O movimento chassídico inicial atribuiu profunda importância ao poder da música. “Se as palavras são a pena do coração”, ensinou Rabi Schneur Zalman de Liadi, o fundador do Chassidismo Chabad, “então a canção é a pena da alma”.

Além da robusta tradição de canções do próprio Chabad - em grande parte nigunim sem palavras -, os chassidim trouxeram canções de diversas culturas para o repertório da tradição musical de Chabad.

Há uma conexão histórica considerável entre o movimento Chabad, que se originou no que hoje é a Bielo-Rússia, o miundo sefardita. Em 1892, o rabino Shlomo Yehuda Leib Eliezerov, um chassid Chabad, foi enviado para Samarcand, no Uzbequistão, em nome da comunidade sefardita em Hebron, onde viu a necessidade de ajudar a fortalecer a comunidade judaica local de Bukharan.

Rabino Shlomo Yehudah Leib Eliezerov foi um dos primeiros emissários Chabad na Ásia Central.
Rabino Shlomo Yehudah Leib Eliezerov foi um dos primeiros emissários Chabad na Ásia Central.

Consultando o Rebe Rashab, Rabino Shalom Dovber Schneersohn de Lubavitch, ele continuou como rabino, abrindo uma yeshivá para fortalecer as fileiras de rabinos locais e shochetim. O Rebe Rashab enviou alunos adicionais para várias cidades, não apenas em Bukhara, mas também para comunidades na Geórgia, bem como em outras cidades da Ásia Central e do Cáucaso. Lá, os chassidim trabalharam em conjunto com os chachamim locais e membros da comunidade judaica local para treinar uma nova geração de líderes.

Quando a opressão antissemita da União Soviética atingiu as comunidades judaicas da Bielo-Rússia e da Ucrânia, os chassidim se refugiaram no interior soviético, mudando-se para comunidades nas montanhas do Cáucaso e na Ásia Central.

Em 7 de fevereiro de 1950, o Rabino Michoel Lipskier e sua esposa, Taibel, foram enviados a Meknes, a "Jerusalém do Marrocos", os primeiros emissários enviados pelo Rebe, Rabino Menachem Mendel Schneerson, de abençoada memória. Outros emissários logo seguiram para outras cidades no Marrocos e na vizinha Tunísia.

O Rebe costumava pedir com frequência que os emissários Chabad visitantes, líderes rabínicos locais e grupos vindos de outros países para que compartilhassem suas canções durante os farbrengens. Algumas dessas canções eram exclusivas oriundas de comunidades de outros países, como a de Purim em 1979, quando um grupo de estudantes refugiados iranianos cantou a canção “Yigdal Elokim Chai”, enquanto outras se tornaram canções permanentes de Chabad, incorporadas a seu repertório.

1. Ozreini Kel Chai

Esta canção foi apresentada pela primeira vez aos chassidim Chabad em Rosh Hashaná em 1955. Rabino Nissan Pinson, então emissário no Marrocos, cantou a canção a pedido do Rebe. Composta pelo Rabino Raphael Antebi Tabbush de Alepo, é um dos vários piyutim, hinos hebraicos, populares entre os judeus do Norte da África em Rosh Hashaná e Yom Kipur.

Rabino Nissan Pinson, uma figura pioneira na educação judaica na Tunísia, escuta alguns jovens estudantes recitarem suas aulas na yeshiva em Djerba, Tunísia (crédito: Jean Mohr / JDC).
Rabino Nissan Pinson, uma figura pioneira na educação judaica na Tunísia, escuta alguns jovens estudantes recitarem suas aulas na yeshiva em Djerba, Tunísia (crédito: Jean Mohr / JDC).

Depois que a festa acabou, quando foi permitido escrever novamente, o Rebe pediu a Pinson que escrevesse as palavras para ele. O Rebe costumava pedir que o Rabino Yeshua Hadad, um dos primeiros alunos da yeshivá Chabad em Meknes, e Rabino Aharon Tawil, da Argentina, cantassem “Ozreini Kel Chai” nos Farbrengens.

Em 1971, durante a produção do décimo primeiro álbum "Chabad Melodies" de Nichoach, o Rebe pediu que as canções sefarditas "Ozreini Kel Chai", "Atem Shalom" e "Adon Haselichot" fossem adicionadas como faixas.

Ouça o Rebe pedir ao Rabino Yeshua Hadad para cantar “Ozreini Kel Chai” em 19 de Kislev no ano 1959:

Judeus nos degraus da sinagoga em Kutaisi, 1929. (Crédito: Mark Plisetsky / Peter, o Grande Museu de Antropologia e Etnografia [Kunstkamera]).
Judeus nos degraus da sinagoga em Kutaisi, 1929. (Crédito: Mark Plisetsky / Peter, o Grande Museu de Antropologia e Etnografia [Kunstkamera]).

2. Shimu Banim (Atem Shalom)

Quando um grande grupo de refugiados soviéticos do Uzbequistão veio visitar o Rebe em 1971, ele pediu que cantassem uma melodia de Bukharan. Rabino Refael Chudidaitov, um líder da comunidade Bukharan, que ajudou a salvar milhares de refugiados da Europa Oriental durante a Segunda Guerra Mundial, liderou a música.

Veja “Atem Shalom” cantado em uma comemoração de Purim. As estrofes são lideradas por Chudidaitov.

3. Adon Haselichot

Quando chacham georgiano, Rafael Alashvili, Rabino Chefe de Kulashi, e outros refugiados soviéticos da Geórgia visitaram o Rebe pela primeira vez em 1971, ele apresentou essa música à toda a comunidade Lubavitch.

