Eliezer Steinman foi uma figura de destaque nos círculos literários israelenses na década de 1950. Seus contatos com o Rebe começaram quando ele estava pesquisando para escrever sua famosa série Be'er haChassidut, uma obra de muitos volumes sobre a história e filosofia do Chassidismo. Na ocasião, os chassidim que ele procurou recusaram-se a ajudar em sua pesquisa, devido à sua postura extremamente secular e anti-religiosa. O Rebe, no entanto, instruiu um chassid de Chabad que morava em Jerusalém para auxiliá-lo de todas as maneiras. Foi por intermédio deste chassid que o Rebe começou sua correspondência de muitos anos com o Sr. Steinman, no decorrer da qual o último modificou totalmente sua opinião, retratando-se publicamente de seus escritos anteriores e tornando-se um judeu religioso e praticante. Segue-se um trecho de uma carta do Rebe ao Sr. Steinman, datada a 26 de Shevat de 5716 (8 de fevereiro de 1956).
…Agradeço sua consideração em enviar-me suas obras recentes. Quanto à série Be'er ha Chassidut, gostaria de fazer os seguintes comentários…
Ao escrever sobre conceitos e escolas de pensamento em Torá, que é um ensinamento vivo, especialmente aquela parte da Torá que possui um lado claramente emocional-experimental, se alguém está escrevendo a leitores para quem estes conceitos são novos e mesmo estranhos a seu mundo, não basta o autor ler as ditas obras de Torá, estudá-las em profundidade e transmitir seu teor. Ao contrário, ele deve imergir ao máximo no espírito da Torá e na experiência dos fundadores e líderes dessas escolas. Isso deve ser ainda dobrado se a meta do autor é extrair conclusões práticas relativas à vida contemporânea.
Não o conheço pessoalmente, mas espero que você não leve a mal se eu me permitir uma sugestão: para atingir sua meta estabelecida, como você se expressa na sua introdução a Be'er haChassidut, você deveria adotar e interiorizar o modo de vida que descreve em seus livros, ou seja, a vida segundo a Torá em pensamento e prática, como explicada nas fontes de seus livros, as obras da Chassidut. Sinceridade e fé não bastam; embora sejam da máxima importância, de maneira alguma são suficientes.
Talvez você suspeite que estou dizendo isso tudo apenas para influenciar um judeu a tornar-se completamente observante de Torá e mitsvot, e dos padrões do ensinamento chassídico. De fato, eu confesso, as palavras de nossos sábios: "Uma pessoa não é suspeita de algo a menos que haja alguma verdade na suspeita", aplicam-se neste caso. No entanto, a "alguma verdade" de meu motivo inconfesso de maneira alguma deprecia a utilidade, na verdade a necessidade, daquilo que eu disse, de sua meta de transmitir os ensinamentos da Chassidut no meio de sua obra, numa maneira que é verdadeira à sua essência.
Talvez você também se surpreenda com a minha esperança de influenciar, com uma simples carta, um escritor e pensador cujo estilo de vida sem dúvida está baseado numa filosofia que está entremeada nas fibras de sua alma – a tal ponto que eu espero que o recebimento dessa carta influenciará mudanças, não somente em seu modo de pensar, como também em seu comportamento.
Meu raciocínio, porém, é que não estou sugerindo algo que seja novo ou meu mesmo, mas uma idéia muito antiga, que ao mesmo tempo é completamente nova e recria mundos todos os dias – ou seja, a Torá e suas mitsvot. E aquele que acredita numa pessoa e em seu infinito potencial – pois a alma judaica, para citar o autor do Tanya, é "literalmente uma parte do D'us acima" que é infinito – também acredita que numa única vez e num único momento, todo e cada homem pode atingir as alturas mais elevadas, independentemente de onde ele estava um momento antes. O ímpeto poderia ser nada mais que a menor matéria e a menor centelha, pois esta serve apenas para libertar os infinitos tesouros que jazem na alma do ouvinte ou do leitor.
Com estima e bênçãos,
(Assinatura do Rebe)
ב"ה
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