A Maior Festa na Antiga Israel

Desde o tempo em que o Rei Salomão construiu o Templo em Jerusalém até o dia em que foi destruído pelos romanos (com um breve período de exílio temporário na Babilônia), o evento imperdível do ano para os judeus era a Celebração da Retirada das Águas.

Imagine fluxos de famílias judias — agricultores, vinicultores, pastores, comerciantes, artesãos e estudiosos — vindo de todas as partes de Israel, Síria, Babilônia, Egito e outras terras vizinhas, convergindo para Jerusalém e celebrando dia e noite, sem parar, por oito dias. O ponto alto, é claro, era o Monte do Templo.

No final do primeiro dia de Sucot, trabalhadores do Templo rapidamente começavam a inserir postes robustos em seus suportes nas paredes do pátio do Templo. Sobre os postes, eles colocavam tábuas de madeira, criando arquibancadas para que as mulheres pudessem ficar nas arquibancadas superiores, com os homens abaixo — a tradicional mechitzá (divisória) das sinagogas.

Meninos carregando tochas subiam escadas escalando candelabros altos, para acender os grossos pavios das enormes lanternas dos candelabros, de modo que toda Jerusalém era iluminada como se fosse dia.

Os mais ilustres sábios, como Raban Shimon ben Gamliel, que presidia o Sanhedrin, o Supremo Tribunal dos setenta anciãos, faziam malabarismos com oito tochas flamejantes — e nunca uma tocha tocava na outra. Os Cohanim começavam a soar suas trombetas, os Levi’im tocavam flautas, liras, címbalos e todos os tipos de instrumentos em uma música estrondosa e celestial, enquanto todas as pessoas se uniam em canções.

O espetáculo mais maravilhoso de todos era a visão dos anciãos distintos, com suas longas barbas brancas, cantando em altos brados, dançando com enorme entusiasmo, realizando acrobacias e malabarismo.

“Se você nunca assistiu a celebração da retirada das águas”, dizia o Rabino Yehoshua ben Levi, “você nunca viu uma celebração em sua vida.”

Retirando Água, Retirando Inspiração Divina

Dançavam e celebravam até o amanhecer. Então vinha o derramar das águas.

O que há de tão emocionante em derramar água? Não podemos compreender. Essa é uma daquelas coisas que você precisava estar lá para entender.

Água fresca era retirada de uma nascente chamada Mayan Hashiloach, nas proximidades e Jerusalém. À medida que os frascos de água eram trazidos pelo Portão da Água do Templo, as trombetas soavam e a festaa começava.

Em uma manhã comum, a oferta no Templo consistia na carne de uma ovelha acompanhada de uma mistura de farinha e óleo, ambos lançados ao fogo do altar, juntamente com um frasco de vinho derramado por um cohen no canto do altar.

Mas, nos dias de Sucot, havia outro frasco, cheio dessa água recém-extraída do Mayan Hashiloach, derramada pelo mesmo cohen, junto com o frasco de vinho.

É por isso que a celebração foi chamada de Simchat Beit Hashoevá השואבה בית שמחת — literalmente, "A Celebração da Casa da Retirada de Água". Mesmo que as pessoas não participassem diretamente da retirada da água, e isso não acontecesse no Templo, elas retiravam algo mais ali.

Aqui está uma passagem do Talmud de Jerusalém:

O Rabino Yehoshua ben Levi disse: “Você sabe por que foi chamada de 'A Celebração da Casa da Retirada de Água?' Porque dali retiravam inspiração Divina.”

O Rabino Yoná disse: “O profeta Yoná ben Amitai era um dos peregrinos do feriado ao Templo. Ele entrou em Simchat Beit Hashoevá e o espírito Divino repousou sobre ele.”

Com isso entendemos que o espírito divino só repousa sobre um coração alegre. Conforme diz o versículo: “Assim que o músico começou a tocar, o espírito de D'us repousou sobre o profeta.”

