Disposições Morais

Todo ser humano possui diversos temperamentos, cada um distinto do outro. Há um tipo irascível e que está sempre zangado; outro é tranqüilo e quando chega a irritar-se, o faz brandamente, uma vez em muitos anos. Há indivíduos que são exageradamente arrogantes, e outros extremamente humildes. Existem ainda os sensuais, cujos desejos nunca podem ser satisfeitos, e os de coração puro, que não anseiam pelas poucas coisas que o corpo necessita. Há também os gananciosos, cuja alma não se satisfaz nem com todo o dinheiro do mundo; os frugais, que ficam contentes mesmo com uma pequena quantia. Embora não suficiente para suas necessidades. Há aqueles que se torturam pela fome – são avaros, e não consomem um centavo do que é seu, sem grande angústia. E há os que desperdiçam intencionalmente todo seu dinheiro.

Os outros temperamentos, tais como o frívolo e o melancólico, o cruel e o compassivo, o brando e o duro de coração e assim por diante, podem ser vistos de maneira similar.

Seguir qualquer um dos extremos de cada temperamento não é o caminho certo. O correto é a tendência intermediária de cada um deles, dos quais o homem é dotado. Não se deve ser uma pessoa irada, facilmente irritável, tampouco apática, que nada sente: o melhor é ficar no meio. O indivíduo deve ficar irado somente por alguma coisa grave, pela qual seja apropriado zangar-se, a fim de que tal fato não se repita.

Igualmente, não se deve cobiçar algo além daquilo que o corpo necessita, e sem o qual é impossível sobreviver. Não se deve ser miserável demais e nem esbanjar o dinheiro. A pessoa deve fazer caridade de acordo com seus recursos e emprestar àquele que necessita. Não se deve ser frívolo demais, nem demasiado triste e lamentoso; deve-se porém ser agradável, contente e cordial todos os dias da vida. O mesmo se aplica aos outros temperamentos.

A pessoa cujos temperamentos são intermediários e segue o caminho do meio é chamada de sábia.

Bom caráter e conduta ética são fatores essencias num ser humano, em seu comprimento dos preceitos Divinos. Uma pessoa deve ser escrupulosa em sua conduta, delicada ao conversar, agradável aos seus semelhantes, recebê-los de maneira afável e cortês, conduzir seus assuntos comerciais com integridade e honestidade, e dedicar-se ao estudo da Torá.

Valor da Vida Humana

Para salvar uma vida humana, todos os 613 preceitos da Torá, com exceção de três (ver abaixo) podem ser postos de lado, se necessário. Assim, se alguém está perigosamente enfermo, e os médicos asseguram que o paciente pode ser curado pelo uso de um remédio que implica a transgressão de um mandamento bíblico, este deve ser aplicado.

Onde a vida está em perigo, qualquer coisa proibida pela Torá pode ser usada para curar o paciente, exceto a prática de idolatria, incesto e assassinato. Entretanto, não se pode sacrificar uma vida humana para salvar outra, mas o Shabat pode ser profanado; comida não-casher pode ser consumida e pode-se ingerir alimentos mesmo em Yom Kipur. A base para esse princípio é a declaração escritural de que "Ele viverá por eles" (Vayicrá 18:5), que nos ensina que devemos viver pela Torá e não morrer por ela. Este princípio é aplicável não somente nos casos de perigo de vida, mas também nos de perigo em potencial.

Seguem alguns exemplos: uma mulher em trabalho de parto, e pouco depois o parto é considerado como fazendo parte da categoria dos perigosamente doentes. Todos os preceitos são suspensos, se necessário, em seu benefício. Se uma mulher morre de parto, é permitido, e até obrigatório, fazer uma cesariana no Shabat, na tentativa de salvar a criança. Mesmo que o perigo de vida não seja uma doença física, mas uma ameaça externa, como no caso de uma vítima de afogamento, ou alguém preso numa casa incendiada, deve-se fazer todo o possível para salvá-la.

A doença mental e emocional, perigosa ou potencialmente perigosa, é vista do mesmo modo que a doença física, como no caso de uma criança trancada num quarto e que pode morrer de medo se não for salva. Para resgatar alguém de um prédio que desmorona, mesmo que esteja quase morto, mas com chances de sobreviver, é permitido profanar o Shabat. Estes regulamentos indicam claramente que o valor da vida humana é ilimitado e que cada um dos seus momentos é valioso.