Meu querido filho,

Agora que você emergiu um pouco e reentrou na minha vida em Yom Kipur, eu gostaria de compartilhar algumas palavras com você quando começamos a festa de Sucot.

No dia sagrado de Yom Kipur percebi como você deve ter se sentido solitário, sozinho dentro de mim por todos esses anos. Quando o abençoo, meu filho, passo a entender que você é a parte mais pura de mim. Você é o meu melhor. Que pena eu não ter reconhecido isso antes. Em Yom Kipur entrei em contato com você – e que deleite. Você é tão lindo. Eu apenas queria lhe dizer isso. Você não é culpado por todos os problemas que passou anos atrás. Você não é mau, mesmo quando coisas más foram feitas a você.

Em Yom Kipur, apelei a você: por favor, me perdoe. Perdoe-me por ignorar você. Perdoe-me por não nutrir você. Perdoe minhas iniquidades. Seja bondoso comigo à medida que tento ser bondoso com você. Assim como o perdoei por ter se escondido de mim todo esse tempo, causando-me grande angústia, por favor me perdoe.

Em Yom Kipur somos reapresentados um ao outro. Agora, em Sucot, quero celebrar com você. Faz tanto tempo. Tanto, tanto tempo. Durante anos tenho fugido, tentando me esconder, tentando me acalmar. E o tempo todo você estava ali – esperando para ser acalmado, esperando ser amado e abraçado incondicionalmente. Se pelo menos eu soubesse  disso antes e tivesse respondido aos seus clamores você teria me acalmado mais do que qualquer pessoa ou qualquer coisa jamais poderia.

Mas agora, vamos compensar o tempo perdido e vamos celebrar juntos. E quando é melhor fazer isso do que em Sucot?

Durante anos pensei que a melhor maneira de criar segurança era construindo para nós uma casa cara. Acumulei móveis e outros pertences materiais. Construí capital e promovi festas de luxo. Viajamos a lugares exóticos e visitamos as ilhas mais lindas. Eu sentia que esse era o caminho para o sucesso; a única maneira de nos manter seguros.

Como eu estava errado...

Durante o tempo todo você tentava sussurrar para mim que você via nossa estrutura não como um palácio em expansão, mas como uma masmorra, uma casa sem vida. Todos os moveis caros e detalhes elaborados eram, para você, ostentações para distrair. Tudo que você queria era um lar caloroso como um abrigo. E quando sussurrar não funcionava, você agia, chutando e gritando. Eu não entendia e dispensava sua frustração como qualquer outro ataque imaturo, refletindo um aspecto abominável de mim mesmo. Em vez de enxergar isso como um pedido de ajuda eu não apenas ignorava você; na verdade punia você ainda mais gritando e deixando-o de lado novamente. Estou tão arrependido.

Agora em Sucot, entendo a superficial falta de permanência de nossas estruturas feitas pelo homem. À medida que saímos das paredes estáticas para dentro da pequena Sucá feita à mão, entendo aquilo que você realmente preza: a beleza interior de um lar simples – simples e comum, mas repleto com um brilho interior e que se torna vivo quando nossa família entoa melodias à noite.

É isso que você queria o tempo todo: uma Sucá calorosa e receptiva, em vez de uma fortaleza. Portanto agora, quero convidar você ao abraço da nossa Sucá. Vamos entrar nessa cabana portátil e nos abrigar em suas Protetoras “nuvens de glória”, cercado pelas asas Divinas que se abrem do alto quando nos sentamos na Sucá da “sombra da fé”. Você sempre me chamou, em silêncio ou com som, para reintegrar você em minha vida.

Recusei, pensando que eu era suficientemente esperto para saber o que fazer. Você me disse que buscava integridade; buscava algo puro para amar. Em vez disso, fui seduzido por coisas externas – pelo glamour, status, dinheiro e as opiniões dos outros.

Verdade seja dita, eu não tinha ideia de que você existia, mesmo quando você me enviava sinais diários que tomavam a forma de desconfiança – de mim mesmo e dos outros, relacionamentos egoístas e não saudáveis, intimidades fabricadas. Tenho levado uma vida fragmentada a fim de sobreviver; repartindo a fim de funcionar. Ignorando as vozes mais profundas vindas de dentro, a necessidade de uma vida simples, amando e sendo amado, sem todas as cortinas de fumaça camuflando o que realmente importa.

Agora em Sucot, quando seguramos as quatro espécies como somente uma, quero me reconectar com você inteiro, com todas as suas partes – não importa se elas têm um sabor ou cheiro, um ou outro, ambos ou nenhum.

Já tive estilhaços suficientes em minha vida. Agora quero apenas descansar minha cabeça, e permitir que você descanse a sua, em paz, nós dois como um só.

Sim, meu querido filho, sinto a sua falta, talvez mais do que você sente a minha. Amo você. Realmente amo. Você inteiro. Quero você em minha vida, e espero que você me queira na sua. Farei minha parte adulta. Criarei um lindo lar para você. Saiba sempre que você é desejado e necessário. Saiba sempre que você tem um local seguro em meu lar, em minha vida – em meu coração, e na minha alma.

Por favor, dê-me uma chance de provar isto. Usarei todas as minhas forças para sempre proteger você. Neste Sucot venha sentar ao meu lado em nossa nuvem calorosa e reconfortante. Permita que minha Sucá o abrace. Deixe que as quatro espécies se integrem a você. Cantaremos juntos, talvez dancemos um pouco, e nos reaproximaremos.
Já estava na hora.
Oh, como sinto a sua falta.
Com o amor mais profundo.