Doar um órgão a uma outra pessoa, embora seja uma expressão de bondade, é um assunto complicado conforme a lei judaica. Doações entre pessoas vivas são geralmente permitidas, desde que o destinatário esteja pronto para receber o órgão imediatamente (o que exclui bancos de órgãos), e o doador não sacrifique ou coloque em risco a sua própria vida e bem-estar no processo.

Os problemas haláchicos começam quando o doador se encontra à beira da morte, ou já tenha falecido, pois muitos órgãos não podem ser transplantados uma vez que tenha ocorrido a morte do doador. A lei judaica proíbe tocar em uma pessoa que está prestes a morrer ou fazer qualquer coisa que possa causar ou acelerar o seu falecimento. Em tal caso, é proibido tocar a pessoa ou mesmo remover um travesseiro.

No que diz respeito a transplantes de órgãos após a morte, é preciso lidar com proibições da Lei Judaica tais como Nivul Hamet - mutilar o corpo de um falecido; Halanat Hamet - atrasar o enterro de um corpo; e Hana'at Hamet - obter qualquer benefício a partir de um morto, seja a venda ou doação do mesmo para pesquisas.

Uma terceira situação é alguém que é mantido vivo artificialmente e cujo tronco cerebral é considerado morto clinicamente. Neste caso, uma pessoa aparentemente não têm de lidar com as questões proibidas anteriormente de antecipar a morte ou de interferir com o morto. A pessoa parece estar suspensa entre a vida e a morte, enquanto as máquinas mantiverem-se ligadas..

Com efeito, as autoridades rabínicas contemporâneas traçam uma diferença entre uma pessoa que está "oficialmente morta" daquela que está "na eminência de falecer." Alguns rabinos afirmam que a morte do tronco cerebral é considerada "morte oficial" e pode-se, assim, operá-la a fim de remover os órgãos necessários para o transplante, uma vez que o estado de morte já tenha sido estabelecido (mas não antes disso). Em relação a proibições contra atrasar o enterro e assim por diante, esses rabinos apontam a lei de que salvar uma vida se sobrepõe a maioria das proibições da Torá.

Outros rabinos discordam veementemente estabelecendo que uma pessoa é considerada viva “até que o sopro da vida deixe os seus lábios”. Portanto, é proibido mexer com o corpo. Na opinião deles, qualquer tipo de mutilação é imperdoável e interfere com o descanso e paz eterna da alma.

Como podemos notar, fica claro que a doação de órgãos não é uma questão simples. Todas as dúvidas devem ser esclarecidas com a orientação de um rabino competente e especializado nessa área da lei judaica, para que cada um possa agir de acordo com a Torá em respeito a pessoa falecida ou na iminência de sua morte.