Por volta do século XII da era comum, cerca de 700 anos depois que o Talmud da Babilônia tinha recebido seu formato final, havia se desenvolvido uma vasta população de judeus para quem seus argumentos, muitas vezes sutis, eram inacessíveis. Sem as explicações talmúdicas, era difícil entender corretamente a linguagem condensada da Mishná.

Rabi Yitschakl Alfasi (o Rif) deu o primeiro passo para tornar as explicações mais acessíveis, selecionando opiniões autorais e a passagem legal relevante do Talmud, dispensando as discussões mais elaboradas e as seções de casos. Em seu formato final, a compilação do Rif foi uma tremenda realização – poucos eruditos tinham o conhecimento e a percepção necessária para estudar todo o material talmúdico para chegar às leis definitivas. Seguindo a mesma organização do Talmud – com suas freqüentes, às vezes abruptas mudanças de assunto – no entanto, a obra do Rif não era de fácil consulta àqueles que não eram bem versados no Talmud.

Maimônides procurou remediar esta deficiência compondo um código organizado por tópicos. Mishnê Torá, é composta de 14 livros que contêm 982 capítulos e milhares de leis. Dividiu sua obra em catorze livros, com cada livro dividido em capítulos e cada capítulo desmembrado em discussões de leis individuais.

Esforçou-se para criar um código no qual o regulamento sobre um assunto específico pudesse ser prontamente localizado. Colecionando todas as legislações bíblicas, talmúdicas e pós-talmúdicas, e destacando as opiniões mais abalizadas, ele incluiu toda a gama da Lei Judaica – mesmo aquelas leis que, segundo a tradição, não serão novamente praticadas até a Era de Mashiach (tais como as referentes aos sacrifícios no Templo). Para facilitar o acesso e a leitura, Maimônides escolheu apresentar as leis em seu código sem referência a suas fontes ou explicações de seu arrazoado (ambos foram subseqüentemente fornecidos por outros comentaristas).

Sua intenção, em resumo, foi fornecer um código de leis que, em suas palavras, permitiriam que "nenhum homem teria de recorrer a qualquer outro livro sobre qualquer assunto da Lei Judaica, mas que o compêndio conteria toda a Lei Oral". Portanto, ele decidiu chamá-la Mishnê Torá (Segundo à Torá). E de fato, a partir de sua publicação, a reação à obra foi extraordinária. Estudada e consultada por judeus de todas as partes, a Mishnê Torá logo foi aclamada como a obra mais notável da erudição judaica desde o Talmud.

Escrita em linguagem clara e cuidadosamente elaborada, tornou-se um modelo de composição sucinta e concentrada. (Comentaristas posteriores se referem à redação das obras de Maimônides como "linguagem de ouro"). Única em seu escopo, sem par em sua composição, a obra tem se mantido como o alicerce para todas as codificações da Lei Judaica desde então.

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