A fala difere do pensamento numa maneira dramática: as palavras viajam do interior pessoal do falante até o mundo externo, público do falante. Os pensamentos de uma pessoa existem apenas em sua própria mente, até serem traduzidos em comunicação verbal e chegarem a uma existência separada.1

A fala é extremamente poderosa. Os seres humanos, ao contrário do restante da criação, são dotados com a capacidade de construir bondade e gentileza no mundo através das palavras. Podemos pronunciar palavras de amor, de bondade, de amizade, de conforto, de alegria. Muitas formas de fala são consideradas sagradas, como a prece, leitura da Torá e estudo, bênçãos, palavras de consolo. Mas devido ao forte poder das nossas palavras, elas também podem ser usadas para criar tremenda destruição.

Quantas vezes você responde com fúria ou impetuosamente, e então desejou que pudesse trazer suas palavras de volta? Quantas vezes você teve de se desculpar, quando teria sido muito mais fácil apenas se tivesse ficado em silêncio? Por outro lado, quantas vezes você mordeu os lábios para não replicar, e então notou que não responder livrou você de uma cena terrível?

Aqui estão quatro citações dos nossos sábios que nos ensinam sobre o poder das nossas palavras e a importância de sermos cuidadosos com elas.

O Zohar ensina: “Aquele que cuidadosamente se protege contra se entregar à fúria e evita quaisquer discussões, merece que seu lar seja comparado ao Templo Sagrado.”2 Para conseguir aumentar a paz em nosso lar, precisamos falar calmamente e com bondade.

O Rei Solomon diz: “Uma resposta gentil manda embora a ira, mas uma palavra dura alimenta a fúria.”3 “Palavras gentis têm mais força que aumentos de indignação.”4 Mesmo quando precisamos criticar, é mais eficaz se for sem fúria.

Controlar nossa raiva é benéfico em todo plano. Não apenas assegura que nossos relacionamentos humanos neste mundo irão melhorar, mas garante um relacionamento mais próximo com D'us como ensina o Talmud “O mundo inteiro existe somente pelo mérito da pessoa que restringe suas palavras na hora de uma discussão.”5

É um teste verdadeiro. Aqueles que são capazes de controlar suas emoções, aqueles que podem ser tentados e mesmo assim se restringem, são fortes como o sol. Aqueles que não respondem de volta, que são interiormente quietos em meio ao conflito, que não se tornam furiosos, vão merecer atingir um nível muito alto de proximidade com D'us.

O ato de “remover” suas emoções será espelhado no futuro por D'us, quando Ele vai remover os escudos que O estão escondendo do nosso mundo, quando Ele Se revela ao mundo, aqueles que se controlaram vão sentir um grau mais elevado de revelação.

A Arte do Silêncio

Embora o caminho mais certo para um lar pacífico seja a bondade, a segunda característica mais importante necessária para atingir paz no lar – na verdade, para beneficiar qualquer relacionamento pessoal – é tornar-se proficiente na arte do silêncio.

Há algumas vezes em que você sente que não pode ser gentil com seu cônjuge ou seu amigo. Bem, se você não pode ser gentil, então fique quieto! Com frequência tem sido destacado que as letras da palavra “escute” (em inglês) podem ser rearranjadas para escrever “silente” – um lembrete que para fazer o primeiro, a pessoa tem de ser o segundo.

Aqui estão quatro citações dos nossos sábios para a efetividade do silêncio:

  1. Nossos sábios dizem, “Shimon [Ben Gamliel] disse: ‘Todos os meus dias eu tenho sido criado entre os sábios e não encontrei nada melhor para o corpo do que o silêncio;… aquele que é profuso de palavras causa pecado.’”6
  2. O Talmud declara: “A fala vale uma moeda, mas o silêncio vale duas.”7 Nossas palavras deveriam ser ainda mais preciosas para nós do que nossas moedas, e deveríamos ser ainda mais cautelosos na maneira como as usamos.
  3. O Talmud recomenda que busquemos o silêncio durante toda a nossa vida: “Qual é a tarefa do homem no mundo? Tornar-se silente.”8 Para fazer isso, podemos precisar agir como se fôssemos surdos. A meta é controlar nossa reação a determinadas declarações, nos comportar como se não as tivéssemos ouvido.
  4. Os Salmos dizem: “Na verdade, em silêncio fala a justiça; julgue elevadamente os filhos dos homens.”9 Como alguém pode falar em silêncio? Pensando primeiro e considerando a importância das palavras que estamos trazendo ao mundo.

Com frequência, nosso ponto mais fraco é atingido por meio da fala. Quando algumas pessoas dizem coisas certas sobre nós, somos fortemente tentados a nos defender respondendo numa maneira semelhante, ou geralmente pior. Nosso ego é ativado, e fica difícil controlar nossa língua.

O silêncio pode criar uma entrada através daquela barreira de palavras. Através daquela passagem, permitimos que D'us e o amor entrem em nossos corações. Quando pausamos e escolhemos ouvir em vez de falar, com um comportamento humilde e compaixão em nossos olhos e linguagem corporal, mostramos que nos importamos com aquilo que nosso parceiro tem a dizer.

O Livro dos Profetas registra uma história milagrosa sobre Elijah, o profeta e seu encontro com a Sagrada Presença. Elijah fugiu para o Monte Sinai quando sentiu que seus esforços para levar o povo judeu de volta a D'us estavam falhando. Ali, D'usfalou com ele e lhe disse para ficar perante Ele na montanha. Enquanto Elijah fica no alto da montanha, um vento poderoso passa, seguido por um violento terremoto e então um fogo abrasador. Mas “D'us não estava no vento,” nem no terremoto, nem no fogo. Finalmente, após todos os bombásticos eventos, veio “uma voz calma, baixa.”10

E naquela voz calma estava a presença de D'us.

A história parece vir para nos ensinar que se Elijah tivesse falado mais quietamente, o povo teria ouvido. Quando somos silentes, podemos ouvir aquela voz de D'us. Quando escolhemos falar menos, podemos escutar mais. Aquele que dominou a arte do silêncio saberá quando falar e quando ficar quieto.