Algo parece não bater. Uma pessoa vive por 80, 90 ou 100 anos para travar uma batalha interna entre sua alma divina e animal. Mas por que? Antes que a alma Divina desça em um corpo, ela estava conectada e unificada com D'us. E antes que a alma animal desça como energia da alma animal, ela tinha uma fonte superior e também estava conectada com D'us. Sua fonte agora está oculta e parece egoísta e negativa, apenas para ser inspirada pela alma Divina.

Então, qual é a questão? O que exatamente estamos realizando? Por que a alma animal teve que se tornar uma energia que potencialmente se opõe à Divindade, apenas para que a alma Divina a eleve e revele dentro dela um prazer pela santidade, transformando o mal em bem? Por que a necessidade de luta diária? E por que D'us criou a escuridão, apenas para ser elevada e transformada em luz?

A resposta está na prece quando revelamos um ahavá rabá, ou “grande amor a D'us”, quando rezamos e meditamos. Este não é um hobby paralelo para buscadores espirituais. Este é o propósito da nossa existência!

Amar a D'us “com todas as suas forças” é maior do que o amor que a alma tinha antes de descer a este mundo, e só pode ser alcançado aqui com uma alma animal, transformando-a através da prece.

Ao trabalhar com a escuridão e transformá-la em luz, não estamos apenas restaurando o que era anteriormente, mas criando algo inteiramente novo e poderoso! Especificamente, elevando a alma animal e refinando a negatividade, revelamos esse grande amor – uma qualidade que não pode ser realizada “lá em cima”! Migalê amukot mini choshech, “Ele descobre coisas profundas nas trevas”.

Este amor profundo e intenso de D'us só nasce da escuridão, do desejo e anseio de retornar à fonte, e de um profundo sentimento de “saudade” da proximidade com D'us.

Esta é a missão da alma neste mundo – refinar a negatividade da alma animal revelando este grande amor. A fonte da alma animal é tão grande, mas está oculta, e quando a verdade é revelada através da alma Divina, ela automaticamente revela esse grande amor. É como abrir uma embalagem e liberar o que está dentro; a energia está apenas esperando para ser liberada.

Isso me lembra o final das peças de teatro da escola em que eu participava quando estava no ensino médio. As cortinas se abriam e centenas de garotas vinham se amontoando apenas esperando a chance de brilhar. Quando contemplamos D'us e Sua infinita grandeza, quando pensamos no infinito amor que Ele tem por nós, então nosso amor por D'us vai se espalhando - um amor que estava esperando para ver a luz do dia.

Este conceito também esclarece o significado mais profundo do seguinte versículo da Torá: “Se um homem tem duas esposas, uma amada e outra desprezada, e elas lhe dão filhos, a amada e a desprezada, o primogênito é da desprezada. (Devarim 21:15).”

Além do significado simples do versículo, há muito simbolismo profundo. A “amada” simboliza a alma Divina, e a “desprezada” simboliza a alma animal. Mas quem tem o “filho primogênito”? Qual tem maior poder? A “desprezada”. A alma animal tem mais potencial para revelar este grande e transbordante amor de D'us. E quando você olha dessa forma, de repente, tudo aumenta.


Fonte: Maamar Ki Tihiyena Li'ish, em Likutei Torá, conforme explicado em Chassidut Mevueret, capítulos 1, 4 e 7.