Publicado em Tor@Mail
Inspirado em dvar Torá do Rabino Tuvia Bolton
de Kfar Chabad - Israel

Começamos 'Bamidbar', o quarto livro da Torá. "Bamidbar" significa "No deserto." Como sabemos, um deserto é um lugar perigoso e desolado. Por isso, aparentemente, não é apropriado como nome para uma porção da Torá, quanto mais num dos cinco livros de Moshé.  

Centenas de anos atrás, em uma cidade portuária longe de Israel, vivia um judeu rico e influente, que vamos chamar de Yaakov (seu se sabe seu nome ao certo).  

Ele havia nascido numa família pobre e sua infância foi passada na pobreza. Com três anos de idade seus pais o enviaram para uma escola com estudos de Torá, mas ele tinha uma mente simples e não conseguia realmente entender o que estava escrito nos livros. O único livro que fazia algum sentido para ele era o livro de oração: o Sidur. Lá, ele entendia o significado simples da maioria das rezas. Mas o que lhe faltava em erudição, lhe sobrava em bom caráter. Tinha bom coração, honestidade e generosidade, conseguindo muitos amigos. E era trabalhador.  

Assim que ele teve idade suficiente para trabalhar tornou-se açougueiro, abriu seu prórpio negócio com o sucesso que obtinha e em pouco tempo sua reputação espalhou-se até que chegando aos ouvidos do duque o agradou muito e este cedeu-lhe o direito de cobrar pedágio e impostos de todos os navios que atracavam no porto da cidade.  

Yaakov tornou-se um homem rico com a comissão desses impostos, mas ele sempre foi honesto, nunca esqueceu suas raízes humildes e estava sempre pronto para ajudar alguém em necessidade, judeus e não-judeus.  

Certa vez, um grande navio de carga entrou nas docas e, depois de Yaakov rotineiramente recolher os pedágios e impostos, o capitão, um homem corpulento e de aparência grosseira o levou para traz de algumas caixas onde ninguém poderia vê-los, piscou para ele e perguntou quase num sussurro se ele queria comprar algo precioso.  

"O quê?" Yaakov respondeu.  

"Eu não posso te dizer.", Respondeu o capitão, "Mas eu garanto que você vai gostar e não vai se arrepender de ter comprado."  

"Eu não posso comprar algo antes de vê-lo.", Disse Yaakov. "Diga-me o que é e quanto você quer."  

"O que é, eu já te disse que eu não dizer. Quanto? "O capitão revirou os olhos, bateu os dedos de ambas as mãos, olhou para Yaakov e disse:"Dez mil moedas de ouro!"  

Yaakov deu um passo para trás. "Dez mil !? Isso é uma fortuna! Quem pagaria uma fortuna por um gato num saco! Eu quero ver o que você tem para vender ou esqueça!” Yaakov já estava pensando consigo mesmo que deveria ser roubo, drogas ou contrabando. Mas estava curioso.

"Não! Você não pode vê-lo.", Disse o capitão. "Mas eu posso dizer-lhe que, se você não comprá-lo agora eu vou jogá-lo no mar e nunca mais vou vendê-lo para você."  

Yaakov tornou-se ainda mais curioso. Impulsivamente, estendeu a mão para aceitar  e disse: "Tudo bem! Eu vou pagar. Você tem minha palavra. Apenas mostre-me o que você tem e eu vou dar-lhe o dinheiro, dez mil moedas de ouro."

O capitão olhou Yaakov diretamente nos olhos e arrogantemente declarou. "Eu disse que não vou mostrá-lo até que eu tenha o dinheiro aqui!", e apontou para a palma da mão aberta."Agora, eu não vou vendê-lo para você a menos que você me dê vinte mil!"

Yaakov ficou chocado, mas sendo um empresário experiente, não demonstrou. "Que bom!", Disse. "Bem! Vou dar-lhe vinte mil. Mas primeiro eu quero ver o que é.  

