Você sabe por que comemos matsá em Pêssach?

Tudo começou no Egito.

“E naquele mesmo dia todas as legiões de D'us deixaram o Egito.”1 Rashi, citando o Midrash, explica: “Quando chegou a hora da redenção, D’us não atrasou o Êxodo nem por um piscar de olhos.”

De fato, eles deixaram o Egito às pressas.

“Eles assaram a massa que tiraram do Egito em bolos sem fermento, não podiam ser fermentados, pois foram expulsos do Egito e não podiam esperar.” 2

Por que eles não podiam esperar que a massa crescesse?

Você sabe quanto tempo leva para a massa crescer?

Ao longo dos anos, minha esposa ensinou muitas centenas - talvez até milhares - de mulheres a assar chalá. Sua chalá caseira é lendária em nossa comunidade. Então, um dia perguntei a ela: Quanto tempo leva para a massa crescer? Cerca de 2 horas, ela disse.

Eu não entendo. Nossos ancestrais passaram 210 anos no Egito. Eles não podiam esperar mais algumas horas? Por que a correria louca?

O pensamento convencional sugere que eles precisavam se apressar antes que os egípcios mudassem de ideia e renegassem sua oferta de liberdade.

Sério? Depois de sofrer 10 pragas devastadoras, sendo eliminados física, financeira e emocionalmente, será que os egípcios realmente iriam desejar mais problemas? Essa era uma preocupação realista?

Certamente eles foram tão espancados que mal podiam esperar para dar “boa viagem” para aqueles que tornaram suas vidas tão miseráveis. O próprio faraó era um homem quebrantado, sem mais apetite por resistência. Ele havia perdido seu próprio filho na praga devastadora final.

Então fica a pergunta, por que a pressa?

O Rebe oferece uma nova abordagem para essa questão,3 argumentando que não eram os egípcios que eram o problema — éramos nós!

D'us não estava preocupado que os egípcios pudessem ter desistido de sua oferta de libertação, mas que os próprios israelitas pudessem ter mudado de ideia.

“Melhor o diabo que você conhece…” diz o velho provérbio. Deve ter sido um salto de fé para os escravos de longa data deixar a infraestrutura do Egito e partir para um deserto desconhecido.

Posso imaginar o pensamento deles: aqui, temos um teto sobre nossas cabeças. É verdade que não há luxos, mas nos alimentamos todos os dias. O que teremos no deserto? Sem comida, sem abrigo, nem mesmo água. Teríamos que ser loucos para deixar um país estabelecido e vagar por um território desconhecido. Mesmo com todos os nossos problemas, não é melhor permanecermos aqui no Egito?

De fato, quando chegaram ao Mar Vermelho e perceberam que estavam presos, muitos clamaram para voltar ao Egito. Melhor ser um escravo vivo do que um homem livre morto, eles raciocinaram.

Então, quando chegou o momento do Êxodo, foi uma dramática janela de oportunidade. Se não o tivessem segurado com as duas mãos naquele momento, é possível que essas e outras dúvidas tivessem se insinuado e atrasado toda a experiência. Graças a D'us, eles aproveitaram a oportunidade.

Francamente, isso pode acontecer com todos nós. Acabamos ficando passivos e confortáveis em nossas pequenas escravidões e labutas diárias. Elas podem não ser ideais, mas são muito menos intimidadores do que os desafios que surgem com as novas oportunidades. Há um antigo provérbio iídiche que expressa essa ideia: “Que nunca nos acostumemos com o que podemos nos acostumar”. Com o passar do tempo, ficamos cansados, desgastados, e o que antes era intolerável torna-se aceitável demais.

Todos nós já experimentamos oportunidades perdidas em vários momentos de nossas vidas. A casa que poderíamos ter comprado, as ações que poderíamos ter adquirido, até mesmo o homem ou a mulher com quem poderíamos nos casar. Mas nós hesitamos e, como diz outro velho provérbio: “Aquele que hesita está perdido”.

Também em nossa vida judaica, devemos aproveitar as muitas oportunidades agora disponíveis para nós, que talvez não tivéssemos quando éramos mais jovens. Estudo regular da Torá, mais tempo na sinagoga, uma nova mitsvá . Há tanto a oferecer hoje que facilmente podemos compensar quaisquer oportunidades perdidas.

É preciso coragem para agarrar o momento e abraçar novas visões e horizontes. Quando a oportunidade bater, não vamos perder a chance!