No fundo da minha mente, presumi ingenuamente que se existem os ingredientes certos, na ordem certa, e se você segue as instruções, o produto final será um sucesso.
Mas a vida não ocorre dessa maneira. E eu sei disso. Realmente sei. Mas mesmo assim, creio que tenho erradamente colocado um pouco de culpa no padeiro, e esquecido que o Chef manda na cozinha.
Parece que julgamos os outros, conscientemente ou não, pela maneira que nossa vida funciona. Se meu bebê dorme a noite toda, eu devo estar fazendo algo certo. Se o seu bebê chora a noite toda, você deve estar fazendo alguma coisa errada. Simples assim. Ou talvez seu bebê deve estar com frio, com calor, com fome ou então comeu demais. Você apenas não descobriu o que há de errado.
Parece que julgamos os outros, conscientemente ou não, pela maneira que nossa vida funciona. Bem a lógica funcionou bem com meu primeiro, que dormia a noite toda. Mas me deu um baile com meu segundo, que tinha cólica e chorava a noite toda. E então comecei a receber aqueles olhares estranhos das pessoas que escutavam meu bebê chorar, pois elas se perguntavam quanto tempo eu demoraria para entender o que precisava consertar.
E à medida que nossos filhos crescem, é tão fácil continuar aquela tendência. O garotinho que tem um ataque de fúria no corredor do supermercado deve precisar de uma soneca, ou então é mimado demais. Ou seja, por que outro motivo um pequenino teria tal ataque? E então na escola, se uma criança não se comporta ou não se concentra, é porque a professora ou a mãe está fazendo algo de errado.
Ora, eu acredito que a criação tem um impacto importante no crescimento da criança. E não acredito que a natureza esteja gravada na pedra. As pessoas podem mudar.
E há neuroplasticidade, provando que com o esforço correto podemos mudar – se não transformar – nossa natureza. O Judaísmo ensina que estamos constantemente lutando entre nosso yetzer tov (inclinação positiva, saudável) e com nosso yetzer hará (inclinação negativa, doentia). Tudo que fazemos é uma opção. E quanto mais estivermos bem preparados para aquela opção, mais fácil será tomar a correta.
Mas à medida que meus filhos crescem e se transformam em jovens, cheguei a uma nova conclusão sobre ser mãe. É a seguinte: ser uma boa mãe não significa que seu filho não terá probelmas. Significa que você estará mais bem preparada para lidar com aqueles problemas quando eles surgirem.
Tenho visto algumas das minhas amigas enfrentarem situações devastadoras com os filhos. Filhos que foram criados com amor, apoio, bondade, moralidade e estabilidade. Os ingredientes estavam lá. Foram misturados de maneira correta. Mas às vezes, ao longo do caminho, acontecem coisas que não podemos prever das quais não podemos proteger a nós mesmas nem aos nossos filhos. A mãe “má” não é aquela cujo filho termina fazendo a coisa errada. A mãe “má” é aquela que não intervém, e tenta mudar a situação quando acontece.
Acontecem coisas que não podemos prever e das quais não podemos nos proteger, nem aos nossos filhos. A única coisa pior do que ver alguém que você ama sofrendo quando cai num lugar terrível, no caso seu filho, é ver aqueles em volta julgar aquele que você ama. Talvez quando julgamos outros e presumimos que há conserto, algum ingrediente que estava faltando, algo que poderia ter sido feito de maneira diferente ou melhor para evitar aquela situação, não precisamos considerar que isso poderia acontecer conosco. Mas pode. E nada que fizermos mudará aquilo. A única variável é como reagiremos se aquilo acontecer.
Recentemente, fui à médica para minha visita anual. Quando chegaram os resultados do meu exame de sangue, mostraram que eu tenho colesterol alto. A primeira coisa que a médica fez foi discutir comigo o que eu poderia mudar para ter meu colesterol adequado. Ela me disse o que comer. Respondi que já como aqueles alimentos. Ela me disse o que não comer. Mas eu não os como. Ela me disse para começar a fazer exercícios; expliquei que tenho ido à academia três vezes por semana durante este ano. E então ela me disse que colesterol também é genético. Que eu estou fazendo todas as coisas certas. Que embora eu possa me esforçar para melhorar, isso talvez não baste. Posso precisar de intervenção ou de medicação. Afinal, somente posso controlar até certo ponto.
Minha médica foi genial. Não havia culpa. Nenhuma. Nada de me dizer que a culpa era minha quando estava claro que não era. Se eu fumasse, bebesse, estivesse obesa, nunca me exercitasse e comesse produtos com gordura saturada… sim isso poderia levar ao colesterol alto. E mais uma vez, eu poderia fazer tudo aquilo e ter o colesterol lá em cima. Nada de graça. Nenhuma garantia. Fazemos o que podemos, e então rezamos pelo melhor.
Se ao menos déssemos a outros pais o mesmo respeito e compreensão. Por que somos tão rápidos em presumir que eles estão fazendo algo de errado? Por que automaticamente supomos que qualquer problema que o filho deles está enfrentando é resultado da ação ou inação dos pais? Poderia ser. Mas poderia muito bem não ser. Afinal, ter um filho não é uma soma. Não é 1 + 1 = 2, onde o filho é apenas o resultado daquilo que os pais põem dentro dele. Procriação é multiplicação. A mitsvá é pru u’ruvu, “ser frutífero e multiplicar-se”. A multiplicação é maior que a soma das partes. Há a mãe e o pai. Porém o resultado final é mais que isso. É algo que em última análise temos pouco, se é que temos algum, controle.
Reconhecer que não estou no controle é algo que sei inerentemente e mesmo assim luto contra. Entendo que eu não controlo este mundo. Sei que há muita coisa que não faz sentido e que não consigo entender. E realmente, realmente acredito que há um plano e um motivo para tudo, mesmo que eu não tenha ideia do que seja. Mas isso não significa que eu goste quando as coisas acontecem para me lembrar que meu trabalho duro talvez não valha a pena na maneira que eu queria.
Porém acredito ainda que tudo de bom que fazemos, cada palavra bondosa, toda ação positiva, cada passo na direção certa, certamente muda as coisas. Tudo conta. Nem sempre como pretendíamos, mas quando fazemos depósitos na nossa conta bancária espiritual, física ou emocional, cedo ou tarde conseguiremos fazer a retirada. Afinal, o que faz um bom paciente ou uma boa mãe não é conseguir evitar toda doença ou desafio na vida, mas estar disposto e ser capaz de lidar com aquilo. E quanto mais recursos houver naquela conta, mais fácil será.
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