Não há ninguém por quem se orgulhar. Devemos trabalhar arduamente. Com paciência e amizade podemos vencer em todas as coisas, com a ajuda de D'us. Com uma atitude de superioridade para com os outros e aumentando nossa própria importância perdemos tudo, D'us não o permita.
(Hayom Yom, 20 Iyar).
Talvez fosse apenas porque ela era uma perfeccionista. Talvez fosse por causa das três alunas escolhidas pelo destino para premiar sua aula com suas zombarias, piadas e gracinhas diárias. Talvez na verdade não houvesse um motivo; era apenas, como os profetas da desgraça gostam de dizer, má sorte.
Por qualquer motivo que fosse, ela deixou o segundo ano de ensino na escola fundamental para meninas sentindo-se desanimada, tentando com sua imaginação impedir que o desespero lançasse suas raízes de sementes tóxicas. Aqueles dois anos pareciam uma sentença de vinte meses para o espírito. Sim, houve momentos bons, muitos mais do que ela gostaria de lembrar. Mas não se tratava dos momentos bons. Foram poucos e fugazes, em sua opinião. O principal era o desrespeito das alunas, sua insolência, e a sensação arrasadora e dolorosa de não ter sido a professora fantástica que ela poderia ter sido, deveria ter sido, teria sido. Incrédula, ela lembrou da sua apresentação de poesia na Quinta Série. “Com certeza você será uma ótima professora” estava escrito orgulhosamente no topo da sua avaliação.
Ela lembrou-se de seu primeiro ano como uma verdadeira professora – tendo a própria sala de aula, e dezoito alunas apenas doze anos mais jovens do que ela. Lembrava-se de ter decorado as paredes da sala com paciência e amor, e das caixas de materiais emprestadas por outras professoras, mais experientes. Acima de tudo, ela recordava-se de seu empenho para ser bem sucedida nesse nobre esforço: a educação de crianças preciosas.
Como ela brilhou quando na noite da reunião pais-professores ela entreouviu um pai comentar com a diretora que essa professora nata – ela! – era simplesmente espetacular no seu desempenho. Ela reprimiu uma risada quando pensou sobre aquilo mais tarde. “Parabéns”, o médico anunciou, “é uma… professora!” Ela saiu da ala da maternidade, todos os três quilos e meio de propósito, para suas alunas ansiosas.
Pareceu simples e óbvio, então. Ela jamais seria uma boa contadora. Na verdade, seria uma péssima contadora. Mas seria sempre uma professora maravilhosa.
Ora, ela não era uma professora maravilhosa, mas uma infeliz confusão, cada vez maior. A professora nata, incapaz de sair-se bem naquilo que nascera para fazer.
Como ousava ela colocar batom toda manhã e entrar na sala de aula todo dia, quando as alunas a desafiavam, ignoravam, rindo indiferentemente das lições que ela achava tão inspiradoras e significativas?
Ela se despediu das alunas e fechou a porta da sala de aula, sentindo uma curiosa mistura de alívio e arrependimentoEntão, afinal, ela não era uma professora. As coisas tinham tomado um caminho terrivelmente errado. Teria sido melhor, decidiu ela, trabalhar numa padaria. Uma receita estragada não era nada comparado com o tremendo desastre de suas tentativas fracassadas na pedagogia.
Era o último dia de sua sentença de vinte meses. Ela se despediu das alunas e fechou a porta da sala de aula sentindo uma curiosa mistura de alívio e arrependimento. Não havia terapia ou programa de doze passos que ela pudesse tentar para se recuperar das indignidades que tinha tolerado durante aqueles dois anos. Tentou reduzir tudo aquilo a uma lição de humildade – lição que ela certamente se lembraria. Ocasionalmente, um aperto no coração a lembraria: mas… ela não fora certa vez uma professora nata? Era apenas uma teimosa folha de grama abrindo caminho para fora do chão coberto de neve. Então, quase que de repente, um ensolarado tapete de dentes de leão forrou o parque infantil. Seu coração cantou com a beleza da primavera e sua promessa de renovação.
Ela sentou-se no banco do parque naquela tarde de Shabat, observando uma turma de meninas na pré-adolescência. Logo teve início uma conversa, e ela se apresentou. Uma menina perguntou se ela teria ensinado na escola delas no último ano escolar. Ela respondeu agradavelmente que sim.
“Gostaríamos que você ainda pudesse ensinar na nossa escola”, as meninas exclamaram.
“Ouvimos dizer que perdemos uma professora espetacular.”
A professora nata observou em silêncio as faces frescas e ansiosas das jovens alunas sentadas ao seu redor. Em volta delas, teimosas placas de neve insistiam em ignorar o chamado da primavera. Mas espere! Elas estavam na verdade se dissolvendo em poças – cedendo ao sol persistente. E aquelas mesmas poças estavam molhando a terra, ocupadas em trazer as delícias coloridas da primavera.
A professora nata ponderou a definição de sucesso e realização. Se ela era de fato uma professora nata, então talvez continuasse sendo uma professora nata. Talvez não pudesse ensinar na maneira que tinha planejado, mas tinha compartilhado – da melhor maneira que pôde – seu amor e paixão pela vida e seus abundantes presentes. E sim, somente uma professora com talento para o ensino poderia ser bem-sucedida nesse esforço impressionante.
Ela soube, como qualquer professora conscienciosa saberia, que não se tratava tanto de nascimento quanto de renascimento. Então, como qualquer professora renascida faria, ela candidatou-se a um emprego como professora (embora em outra escola). Afinal, suas alunas tinham dito que ela era uma professora espetacular. Aquelas que não a fizeram se sentir como uma professora nata, mas sim, como uma professora renascida.
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