Pergunta:

Soube que nas sinagogas liberais mulheres já usam kipá e talit, fato completamente repelido pelos judeus ortodoxos. Por que a relutância em aceitar as mudanças dos tempos?

Resposta:

Um dos aspectos que diferencia o judaísmo de outras religiões é o fato de a prática da religião não se resumir apenas à sinagoga. O centro da vida judaica é o lar judaico e as leis do judaísmo envolvem cada passo da pessoa 24 horas por dia, sete dias por semana. À mulher judia foi dada a principal responsabilidade de manter acesa a chama do judaísmo. Isto é alcançado por meio da alimentação casher, da santidade da vida conjugal (taharat hamishpachá), da educação dos filhos desde os primeiros passos dentro do judaísmo e da iluminação espiritual das velas de Shabat e Yom Tov.

Assim se garante a continuidade de nosso povo. Uma vez que estas responsabilidades são de extrema importância, a mulher judia está isenta de certas mitsvot positivas que exigem prazo fixo para seu cumprimento, como talit e tefilin, sucá, lulav, shofar. Mesmo assim, há mitsvot que as mulheres cumprem apesar de não ordenadas; porém, a mitsvá de talit e tsitsit não devem cumprir por razões cabalísticas e por transgredir a proibição da Torá de não usar adornos masculinos.

No decorrer da história judaica encontramos a mulher judia como aquela que manteve a chama judaica dentro do povo. Ainda no Egito, as mulheres iam ao encontro de seus maridos escravizados para encorajá-los a construir uma família, e educavam seus filhos com todas as dificuldades e perseguições, dentro das mais puras tradições. Segundo nossos Sábios, por mérito das mulheres judias nosso povo foi redimido do Egito. Assim, será também pelo mérito delas que seremos redimidos do exílio atual por intermédio de Mashiach.

Ao ordenar a Moshê que transmitisse a Torá ao povo judeu, D’us lhe pediu que antes dissesse às mulheres e só depois aos homens, pois elas aceitariam mais facilmente e ainda ajudariam a convencer os homens. Quarenta dias após receber a Torá, o povo cometeu o pecado do Bezerro de Ouro sem a participação das mulheres. Quando os espiões voltaram da Terra Santa, desencorajando os judeus a entrar nela, os homens choraram, implorando para voltar para o Egito; mas as mulheres mantiveram sua fé em D’us e pediram para ter uma parte nesta Terra. E assim encontramos vários episódios em que as mulheres sempre demonstraram, naturalmente, ter mais fé do que os homens. Este é um dos motivos por que os homens receberam mais mitsvot do que as mulheres, para que sirvam de lembrete de sua fé em D’us, conforme escreveu Maimônides em seu livro de leis.

Este também é o simbolismo da kipá – constantemente a lembrar que existe Alguém acima de nossa cabeça. A mulher não precisa deste lembrete.

Sempre que surgem novas ideologias dentro do judaísmo insistindo em modificar certas leis e costumes ou mesmo deturpando-os em nome da modernidade, estas se deparam com contradições mesmo dentro de suas próprias doutrinas. Afinal, por que estes mesmos homens usam kipá, tsitsit, tefilin, rezam numa sinagoga, são chamado à Torá? Com certeza é apenas para demonstrar sua fé em D’us e unir-se a Ele por seus atos, cumprindo Sua vontade. As mitsvot são expressão da vontade Divina, porém Sua vontade só pode ser expressa através das leis na forma que Ele nos ensinou na Torá (escrita e oral – o Talmud), nas tradições judaicas mantidas por nossos ancestrais desde que Moshê os recebeu no Monte Sinai até o presente. Estas leis são Divinas e, portanto, eternas, não passíveis de mudanças como as leis feitas pelos humanos.

Assim, colocar talit ou tefilin numa mulher significa pegar um objeto que expressa a vontade Divina e usá-lo contra Sua vontade. Isto demonstra apenas que a base de toda esta teoria provém em descrer que as leis da Torá são o alicerce do judaísmo e que os mandamentos são provenientes de D’us, transmitidos no Sinai.