Baseado nos ensinamentos do Rebe
A mitsvá de Chanuca consiste em acender luz. Como originamos luz? Pegamos azeite, madeira ou outro material similar, ou seja, algo físico e o esquentamos até que ele perca sua condição corpórea e comece a iluminar todo seu redor.
A origem do preceito de acender as Luzes de Chanuca ocorreu com o acendimento das luzes do Candelabro – a Menorá – no Templo sagrado em Jerusalém. Alí, todas as noites se acendia a Menorá. Com a profanação do Templo, não foi encontrado azeite puro, selado pelo Cohen Hagadol para acender a Menorá. Mas D’us realizou um milagre e foi achado um único recipiente com azeite puro que duraria por apenas um dia, mas esta quantidade ardeu por oito dias. Em lembrança a este milagre acendemos as Luzes da Chanukia, ao longo de oito dias da duração da festa.
Apesar das Luzes de Chanuca se originarem das Luzes do Beit Hamicdash, elas se diferenciam em vários aspectos:
- A quantidade de chamas acesas no Beit Hamicdash era sempre a mesma; mas em Chanuca acrescentamos em cada uma das noites uma luz adicional.
- O acendimento do Beit Hamicdash era feito exclusivamente de dia, ao entardecer, quando ainda havia luz; mas em Chanuca acendemos somente após o pôr do sol.
- As Luzes do Beit Hamicdash estavam dentro do Santuário; enquanto que a mitsvá de acender as Luzes de Chanuca consiste em colocá-las “na entrada da casa, para fora”.
- Na época que acendiam a Menorá no Mishcan, santuário ‘portátil’, e na época do Beit Hamicdash, os judeus não tinham carência material. Principalmente na época do Mishcan, no deserto, eles tinham todas suas necessidades atendidas – o man que caia do céu, a água da fonte de Miriam, as roupas cresciam com eles e se mantinham sempre limpas – e similar era a situação dos judeus na época do Rei Salomão, na época de seu reinado, quando então havia paz e tranquilidade. Espiritualmente, o cenário era similar, e o judeu entregava-se por completo ao estudo da Torá e cumprimento das mitsvot.
- Em contraste, as Luzes de Chanuca vinculam-se com a época em que a Terra de Israel estava submetida ao império greco-sirio e o exército judeu se compunha de apenas um número reduzido de homens. O contexto espiritual era análogo, pois não dispunham de azeite puro nem sequer por uma noite.
Todas as diferenças mencionadas vinculam-se entre si. Enquanto as circunstâncias materiais são favoráveis, também são as espirituais; pois quando possui bens, o judeu doa para questões espirituais com mão aberta e generosa. Em semelhantes condições, não é necessário lutar, nem entregar a vida (messirut nefesh, auto sacrificar-se). É suficiente esforçar-se dia-a-dia na mesma medida, e não é necessário acrescentar, pois tudo se desenrola com naturalidade. Também não é essencial empenhar-se para iluminar “para fora”, já que o mundo não se encontra dominado pela escuridão.
Mas, em tempos difíceis, em épocas de conflito quando não só se luta contra os helenistas, mas também com os judeus helenizados, pois naquela época, para eles, a própria identidade judaica não era algo importante e preferiram assimilar-se; em uma situação complexa como esta, D’us prescreveu o acendimento das Luzes de Chanuca. Em semelhante circunstâncias é crucial a entrega incondicional a D’us (messirut nefesh).
Em tempos assim, não basta iluminar o próprio lar, pois na rua reina a escuridão e esta escuridão parece penetrar nas nossas casas. Portanto é mais do que necessário esforçar-se para iluminar também “para fora”. Acendemos essas Luzes quando já escureceu e as colocamos precisamente junto da porta de entrada com o propósito de iluminar “para fora”.
Não basta que a pessoa acenda as velas sobre a mesa onde come, ou sobre um móvel e abra a porta de sua casa para que a luz também chegue à rua. Também não basta acender a mesma quantidade de luzes que se acendeu na noite anterior, pois a pessoa não deve contentar-se com seu nível espiritual e manter-se no mesmo estado da noite passada; mas deve tratar de ascender permanentemente.
Quando a penumbra é densa, a escuridão da rua não deve nos afetar. Ao contrário! Devemos iluminar a rua e incrementar a luz a cada dia ao nosso redor. Não devemos nos conformar com a medida de luz que irradiamos no dia anterior. Mas que a incrementemos todos os dias. Uma luz hoje, duas amanhã e assim sucessivamente. Se já ao princípio começássemos com muitas luzes, não poderíamos dar semelhante salto de uma vez. Damos início com uma única luz, porém já pré dispostos a acender duas amanha, três no outro dia e assim por diante.
Não podemos nos conformar em produzir luz somente para nossos lares e esperar que a mesma chegue por si só à rua. É preciso esforço para iluminar a rua.
Um milagre deve sempre transcender os limites da natureza. Se alguém nos olha com “olhos tortos”, não devemos nos afetar, mas agir ao contrário, colocando em prática nossa missão. Reconhecermos conscientemente de que ele é um “embaixador” do Todo Poderoso cuja missão é “esquentar” a matéria que compõe “sua porção” neste mundo físico, até chegar ao grau de que esta ilumine seu próprio interior e o mundo ao seu redor.
A estratégia para completar esta missão é não contentar-se com o que conquistou ontem e aumentar todos os dias. E quando incorporamos este estilo de serviço não nos contentamos em iluminar a nós mesmos e não nos conformamos com o que fizemos até agora; temos a promessa da Torá de que finalmente na “rua” haverá Luz, uma Luz que irá se incrementando, até que encontremos o azeite puro para acender a Menora no Beit Hamicdash novamente.
Que seja em breve!
Faça um Comentário