O imperador romano Adriano foi um astuto inimigo do povo judeu. Ele perseguiu cruelmente os judeus de Erets Yisrael - e de todos os países de seu reinado - e aprovou muitos decretos contra aqueles que cumpriam as mitsvot. Ele era da opinião de que a Torá estava fora de moda e, em seu lugar, os judeus deveriam aceitar suas leis e decretos.
Apesar de seu ódio pela Torá e por seus sábios, costumava debater com Rabi Yehoshua ben Chananya, pois apreciava a sabedoria do Rabi. O imperador tratava Rabi Yehoshua com respeito: nunca o predicou, até mesmo quando, em certas ocasiões, o Rabi respondia-lhe asperamente.
Um dia, Adriano decidiu que chegara o tempo de persuadir a Rabi Yehoshua ben Chananya e provar que o imperador estava certo. Folheando o livro Cohelet achou um verso que, em sua opinião, contrariava todas as reivindicações de Rabi Yehoshua.
O imperador mandou chamar imediatamente Rabi Yehoshua, apesar de ser ainda muito cedo. Quando Rabi Yehoshua chegou, Adriano deu-lhe boas-vindas com um grito vitorioso: “Desta vez, você não encontrará uma resposta Rabi Yehoshua. Você será obrigado a admitir que estou certo! Veremos se você não concordará que sou melhor e mais importante do que Moshê, seu mestre”.
Rabi Yehoshua não entendia ainda o ponto da questão; sabia que o imperador estava mal-intencionado. Não desejando aborrecê-lo desnecessariamente, perguntou-lhe de maneira cautelosa. “Por quê? O que o faz pensar assim?”
O imperador riu. “Porque estou vivo e ele está morto!” exclamou. “E, no final das contas, está escrito em um de seus livros: ‘Pois o cachorro que está vivo é melhor do que o leão que está morto’”. (Cohelet 9:4)
“E eu estou vivo, portanto, sou melhor que seu mestre Moshê, que já morreu. Portanto, você deve obedecer às minhas leis e não mais observar a Torá de Moshê.”
Rabi Yehoshua compreendeu que o imperador usaria certamente esse argumento como uma desculpa para aprovar mais decretos perversos contra o povo judeu. Ele tentaria forçá-los a se converterem exigindo que as leis reais anulassem as mitsvot da Torá. Melhor do que discutir com o imperador, Rabi Yehoshua perguntou-lhe simplesmente: “Você faria um decreto de que por três dias ninguém poderia acender um fogo na cidade de Roma?”
“Claro que sim!” - o soberbo imperador respondeu. “Não há nada mais simples do que isso”.
Imediatamente, mandou que seus mensageiros proclamassem o novo decreto por toda a cidade. “Por ordem do imperador! Ninguém poderá acender um fogo por três dias. E não deverão deixar um fogo queimando em nenhum lugar. Quem quer que viole este decreto será punido severamente!” - gritaram os mensageiros.
O povo suspirou quando ouviu o novo decreto. Eles já estavam acostumados aos decretos sem nenhum objetivo de seu soberano. Mas não ousavam desobedecê-los.
Ao anoitecer, Adriano mandou chamar novamente Rabi Yehoshua. Orgulhosamente disse: "Você vê como, instantaneamente todos os habitantes aceitaram meu decreto?”
“Muito bem", respondeu Rabi Yehoshua. "Mas talvez o imperador sinta calor neste quarto. Vamos subir ao telhado e continuar nossa conversa lá, enquanto desfrutamos da brisa fresca da noite."
O imperador aceitou a sugestão, e os dois subiram ao telhado do palácio. Rabi Yehoshua olhou atentamente para toda a cidade que se encontrava abaixo deles.
Como imaginou, viu fumaça subindo pela chaminé de uma das casa à distância. Então virou-se para Adriano e perguntou: "Qual é a razão para a fumaça que vemos? Afinal, você decretou que ninguém deveria acender um fogo em Roma por três dias. Nem mesmo um dia se passou e já vemos fumaça?"
O imperador ficou ligeiramente embaraçado, mas respondeu prontamente: "Ah, eu sei porquê. Um dos meus ministros vive lá. Sua família chamou um médico da corte, pois o ministro não se sentia bem. O médico acabou de voltar ao palácio e disse que o ministro está com uma forte gripe e é preciso que ele tome bebidas quentes. Esse é o único método com o qual ele se recuperará. Naturalmente, tiveram que acender um fogo para esquentar a água.”
“E eles pediram sua permissão?”, indagou Rabi Yehoshua.
“Não,” admitiu o imperador. "Mas, obviamente, não a teria recusado. O fogo está aceso para tratar o ministro que não pode suportar seu sofrimento!"
O imperador e Rabi Yehoshua caminharam para o outro lado do telhado. Lá, Rabi Yehoshua notou novamente fumaça saindo de uma das chaminés.
"E o que é isto?" perguntou a Adriano. "Parece que também há fogo aqui."
O imperador ficou ainda mais embaraçado. "Aquele lá? Sim, eu o vejo. Mas também sei sobre ele. Um dos governadores, subitamente, sentiu-se mal. O médico da corte visitou-o e disse que seria necessário ferver água suficiente para encher os depósitos, para aquecer o pobre homem."
"Você estabeleceu previamente que um fogo poderia ser aceso em tais circunstâncias?", perguntou Rabi Yehoshua.
O imperador não tinha uma resposta, pois imaginava que era suficiente publicar um decreto e então, se necessário, revogá-lo quando achasse conveniente.
"E você acha que você é melhor do que Moshê, nosso mestre?" gritou Rabi Yehoshua. Na Torá está escrito: 'Você não deve acender um fogo em todos seus povoamentos no Shabat'”. (Shemot 35:33)
“Desde que recebemos a Torá, através de Moshê, alguma vez um judeu jamais acendeu um fogo no Shabat, exceto por uma questão de vida ou morte? E, no caso de perigo de vida, a Torá diz: 'E você viverá por eles.’” (Vayicrá l8:5)
Deste verso aprendemos que uma pessoa pode violar o Shabat, se existir um perigo de vida - se, por exemplo, alguém estiver em estado crítico, mesmo se for um pobre, somos permitidos - na realidade, somos ordenados a violar o Shabat, mesmo para salvar um recém-nascido. Não negligenciamos o Shabat somente para ministros e governadores.”
“Seus ministros violaram sua ordem. Você não fez nenhuma menção especial em caso de perigo, e eles nem ao menos pediram sua permissão. Acenderam seus fogos, não por uma questão de vida ou morte, mas simplesmente por causa de um simples resfriado eles não obedeceram sua lei nem mesmo por um dia, enquanto a Torá de Moshê, nosso mestre, existe para sempre!"
O imperador ficou irado com Rabi Yehoshua por que este mais uma vez provou que ele estava errado. E novamente, o imperador foi forçado a admitir que não fora bem-sucedido em sua grande ostentação.
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