"Agora eu não vou mesmo vendê-lo a menos que você me dê QUARENTA MIL! E eu não lhe mostrarei nada!", O capitão quase gritou. "E se você não pagar" .... ele moveu seu rosto perto de Yaakov e sussurrou: "Então eu vou jogá-lo ao mar."  

Yaakov quase virou as costas para ir embora. Mas algo em seu coração disse-lhe para ficar. O capitão estava dobrando o preço cada vez que ele pedia para ver o que era, então não se atreveu a perguntar novamente. Ele deixou escapar:  

"Bem, eu vou pagar! Pagarei os quarenta mil."

"Você tem uma hora ... não! Meia hora! Mas estou avisando, se eu vê-lo chegando com a polícia eu vou dar a ordem para jogá-lo no mar!  E você nunca vai vê-lo. Mas eu garanto que você vai ficar muito contente". 

Yaakov correu para casa, pegou o dinheiro e em poucos minutos estava de volta no navio. “Agora, traga-me o que eu comprei!"

O capitão riu de modo vil. "Ha,ha ha! Apenas espere aqui um minuto e o que você comprou vai andar aqui sobre duas pernas!"

Ele desceu os degraus do navio rindo e conversando em voz alta o tempo todo. Depois de alguns momentos, da parte inferior da escada veio o som de correntes de ferro se arrastando pelo chão. O som ficou mais alto, até que através da porta aberta surgiram várias pessoas! Curvadas, magras, arrastando-se com o rosto inexpressivo, dezenas, talvez centenas delas, com roupas sujas, rasgadas, penduradas em seus corpos esqueléticos. Escravos!

Em poucos minutos, duas centenas de judeus; homens, mulheres e crianças estavam diante dele. Eles haviam sido capturados pelo capitão e sua tripulação pirata e Yaakov os salvou.

O capitão deu um sinal e os seus homens começaram a soltar as correntes, então ele virou-se para Yaakov, piscou e disse: "Bem, meu amigo, o que você acha? Talvez você se arrependa de ter pago tanto? Ehhh? Ha, ha! Bem, você deve saber que eu teria jogado todos eles no mar! O grupo inteiro malcheiroso! Eu não tinha como encontrar alguém para comprá-los. Eles estavam lá por um mês. Eu não podia mais suportar a visão deles".

Yaakov levou-os para fora do navio, os trouxe para sua casa, onde ele deu ordens para cuidar deles e, em seguida, correu para o castelo do duque para tentar prender os piratas. Mas quando os homens do duque chegaram às docas os piratas já tinham escapado para o mar aberto.

Yaakov deu aos cativos tudo o que precisavam, incluindo médicos e remédios, até que, gradualmente, ele ouviu sua história triste. O capitão e seus piratas atacaram sua cidade, queimaram e destruiram tudo, mataram todos os anciãos e as crianças e sequestrou os que eles acharam que poderiam vender como escravos. Durante semanas, eles estavam no porão escuro e abafado do navio, com apenas água e pão duro para mantê-los vivos. Depois de vários meses Yaakov conheceu todos eles e até conseguiu empregos e casas. Ele ficou muito bem impressionado com uma menina modesta de 18 anos de idade, excepcionalmente temente a D'us inteligente, agradável e uma combinação perfeita para o seu filho mais velho.

Quando falou com ela sobre isso, ela corou com gratidão e humildade e tentou dizer como poderia alguém como ela, sem família e sem dinheiro ser cogitada, por uma pessoa tão rica e nobre, como esposa para o seu próprio filho. Mas Yaakov percebeu que ao mesmo tempo ela sentia-se lisonjeada com a oferta. Ele lhe deu um belo colar para mostrar que estava falando sério e depois de algumas reuniões com o filho ela aceitou a oferta e os preparativos alegres começaram.

Dois meses mais tarde, o salão do casamento foi decorado, convidados vieram de perto e de longe, ricos e pobres, judeus e não judeus. O duque e sua família receberam um lugar especial de honra, assim como as duas centenas de cativos que tinham se recuperado completamente de sua provação. Todo mundo queria fazer parte desta alegria. A banda estava tocando, as mesas e o humor de toda a multidão estava exultante.