Uma das orações mais antigas de Selichot, é popularmente pronunciada pelos judeus sefarditas e mizrachi durante o mês de Elul durante os preparativos para as Grandes Festas. A versão georgiana tem um refrão único: “Quem é este e onde está Ele, este é meu D'us e eu O glorificarei!”

4. Hiney Mah Tov

“Eis como é bom e agradável quando irmãos moram juntos!” - Tehilim 133: 1

Acredita-se que a música tenha se originado na comunidade Mizrachi em Israel, onde chassidim Chabad a ouviram, possivelmente adicionando a segunda parte sem palavras na música. A música é especialmente popular durante Lag BaOmer, com o foco da festa na união e orgulho judaicos.

5. Kol Sasson, uma canção em georgiano

Uma animada canção judaica georgiana normalmente reservada para casamentos. Em 1972, o Rebe pediu a um recente imigrante da Geórgia que cantasse uma canção tradicional dos judeus georgianos

6. Ein Adir (Mipi Kel)

Uma canção popular da liturgia sefardita para as hakafot em Simchat Torá, a letra de "Ein Adir" começa com cada letra do alfabeto hebraico e compartilha o louvor a D'us, a Moshê, a Torá e ao povo judeu. O Rebe costumava se referir a essa canção como dem Sefardish’n niggun, "a melodia sefardita", e pediu que fosse cantada em várias ocasiões. O Rebe destacou a conexão da canção com o Rebe Anterior por meio de suas iniciativas educacionais para os judeus do norte da África e da Ásia Central, bem como a conexão da canção com Moshê e a Torá. Como tal, o Rebe pedia especialmente que fosse entoada em Shavuot ou Simchat Torá.

7. Lechatchila Ariber ( Nigun do Rebe Maharash)

Esta melodia Chabad clássica, associada ao quarto Lubavitcher Rebe, Rabino Shmuel Schneersohn de Lubavitch, conhecido como Maharash, é sem palavras, com um nome iídiche, mas origens sefarditas.

A canção é popularmente conhecida como Lechatchila Ariber, em homenagem a uma expressão usada pelo Maharash: “O mundo diz que se você não pode rastejar por baixo de um obstáculo, tente pular por cima dele. No entanto, eu digo, lechatchila ariber - salte por cima em primeiro lugar! " a música também foi chamada Nigun Ein Tzvei Drei Fir, "Um, Dois, Três, Quatro", após a prática de contar até quatro durante a segunda estrofe, bem como Nigun Ein Sof, "Sem Fim", após a prática de repetir a terceira estrofe várias vezes. Às vezes, o Rebe encorajava os chasidim a repetir essa estrofe até dez ou vinte vezes.

O Maharash compartilhou que a canção foi inspirada por uma composição impressa no final da obra Hon Ashir, um comentário sobre a Mishná feito pelo famoso cabalista italiano Immanuel Chai Ricchi, mais conhecido por sua obra Mishnat Chassidim.

A música, composta por Ricchi, é um indicativo único do mundo de onde Ricchi veio. Judeu italiano de espanhola nascido em 1688, Ricchi passou parte de sua vida em Alepo, Jerusalém e Safed, antes de retornar à Itália. Ricchi viajava com frequência para vender seus livros nos centros da vida judaica da época, incluindo Izmir, Thessaloniki, Amsterdam e Londres.

Seu trabalho, Mishnat Chasidim, é citado como uma fonte importante do pensamento chassídico Chabad.

Assista o Rebe encorajar o canto de Lechatchila Ariber:


Shamil

Esta canção, embora não seja de origem sefardita, é originária do mundo muçulmano e é de particular interesse. Ensinada pelo Rebe em Simchat Torá de 1958, a canção é atribuída ao líder muçulmano Avar Shamil do atual Daguestão, Rússia. Sua estrutura melódica é única - subindo, descendo e, em seguida, subindo outra oitava ao longo de uma música muito curta.

Conforme relatado pelo Rebe, Shamil e seus guerreiros travaram uma batalha contra o exército czarista. Incapazes de derrotar os valentes guerreiros em batalha, os líderes do exército russo propuseram um falso tratado de paz e, assim, conseguiram fazê-los depor as armas. Imediatamente depois, os russos atraíram Shamil e o colocaram sob a forma de prisão domiciliar.

Shamil, líder muçulmano, do atual Daguestão, Rússia (crédito: Andrey Denyer).
Shamil, líder muçulmano, do atual Daguestão, Rússia (crédito: Andrey Denyer).

Olhando pela janela, Shamil refletiu sobre seus dias de liberdade no passado. Em seu atual exílio e impotência, ele lamentou sua situação e ansiava por sua posição anterior de liberdade e fortuna. Ele se consolou, entretanto, sabendo que eventualmente seria libertado de sua prisão e retornaria à sua posição com ainda mais poder e glória. Ele expressou esses pensamentos nesta melodia melancólica e saudosa.

A moral, como relatou o Rebe, é que a alma desce do céu a este mundo, vestida com o corpo terreno de um ser humano. As vestimentas físicas da alma aqui são realmente sua cela de prisão, pois ela anseia constantemente por realizações espirituais e celestiais. A alma se esforça para se libertar do "exílio" do corpo humano e de seus prazeres terrenos, dirigindo seu ser físico para os caminhos iluminados e vivos da Torá e mitsvot.

Assista “Shamil” sendo entoada enquanto o Rebe distribuia “cóz shel brachá”, “vinho de bênção” após Pêssach, em 1990.


udeus montanheses da região de Kavkaz descansando após um dia de trabalho.
udeus montanheses da região de Kavkaz descansando após um dia de trabalho.