Médicos israelenses tratam de refugiados sírios e afirmam: “não existem fronteiras na medicina”
Por Emily Rose
Publicado por Ruajudaica.com
Enquanto o exército do presidente sírio, Bashar al-Assad, faz uma campanha sangrenta para retomar o distrito de Daraa, milhares de civis deslocados estão correndo em direção à fronteira de Israel, onde uma força de segurança improvável, as Forças de Defesa de Israel (IDF), estão fornecendo ajuda humanitária e tratamento médico.
Esta semana, a IDF anunciou que seis sírios, quatro dos quais são crianças, foram levados para Israel para tratamento médico. Enquanto a maioria dos refugiados que chegam às fronteiras de Israel são tratados no local ou em hospitais ao norte de Israel, casos mais graves são levados para o Sheba Medical Center, em Tel Hashomer.
Um dos sírios trazidos era uma menina de dez anos, que sobreviveu milagrosamente a um bombardeio que causou a destruição de um prédio. A irmã da menina foi morta na explosão e seu irmão e pai estão sendo tratados em um local desconhecido na Síria.
A mãe da criança, de dez anos, foi orientada a levá-la à fronteira de Israel, onde ela poderia obter os cuidados necessários para salvar a vida de sua filha. A criança sofreu grandes lesões no peito e na cabeça, foi atendida em um hospital de campanha, mas precisou de tratamento mais avançado.
O Dr. Itai Pessach, vice-diretor do hospital infantil, Edmond e Lily Safra, no Sheba Medical Center está cuidando da menina. Em entrevista a i24NEWS, ele falou sobre como presta socorro aos refugiados sírios e sobre o trabalho do hospital, que vai muito além das fronteiras.
“Recebemos um telefonema do exército israelense de que havia uma criança em estado grave, em Daraa, que precisava de cuidados urgentes. Nós nos aproximamos do diretor geral do hospital, que nos afirmou que não haveria limites quando se tem uma vida em risco. Então, chamamos nossa equipe de enfermagem, explicamos a situação e imediatamente reunimos um grupo de voluntários que concordaram em participar desta grande ajuda”, disse Pessach.
A equipe também recolheu suprimentos e ajuda para a mãe da menina, que chegou apenas com as roupas do corpo.
"Eu acho que, como uma nação, temos a posição moral de ajudar qualquer outra nação que precise de nós. Este hospital, em particular, é um lugar onde não há fronteiras e uma criança é uma criança, não importa onde ela nasceu ou o seu passado”, completou. Pessach explicou que a mãe da menina chegou desorientada, que não falava a língua e que jamais tinha visto um centro médico como este.
Como a Síria e Israel não têm relações diplomáticas (os dois países tecnicamente permanecem em estado de guerra), a mãe síria nunca conheceu israelenses.
Para o Dr. Pessach, trabalhar com refugiados sírios tem um significado pessoal.
"Para mim, pessoalmente, é uma situação muito especial. Meu pai morreu durante a guerra do Yom Kippur, nas colinas de Golã, lutando na Síria. Tratar pacientes vindo de lá, para mim, é como se eu estivesse fechando um círculo e mudando a relação entre as nações. Somos países que lutam entre si, mas somos capazes de nos ajudar e apoiar os seres humanos onde eles estiverem”, completou. “Espero que isso sirva para trazer a nossa capacidade de vivermos juntos e em paz. Então, é uma experiência muito forte para todos nós, de ambos os lados", acrescentou.
Quanto ao destino desses refugiados, eles muitas vezes preferem voltar para a Síria, mesmo que não tenham certeza de seu futuro lá.
"Não damos alta para o paciente, antes de ter a certeza de que estão em perfeitas condições de retornar para um ambiente que permitirá sua recuperação completa. Para essa criança, por exemplo, a recuperação será mais demorada”, disse Pessach.
“Não vamos apenas checar a situação do ferido e os mandar de volta para um lugar onde não temos certeza, mas, às vezes a decisão da família é de simplesmente voltar, pois estão longe de casa e isso é muito difícil para eles", destacou Pessach.
"A menina está reagindo bem ao tratamento e esperamos que ela se recupere logo e seja capaz de retornar à sua vida normal de criança”, disse Pessach à iNEWS.
O hospital se prepara para receber mais refugiados, à medida que a situação se intensifica na Síria.
A violenta campanha para retomar Daraa, que começou em 19 de junho, já expulsou cerca de 270 mil civis de suas casas a um ritmo chocante, segundo informou a agência de refugiados da ONU (UNHCR), esta semana.
Mais de 350.000 pessoas foram mortas na Síria desde o início da guerra em 2011, com a brutal repressão de protestos contra o governo.
* Emily Rose é correspondente júnior do Oriente Médio da i24NEWS.
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