Fisicamente, o nascimento é uma ocorrência única; espiritualmente, é um processo contínuo.

Nascimento é vida. Fisicamente, é uma ocorrência que traz uma preciosa vida humana nova a este mundo. Espiritualmente, o nascimento é um processo contínuo através do qual aprendemos a ser realmente vivos.

A Torá nos adverte contra os perigos de negligenciar o papel fundamental que o nascimento tem em nossa vida diária; “Não deverá haver mulher que perde seu filho ou seja infértil em sua terra; eu preencherei o número de seus dias.” (Êxodus 23:26).

Num nível simples, este versículo está transmitindo bênçãos por saúde e longevidade. No entanto, num nível espiritual mais profundo, pode, lê-los como instrução ou aviso.

Se o nascimento – vida – é o estado de ser que queremos alcançar, então a infertilidade, seu oposto, é aquilo que queremos evitar. A infertilidade pode resultar de um problema com um órgão reprodutor ou de um desvio nos processos de concepção, impregnação ou gestação. No primeiro, até o potencial para nascimento não existe. No último, o potencial está ali, mas por algum motivo não funciona.
…o nascimento se refere a emoções que nascem da união de dois intelectos.

Segundo a Cabalá, a mãe e o pai são dois componentes separados do intelecto, enquanto o nascimento se refere às emoções que nascem da união de dois intelectos. Em outras palavras, para ficar empolgado com algo, primeiro tenho de pensar naquilo. Então, há um período de gestação no qual a ideia se desenvolve dentro de mim, o que envolve contemplação, meditação e integrar o conceito no meu ser. Somente então a ideia pode encontrar expressão tangível em minha vida como uma emoção que empolga e me afeta.

Quando falamos sobre infertilidade em termos espirituais, a falta de empolgação, temos dois possíveis problemas, assim como na infertilidade física. Não é possível que não haja potencial para nascimento porque o intelecto não está funcionando adequadamente. Porque estou tão cheio de mim mesmo, meu intelecto é incapaz de apreender qualquer verdade ou ser afetado sobre algo significativo fora do meu ser; vejo tudo somente à medida que é afetado pela subjetividade do meu ego. Essa infertilidade espiritual se expressa no fato de que estou imerso em meus próprios desejos. Dependendo de quão refinado eu sou, aqueles desejos podem ser positivos ou podem ser negativos – mas de qualquer modo são meus desejos, e portanto por definição são egocêntricos mesmo se forem altruístas.

Alternativamente, a infertilidade espiritual pode se expressar até quando tenho a capacidade de ser inspirado intelectualmente, mas a inspiração continua etérea e estranha para mim, e não encontra expressão em minha vida. O problema é que assim como um nascimento físico exige um Poder Mais Alto que é infinitamente maior que os pais e um período de gravidez saudável de nove meses, também o nascimento espiritual, a expressão da inspiração, exige algo além da mera atividade intelectual; requer que D'us seja convidado ao processo para garantir que o poder do milagre do nascimento está ali, e exige um período saudável de gestação, uma integração profunda e desenvolvimento da ideia que leva à sua eventual expressão e afeto. A única coisa que dura para sempre é a verdade.

Mas ainda há o potencial para mais um tipo de infertilidade – quando o nascimento ocorre mas não é um nascimento vivo. Aqui, a Torá está nos instruindo a garantir que aquilo que nasce do processo espiritual de nascimento mantém sua vitalidade e permanece vivo. A única coisa que dura para sempre é a verdade. Para que meus esforços não sejam em vão, tenho de garantir que todo o processo foi conduzido honestamente.

Meu intelecto é carente de ego, e está funcionando corretamente, e sou capaz de perceber a verdade. Não há bloqueio que impeça essas percepções de afetarem minha vida. E cuido para ser honesto comigo mesmo em cada estágio da minha jornada para que o entusiasmo permaneça comigo. Tendo atingido tudo isso, agora posso aproveitar a satisfação de que estou espiritualmente sensível e vivo – não posso?

Satisfação é o início do fim. Se estou satisfeito com o que consegui, todos os meus futuros esforços serão medidos contra minha satisfação em vez de com meu supremo potencial. E então o versículo instrui: “Eu preencherei o número de teus dias.”

Quando contemplo o fato de que D'us me criou com um objetivo em mente, e cada momento em que estou aqui mas não fazendo aquilo que posso para cumprir minha missão na vida, estou desperdiçando-a… como posso me sentir satisfeito? Como posso até encontrar tempo para pensar na minha satisfação, mesmo em termos espirituais, quando em todo momento em que não estou trabalhando na minha obrigação estou me rebelando contra o Rei?

Assim eu supero o obstáculo final para viver, garantindo que meu ego não entra no quadro desfrutando meu auto-engrandecimento. Faço minha parte, e espero pelo dia em que D'us fará a Sua, quando toda doença, tanto física quanto espiritual, será curada.