Por Rabi Simon Jacobson
Um dos maiores desafios na vida é lidar com a descida que inevitavelmente se segue à cada altura inspiradora. Podemos chamar de “o dia após a síndrome” (não posso resistir a “pairar acima da síndrome”, mais provocativa). Num momento, estamos inspirados, motivados, elevados a grandes alturas, e então voltamos às nossas atividades “regulares” de todos os dias.
Esta é a questão e o desafio que enfrentamos ao chegar no final da época das Festas. O mês de Tishrei, rico em feriados, é um tempo de saturação espiritual. Rosh Hashaná, Yom Kipur e Sucot nos elevam em suas asas e nos ajudam a reconectar com nosso chamado mais alto e a ter acesso aos mais profundos recessos da nossa alma.
Mas então chega a conclusão da festa, Shemini Atseret e Simchat Torá, quando a “corrida” termina. Quando aterrissamos (suavemente, esperamos) do voo alto de Tishrei surge o grande dilema: iremos – e como podemos – adquirir o poder de manter a inspiração? Inspiração é relativamente fácil; difícil é mantê-la.
Começando antes de Rosh Hashaná enderecei mensagem a “criança interior” (e a “criança exterior” também) – a parte mais pura de cada alma. Em Yom Kipur nos conectamos com nosso inocência – nossa “criança interior” – e em Sucot abraçamos a criança num gesto caloroso, abrangente (Meu Querido Filho). Eis aqui outra abordagem, Cartas ao Meu Filho, escritas antes de Shemini Atseret e Simchat Torá, quando concluímos a época de festas antes de reentrar na nossa rotina diária.
Meu querido filho,
Eu sei, meu querido filho, que estamos chegando ao final das festas e você está com medo do que vem aí. Ou talvez você esteja aliviado porque o “show” terminou.
Sei o que você pode estar pensando e temendo. Durante as festas eu lhe dei alguma atenção. Celebrei com você. Mas agora, quando volto ao trabalho e às minhas obrigações diárias, vou me esquecer de você e ignorar você. Você será condenado a retornar àquela solitária masmorra sua, seu local secreto, na qual não deixa ninguém entrar. Portanto, deixe-me lhe dizer algo, meu lindo filho. O motivo pelo qual a época das festas termina com Shemini Atseret e Simchat Torá é exatamente para abordar sua profunda preocupação.
Vamos ler juntos um Rashi (Rashi é o clássico comentarista bíblico escrito para explicar Torá a uma criança). Por que Shemini Atseret tem esse nome? Explica Rashi (Levítico 23:36), que Atseret significa “retenção”, D'us nos retém por um dia. E Rashi usa uma parábola para explicar por quê: Havia um rei que convidou seus filhos para um banquete de muitos dias. Quando chegou a hora de eles irem, o rei disse a eles: “Meus filhos, por favor, fiquem comigo mais um dia – sua partida é difícil para mim…”
Após passar pela renovação de Rosh Hashaná, a inocência de Yom Kipur e o abraço de celebração em Sucot, você, meu filho, está preocupado com a mesma coisa com a qual D'us está preocupado: sua partida é difícil para mim. Portanto temos mais um dia [dois dias fora de Israel] para celebrarmos juntos. Um dia para nos dar mais força para permanecermos conectados o ano inteiro.
Portanto, meu filho, vamos usar plenamente este dia.
Vamos dançar juntos. É Simchat Torá. Os Rolos de Torá estão todos embrulhados. Não há distinção entre erudito e leigo, entre intelectual e simplório, entre adulto e criança. Sim, meu filho, vamos dançar. Livres dos nossos fantasmas, não atormentados por nossa mente,a por nossas ansiedades, não restringidos pelos nossos limites, não inibidos pelos nossos temores.
Dance, Dance livremente. Esqueça suas dores por um momento, e segure minha mão.
Em Simchat Torá dou a você, meu filho – uma aliya – uma elevação. Todos nós adultos chamaremos nossos filhos – kol há’neorim – e deixaremos que eles nos elevem junto com eles. Durante o ano todo os adultos controlam o universo, ou assim eles pensam. Todos nós criaturas vulneráveis, todos nossos suaves filhos, somos vitimas de viver num mundo adulto.
Em Simchat Torá o mundo é das crianças, Simchat Torá é o dia da criança. Nesse dia todos os adultos vivem num mundo da criança. As mentes nos separam. As mentes de um adulto e de uma criança são diferentes. Mas nossas pernas nos unem. Dançamos como um só. Com as mãos acenando livremente, e os corações elevados, erguemos nossos pés, subindo um pouco acima do chão. Ajude-me, meu filho, a desafiar a gravidade. Sua leveza vai elevar meu espírito dançante. O peso da terra me trouxe para baixo, e arrastou você comigo. Agora quero elevar você – e permitir que você me eleve – em meus braços.
Dance. Esse dia não vem com frequência.
Meu filho, por favor, fique comigo mais um dia, sua partida é difícil para mim.
Nunca mais quero me separar de você...
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