Nossa leitura da Torá começa com o mandamento “Seja santo”, mas continua com uma série de mandamentos, incluindo proibições contra roubo, mentira, fofoca, mistura de espécies de animais, comer produtos antes que as plantas que os produzem amadureçam e fornece diretrizes para as relações no casamento, e para alimentos que comemos.

Está implícito que a santidade que a Torá exige de nós está ancorada nas rotinas da vida cotidiana, algo tangível. O Judaísmo não quer que sejamos anjos, mas sim homens e mulheres santos, pessoas que vivem em contato com a realidade material e controlam o seu envolvimento com ela, em vez de deixarem que ela os controle.

Dentro de cada elemento da existência, há uma centelha Divina. Ser santo significa procurar aproveitar essa energia Divina em vez de se envolver com a natureza material da entidade.

Temos uma tendência natural para as polaridades: ou procurar a gratificação através da indulgência nos prazeres materiais ou renunciar a eles e procurar a realização espiritual num estilo de vida ascético.

No longo prazo, entretanto, nenhuma dessas abordagens é satisfatória, nem para o homem, nem para D'us. D'us certamente não aprecia a indulgência material. E, em última análise, o homem também não está satisfeito com isso. No fundo, o homem deseja algo mais da vida do que ter seus desejos satisfeitos. Comer, beber e outros prazeres sensuais não podem proporcionar-lhe a satisfação duradoura e significativa que procura.

Por outro lado, o ascetismo também não é uma resposta. Em primeiro lugar, do ponto de vista humano, nega os instintos naturais. Cada um de nós tem um pressentimento de que se D'us não quisesse que esses instintos fossem expressos, Ele não os teria dado a nós. Se Ele quisesse que fôssemos anjos, Ele nos teria feito assim. Se Ele nos criou com corpos físicos e tendências materiais, parece óbvio que elas também fazem parte da Sua intenção.

É por isso que o ascetismo também não é aceitável para D'us. Nossos Sábios dizem que Ele criou o mundo porque desejava ter uma morada nos reinos inferiores. Em outras palavras, a dimensão material da nossa existência é um elemento integrante da Sua vontade de criar.

Por outro lado, Ele não criou a existência material por uma questão de indulgência. Ele investiu no reino material, infundindo centelhas de santidade em cada entidade material. O que Ele deseja é que descubramos essas centelhas usando as entidades materiais para Sua intenção.

Mas como o homem pode saber a intenção de D'us? Usando apenas a sua própria intuição, é uma tarefa difícil e talvez impossível. Pois somos mortais e não se pode realmente esperar que saibamos como apreciar e aproveitar a energia espiritual que Ele dotou todas as entidades.

Por essa razão, Ele nos deu a Torá. O próprio nome Torá vem da palavra horaá que significa “instrução”. A Torá é um guia que nos mostra quais entidades materiais podem ser elevadas e como podem ser refinadas. As mitsvot e proibições que ela contém nos fornecem conselhos e orientação em nossos esforços para aproveitar a Divindade presente no mundo que nos rodeia. Em particular, a ampla gama de assuntos discutidos na Parashá Kedoshim oferece orientação sobre como revelar a santidade presente num amplo espectro de atividades físicas.

Olhando para o horizonte

A fusão final do material e do espiritual virá na era da Redenção. Atualmente, sabemos que toda entidade material contém centelhas de Divindade, mas esse conhecimento é meramente intelectual. Quando olhamos para a entidade material, vemos apenas a sua forma corporal. Na era da Redenção, isso mudará, conforme afirma Maimônides: “A única ocupação do mundo inteiro será conhecer a Divindade.” A realidade material continuará a existir - não estamos falando de um mundo de almas sem corpos - mas a sua ligação com o espiritual será revelada e visível. Seremos capazes de apreciar a energia Divina que concede vida a cada criação.

Descrever a natureza da realidade que prevalecerá durante a era da Redenção não pretende apenas despertar o nosso desejo pelo advento dessa era. Em vez disso, nos fornece o potencial de antecipar essa era, vivendo as nossas vidas com esse espírito agora.

Esse esforço precipitará o florescimento desta verdade em realidade manifesta. Pois quando o homem volta sua atenção para a Divindade embutida na criação, essa Divindade se torna mais evidente e abertamente reconhecível.