Yaakov refletia pura felicidade, enquanto se movia entre os convidados. Então ele percebeu que um dos prisioneiros resgatados sorriu somente quando viu que Yaakov estava olhando para ele. Mas ele parecia triste. Ele era um homem jovem em seus vinte anos e seu rosto sombrio se destacava na atmosfera alegre. Yaakov pensou que ou ele estava doente, ou talvez ele estava pensando em sua família e amigos que tinham sido mortos pelos piratas ou ainda estava em choque pelas grandes mudanças.

 Ele se aproximou dele e perguntou se estava tudo bem. Mas o jovem simplesmente olhou para cima e começou a chorar para que ele não pudesse responder.

Yaakov esperou até que ele se acalmasse e voltou a perguntar se havia alguma coisa que ele poderia fazer por ele, mas o rapaz simplesmente secou os olhos, pediu desculpas e disse que estava tudo bem. Mas Yaakov, após vários minutos de insistência e questionamento, finalmente conseguiu que ele revelasse a verdade.

"Na aldeia onde vivíamos antes dos piratas chegarem, a noiva de hoje à noite e eu tinhamos concordado que depois que tivéssemos dinheiro suficiente nos casariamos. Mas, em seguida, os piratas vieram e tudo mudou. Mas isso é tudo passado. É a forma que D'us queria. Agora que ambos devemos nossas vidas a você. Se não fosse por você estaríamos todos mortos. E o seu filho é uma pessoa tão boa e eu vejo que ela gosta dele. Tenho certeza de que será um bom casamento. Então, por favor, não preste atenção às minhas lágrimas, elas também são lágrimas de felicidade".

Yaakov pensou por um momento e, em seguida, decidiu testar o jovem; ele ofereceu-lhe uma fortuna se ele estivesse disposto a procurar outra noiva. "Afinal vocês eram jovens e a sua decisão de se casar não tinha muito fundamento. Com esse dinheiro você estaria preparado para a vida".

Mas o jovem respondeu. "Se me fosse dada escolha, eu não a trocaria por todo o dinheiro do mundo, mas agora eu sou tão grato a você que estou feliz que ela vai se casar com o seu filho! É de bom grado que renuncio a ela de graça. "

Yaakov foi para o seu filho, explicou toda a história e seu filho declarou que não queria de modo algum cancelar o casamento! Pelo contrário, a ocasião deveria continuar exatamente como planejada… mas com um noivo diferente. Então, no auge das festividades, pouco antes da cerimônia de casamento, Yaakov subiu sobre uma mesa, pediu silêncio, e anunciou que este era o momento mais feliz da sua vida.

 Não só porque ele viu que todo o sacrifício que tinha feito tinha dado frutos, mas ainda mais; porque viu que seu filho também estava disposto a desistir de tudo pelos outros.

Isto responde a nossa pergunta: por que usar um nome negativo como "no deserto" para um dos livros da Torá? Que lição positiva que isso nos revela hoje?

O mundo é como um deserto; desolado de significado e vazio de bênção. Os maiores cientistas, filósofos e professores, após investigação minuciosa, contemplação e investigação concluíram que o universo inteiro, incluindo o homem, é nada mais que um bando de causas e efeitos. E as várias religiões do mundo, basicamente, concordam, apenas adicionando as dimensões espirituais da alma.

Mas o Judaísmo ensina de forma diferente: no momento em que D'us outorgou a Torá a Moshê no Monte Sinai, e ele ao povo judeu e a humanidade, esse mundo físico ganhou um sentido e foi abençoado, muito mais até que as alturas mais elevadas. Porque somente nesse mundo cada um de nós cumprir a vontade de D'us estudando a Torá e cumprindo com os Seus mandamentos. “Ame ao próximo como a ti mesmo”.