do fogo que vinha da choupana. Esperaram o soldado sair. Parecia que nunca iria acontecer. Um momento depois, o soldado saiu. Congelados quase até a morte, o grupo fugitivo jogou-se dentro da cabana, cada qual tentando aproximar as mãos e pés gelados do fogo.
O idoso rabino afastou-se do grupo. Abriu uma pequena bolsa e tirou uma chanukiyá pequena e enferrujada. Então tomou de um pedaço de cordão, enrolou-o como pavio e começou a acender a chanukiyá com um pouco de azeite de uma garrafinha que miraculosamente tinha com ele. Aquilo que estava acontecendo colocou todos numa espécie de transe. Não se podia ouvir uma única palavra ou um único som. Fascinados, todos observavam o rabino.
Numa voz quase inaudível, o rabino recitou as bênçãos para o acendimento da chanukiyá, pegou-a e a colocou próxima à janela da choupana. Então acendeu a chanukiyá e começou a entoar uma antiga canção judia, "Maoz Tsur - Rocha dos Tempos," que fala dos milagres de D'us para Seu povo.
Como um vulcão em erupção, o líder foi sacudido de seu estupor e gritou: "Apague esta luz! Você atrairá o soldado russo de volta para cá. Seremos todos apanhados e mortos".
O rabino tentou explicar que era a primeira noite de Chanucá e que havia acendido a luz para cumprir o mandamento de rememorar o milagre de Chanucá. "Não," disse o rabino. Ele não apagaria a chama. "Ela deve arder por meia hora, conforme manda a antiga Lei Judaica."
De repente a porta da cabana abriu-se. Um soldado alto portando uma metralhadora gritou para o grupo sobressaltado que pusesse as mãos para cima.
O soldado russo aproximou-se do velho rabino, contemplou a chanukiyá e disse-lhe em russo: "Também sou judeu. Já faz seis anos que não vejo uma chanukiyá". Beijou a barba do rabino e irrompeu em lágrimas.
O soldado começou a dizer ao grupo: "Depois que saí da cabana lembrei-me de repente que havia deixado alguns relatórios numa gaveta. Ao voltar, vi uma luz que saía daqui. Não podia acreditar em meus olhos. E lá estava, uma chanukiyá na terra de ninguém, em meio a uma nevasca, bem na minha choupana".
O soldado disse ao grupo que eles estavam seguros e tirou uma garrafa grande de vodca, dando um pouco a cada um. Disse: "Foi bom que eu estivesse de plantão. Um outro guarda teria matado todos vocês! Venham, mostrarei como podem cruzar a fronteira. Lembre-se de mim, Rabi. Reze para que eu tenha um milagre de Chanucá e possa deixar o exército em segurança e voltar para minha família."
O grupo, abalado, porém repleto de alívio, seguiu o soldado na travessia da fronteira. De alguma forma conseguiram achar o caminho para a liberdade e então cada um seguiu seu caminho em separado. O idoso rabino foi para Israel. Contou este caso a alguns sobreviventes que, por sua vez, contaram-no a mim quando era um garotinho.
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