O mês de Av é o mais triste do calendário judaico, e Tisha BeAv, o dia mais triste. Nesse dia, os dois Templos foram destruídos, o primeiro em 586 a.C. pelos babilônios, o segundo em 70 d.C. pelos romanos.

Também é o dia em que Betar – o último reduto da revolta de Bar Kochba – caiu em 135 d.C., e no qual, um ano depois, o imperador romano Adriano reconstruiu Jerusalém como uma cidade pagã, Aelia Capitolina. Em 1492, Tisha BeAv foi o dia em que os judeus foram expulsos da Espanha.

Como os judeus sobreviveram a essas tragédias? Essa é uma das questões mais fascinantes sobre o judaísmo.

É uma lei rígida da história que as civilizações surgem, alcançam grandeza e parecem indestrutíveis, mas, no final, sucumbem e desaparecem. Apenas os judeus e o judaísmo experimentaram catástrofe após catástrofe, exílio após exílio, mas perseveraram. Cada nova derrota inspirou resiliência. Os judeus choraram, mas depois reconstruíram suas vidas, muitas vezes em lugares novos e estranhos. Mais notavelmente ainda, cada tragédia inspirou uma nova onda de criatividade.

Após a destruição do Primeiro Templo veio a renovação da Torá sob Esdras e os exilados que retornaram. Após a perda do Segundo Templo veio a grande literatura dos sábios: Midrash, Mishná e o Talmud. As Cruzadas deram origem à espiritualidade dos Chassidei Ashkenazis; a expulsão espanhola ao misticismo de Sfat.

A maior tragédia de todas em termos humanos, o Holocausto, foi seguida por meros três anos pela maior afirmação coletiva de vida em 2000 anos – o renascimento do Estado de Israel. Há algo notável nesta história, sem paralelo na história de qualquer outra nação.

Eu me lembro do momento em que estive pela primeira vez no Monte Scopus – hoje o local da Universidade Hebraica – olhando para a antiga cidade de Jerusalém, e percebi que era aqui que Rabi Akiva e seus colegas estavam, contemplando as ruínas do que havia sido o lugar mais sagrado do judaísmo. Enquanto os outros choravam, Rabi Akiva sorria.

“Por que vocês choram?” perguntou Rabi Akiva.

Eles responderam: “Como não chorar, ao ver uma raposa caminhando pelas ruínas onde uma vez havia o Kodesh HaKodashim, o Santo dos Santos?! A questão é, como você pode sorrir?”

Rabi Akiva respondeu: “Os profetas previram a destruição de Jerusalém e também previram sua reconstrução. Eu vi a primeira profecia se concretizar. Agora sei que a segunda também ocorrerá.”

Rabi Akiva compartilhava com os profetas a coragem de ter esperança. Esperança não é um mero instinto. Ela nasce da fé, a fé de que D’us existe, de que Ele cumpre Suas promessas e de que Ele perdoa. Essa esperança está contida no próprio nome que a tradição deu a este mês: Menachem Av, o mês de consolo assim como de tragédia.

Um povo que nunca perde a esperança não pode ser derrotado. O povo judeu manteve a esperança viva. A esperança mantém o povo judeu vivo.