Pergunta:

Meu filho recém tornou-se um adolescente e há pouco ganhou um celular onde está descobrindo o vasto mundo da mídia social. Ele é bastante protetor da sua privacidade e da sua independência, e ficaria horrorizado ao pensar que eu estou “vigiando” seus acessos e escolhas, mas não acho que ele tenha maturidade o suficiente para navegar neste mar que inunda o mundo de coisas positivas, mas também de muito lixo. Posso entrar secretamente em suas contas e monitorar suas comunicações?

Resposta:

Pela sua pergunta, parece que você conhece as armadilhas da mídia social e está simplesmente perguntando sobre o aspecto ético – se é errado ler a comunicação particular de um menor sob os seus cuidados. Em última análise, a meta não é flagrar erros; é impedir que ocorra, em primeiro lugar, comportamento inadequado. Portanto eu me pergunto se observar secretamente será eficaz nesse aspecto, já que você somente irá descobrir alguma coisa imprópria depois que acontecer.

Além disso, alguns especialistas alertam que há casos quando ficar por trás do filho sem seu conhecimento pode ter potencialmente um impacto negativo por si mesmo se o filho descobrir. Obviamente, toda situação e todo filho é diferente, mas todos os ângulos e resultados precisam ser considerados quando se aborda a extremamente importante tarefa de assegurar que se deixarmos nossos filhos ficar ligados na Internet e na mídia social, isso seja feito numa maneira segura fisicamente, emocionalmente e espiritualmente.

Não há dúvida de que os pais não apenas são permitidos, mas têm uma responsabilidade e obrigação de ficar de olho naquilo que seus filhos estão fazendo. Isso obviamente inclui o que eles estão fazendo na Internet, para saber o que estão lendo e quais influências estão entrando em suas mentes.

Quando se trata de mídia social, no entanto, há uma pergunta adicional. Nas redes sociais, geralmente há duas (ou mais) pessoas se comunicando entre si. Então não pode haver essa questão de manter um olho nas ações de seu próprio filho e ler aquilo que ele mesmo escreve (mais uma vez, esse artigo não é sobre como alguém deveria ver isso sob uma perspectiva paterna), ler as comunicações de outros para eles é potencialmente problemático.

A Proibição de Rabeinu Gershom

Talvez o mais antigo rabino proeminente do Judaísmo Askenazita tenha sido Rabeinu Gershon (960-1040 EC), que é conhecido por instalar diversas proibições e regulamentos comunais, como proibir poligamia (entre os askenazitas). Uma das proibições mais conhecidas é “não olhar para uma carta que um amigo enviou para outro, sem seu conhecimento. Se for descartada, é permitido.”1

Algumas das razões para essa proibição são:

  1. Não olhamos para a correspondência alheia para que não cheguemos a revelar fofoca ou um segredo, como seria rechilut (mexerico proibido).2
  2. Ler os escritos de outra pessoa sem permissão é como pegar algo emprestado sem permissão, uma forma de furto.3
  3. É incompatível com o ensinamento rabínico, “Não faça aos outros aquilo que você não quer que (seja feito) a você.”4

Ao contrário de outras ordens de Rabeinu Gershon, que eram apenas para o Judaísmo Askenazita, esta foi aceita por todos os judeus e é considerada válida tanto para judeus Sefaraditas como Askenazitas.5

Permissão Implícita

Se o motivo para essa proibição é que ler correspondência particular é semelhante a roubar (a segunda razão mencionada acima), então ler comunicação de seu filho, que é um membro da sua família e está sob seus cuidados, seria permitido.6

O raciocínio por trás disso é a regra geral de que quando alguém dá um item para a guarda de seu filho, ele está, pelo menos implicitamente, dando-a também aos seus cuidados.7

No entanto, pode-se argumentar que especialmente num exemplo onde alguém estava enviando coisas impróprias ou potencialmente prejudiciais ou negativas ao seu filho, ele especificamente não permite nem deseja que você (ou qualquer outra pessoa) veja esta comunicação.

Portanto, seria quase como uma pegada: em uma situação em que você sente que é mais importante ler as comunicações de seu filho, esse seria o caso em que a suposição é que você não pode ler a mensagem!

Invalidando Impropriedade

Muitos dizem que o principal da ordem de Rabeinu Gershon era distanciar as pessoas de potencial erro e impropriedade. Assim, é inconcebível que a promulgação pretendia permanecer em vigor mesmo em uma situação em que isso permitiria e levaria à impropriedade.8

Portanto é considerado que a pessoa deveria ter permissão de olhar as comunicações nas mídias sociais a fim de evitar qualquer dano ou impropriedade. Ao mesmo tempo, é preciso afirmar que mesmo quando é permitido olhar para a correspondência, todas as regras e restrições sobre revelar informação privada ainda se aplicam.9

Além disso, se houver uma maneira de cumprir a mesma meta sem olhar para a correspondência, a pessoa deveria se esforçar para tomar aquele caminho.10

Para ilustrar, Rabino Yaakov Hagiz (1620-1674), em resposta à pergunta de ler carta de alguém que poderia resultar em dano ou vergonha para alguém se isso fosse atingir seu devido destinatário, escreveu: “Se você a abrir, pode transgredir a ordem [de Rabeinu Gershom); se você a der ao destinatário, isso pode causar dano; se você a devolver ao remetente, eles podem apenas enviar outra carta. Assim, não há outro recurso exceto destruir a carta e atirá-la ao vento ou no mar.”11

Está claro que alguém deveria penas “desconsiderar” a proibição de olhar para a correspondência de outra pessoa ou invadir sua privacidade em caso de grande necessidade.