Após as ofertas da manhã, as orações comunitárias, as bênçãos sacerdotais, as ofertas adicionais e mais preces e bênçãos sacerdotais, as pessoas iam para as salas de estudo para revisar seus conhecimentos de Torá e ouvir as palestras dos grandes estudiosos. Depois, retornavam às casas em Jerusalém para festejar, cantar e celebrar mais ao retornarem ao Monte do Templo para as ofertas da tarde, seguidas, mais uma vez, de uma noite de música, espetáculos e celebração.

Toda noite, durante seis noites — exceto na noite de Shabat — começando assim que a oferta da tarde era completada, por cerca de 15 horas e meia, até as ofertas da manhã. Como dizia o Rabino Yehoshua ben Chananya: “Nossos olhos nunca viram o sono.”

“Mas como isso é possível?” pergunta o Talmud. “Uma pessoa não pode ficar sem dormir por mais de três dias!”

E o Talmud responde: “Eles devem ter cochilado de vez em quando nos ombros uns dos outros enquanto estavam de pé.”

Celebração Renovada

Apesar da destruição do Templo pelos romanos, muitos judeus continuaram a fazer uma espécie de lembrança da celebração da retirada da água, reunindo-se em Sucot para cantar e contar histórias. Sucot sempre foi o mais alegre dos festivais — três vezes a Torá repete que um judeu deve se alegrar e trazer outros para alegrar-se em Sucot.

Um Relato

Então veio Sucot do ano hebraico 5741 —outono de 1980 — no Brooklyn, N.Y. Na primeira noite de Sucot daquele ano, no grande salão da sinagoga da sede mundial de Chabad-Lubavitch, no 770 Eastern Parkway, o Rebe se dirigiu à multidão após as orações da noite.

O Rebe falou sobre Simchat Beit Hashoevá. Ele estava explicando como a celebração só começava no Templo na segunda noite — porque não podiam usar instrumentos musicais em Yom Tov. Ele continuou explicando como, quando não há Templo e não há orquestra nem o cântico dos leviim, temos na verdade uma certa vantagem, porque a celebração pode começar na primeira noite. Podemos cantar e dançar acompanhados apenas por nossas vozes. E alguns entenderam que isso era o que deviam fazer.

Assim, cerca de dez pessoas começaram a dançar em círculo em frente ao prédio. Eventualmente, continuaram cantando pela Kingston Ave., a rua principal do bairro. Pessoas saíram de suas sucot para se juntar. Eles foram dançando pelas ruas do bairro, reunindo mais e mais pessoas até que várias centenas de judeus alegres e cantando se encontraram no cruzamento das ruas Kingston e Montgomery, onde uma falha nos semáforos havia atraído alguns carros da polícia. Felizes por contarem com proteção, centenas de judeus continuaram dançando e cantando até o amanhecer.

Na noite seguinte, o Rebe falou novamente. Ele estava obviamente muito satisfeito. “Se você quer encontrar D'us neste Sucot,” ele disse, “você O encontrará dançando nas ruas.”

Uma nova instituição da vida judaica nasceu — de certa forma, renasceu. Desde então, todos os anos, judeus vêm de todas as partes de Nova York e da área tri-estadual para cantar e dançar com algumas das melhores bandas judaicas em Simchat Beit Hashoevá, na esquina da Kingston com a Montgomery. Um pequeno sabor da celebração no Templo havia retornado.

Naquele ano e nos anos seguintes até 1991, o Rebe falava publicamente todas as noites de Sucot. Um tema comum dessas palestras era o Ushpiz — o convidado especial para a Sucá naquela noite.

Cada noite de Sucot, nos diz o Zohar, um grupo de convidados especiais chega a cada Sucá, cada noite liderado por um membro diferente do grupo, começando com Avraham, nosso Patriarca, e terminando com David, o Rei de Israel.

O Rebe abordava outra tradição que o Rebe anterior, seu sogro, Rabi Yosef Yitzchak Schneersohn, de abençoada memória, havia revelado — que há também um grupo de Ushpizin chassídicos. Em cada palestra, o Rebe discutia as semelhanças e diferenças entre o Ushpiz do Zohar daquela noite e o Ushpiz chassídico, e, o mais importante, o que precisamos aprender com eles em nossos tempos.

“Onde quer que um judeu esteja, ele ou ela tem uma missão sagrada: a de carregar nas ruas a luz da celebração da Sucá.”