De todas as festas, Sucot com certeza é aquela que fala mais poderosamente ao nosso tempo. Kohelet quase poderia ter sido escrito no século Vinte e Um. Aqui está o supremo sucesso, o homem que tem tudo – as casas, os carros, as roupas, as mulheres, a inveja de todos os homens – que tem buscado tudo que este mundo pode oferecer desde prazer a posses, de poder à sabedoria e que mesmo assim, pesquisando a totalidade de sua vida, somente pode dizer na verdade: “Sem sentido, sem sentido, tudo é sem sentido.”

A falha de Kokelet para encontrar significado está diretamente relacionada com sua obsessão com o “eu” e o “Mim”: “Eu construí para mim mesmo, eu juntei para mim mesmo, adquiri para mim mesmo.” Quanto mais ele persegue seus desejos, mais vazia se torna sua vida. Não há crítica mais poderosa da sociedade de consumo, cujo ídolo é o ser, cujo ícone é o “selfie” e cujo código de moral é “Tudo trabalha para você.” Esta é a sociedade que atingiu afluência sem precedentes, dando às pessoas mais escolhas do que jamais souberam, e ao mesmo tempo viram um aumento sem precedentes no abuso de álcool e drogas, desordens alimentares, síndromes relacionadas com estresse, depressão, tentativas de suicídio e suicídio real. Uma sociedade de turistas, não peregrinos, não é uma que vai transmitir o senso de uma vida digna de ser vivida. De todas as coisas que as pessoas escolheram venerar, o eu é a menos realizadora. Uma cultura de narcisismo logo dá lugar à solidão e desespero.

Kohelet também foi, é claro, um cosmopolita: um homem em casa em toda parte e portanto em nenhum lugar. Este é o homem que teve setecentas mulheres e trezentas concubinas, mas no final podia apenas dizer: “Mais amarga que a morte é a mulher.” Deveria ficar claro para todo aquele que ler isso no contexto da vida de Salomão, que Kohelet não está realmente falando sobre mulheres, mas sobre ele mesmo.

No final Kohelet encontra significado em coisas simples. Doce é o sono de um homem trabalhador. Aprecie a vida com a mulher que ama. Coma, beba e aprecie o sol. Aquele em última análise é o significado de Sucot como um todo. É uma festa de coisas simples. É, judaicamente, o tempo em que nos aproximamos mais da natureza, sentando numa cabana com somente folhas por teto, segurando nas mãos frutos não processados e folhagem da palmeira, frutos cítricos, ramos de murta e folhas de salgueiro. É uma época em que brevemente nos liberamos dos sofisticados prazeres da cidade e dos artefatos processados de uma era tecnológica e recuperamos um pouco da inocência que tínhamos quando jovens, quando o mundo ainda tinha a radiância da maravilha.

O poder de Sucot é que nos leva de volta às raízes mais elementares do nosso ser. Você não precisa morar em um palácio para estar cercado por nuvens de glória. Não precisa ser rico para comprar as mesmas folhas e frutos que um bilionário usa para reverenciar D'us. Habitar na sucá e convidar pessoas para sua refeição, você descobre – esta é a premissa de Ushpizin, os convidados místicos – que as pessoas que vieram visitar você são ninguém menos que Abraham, Isaac e Jacob e suas esposas. O que torna uma cabana mais bonita que uma casa é que quando chega Sucot não há diferença entre o mais rico dos ricos e o mais pobre dos pobres. Somos todos estrangeiros na terra, moradores temporários no universo quase eterno de D'us. E se somos ou não capazes de ter prazer, se temos ou não encontrado felicidade, mesmo assim podemos todos sentir alegria.

Sucot é a época em que fazemos a pergunta mais profunda sobre o que faz a vida digna de ser vivida. Tendo rezado em Rosh Hashaná e Yom Kipur para ser inscrito no Livro da Vida, Kohelet nos força a lembrar como na verdade a vida é breve, e quão vulnerável. Ensina-nos a numerar nossos dias para que possamos ter um coração de sabedoria. O que importa agora não é quanto tempo vivemos, mas quão intensamente sentimos que a vida é um presente que retribuímos dando aos outros.

Júbilo , o supremo tema da festa, é o que sentimos quando sabemos que é um privilégio simplesmente estar vivo, inalando a intoxicante beleza deste momento entre a profusão da natureza, a enorme diversidade da vida e o senso de comunhão com aqueles muitos outros com quem partilhamos uma história e uma esperança.

Mais majestosamente que tudo, Sucot é a festa da insegurança. É o cândido reconhecimento de que não há vida sem risco, porém podemos encarar o futuro sem medo quando sabemos que não estamos sozinhos. D'us está conosco, na chuva que traz bênçãos sobre a terra, no amor que trouxe o universo e nós à vida, e na força de espírito que permitiu a um povo pequeno e vulnerável sobreviver aos maiores impérios que o mundo jamais conheceu. Sucot nos lembra que a glória de D'us estava presente no pequeno Tabernáculo portátil que Moshê e os israelitas construíram no deserto ainda mais enfaticamente que no Templo de Salomão com toda sua grandeza.

Um Templo pode ser destruído. Mas uma sucá, quebrada, pode ser reconstruída amanhã. Segurança não é algo que podemos adquirir fisicamente mas é algo que podemos adquirir mental, psicológica e espiritualmente. Tudo que é preciso é coragem e a vontade de sentar-se sob a sombra das asas protetoras de D'us.
Desejo a vocês um Chag Sameach e bênçãos contínuas para o ano todo.