A história, à primeira vista, traz mais confusão do que esclarecimento e é meio decepcionante. Avraham não fez nenhum milagre, não falou nenhum sermão memorável, não prometeu salvação eterna. Nada como os fundadores, santos e heróis das outras religiões.
De fato, quando li esse primeiro livro da Biblia depois de sair da universidade como um judeu quase totalmente assimilado, fiquei tão perplexo que comecei uma busca pela verdade que mudou a minha vida. Percebi que não sabia nada sobre os fundamentos do Judaísmo; seus fundadores e finalmente encontrei uma resposta me tornando um judeu ‘observante’.
Aproximadamente dez anos depois de me tornar religioso, estava num ônibus em Tel Aviv e comecei uma conversa com um homem que estava sentado ao meu lado. A conversa foi prazerosa e no meio dela ele relatou que tinha algum diploma da Universidade de Berlim e eu lhe contei que era graduado em Filosofia.
Ele sorriu e disse, “Ah, filosofia! Filosofia? Diga-me, já ouviu falar do filósofo chamado Martin Buber?” [filósofo judeu, existencialista, secular, e moderno].
Quando respondi que tinha lido um pouco dele e não tinha gostado muito, ele me falou que tinha uma história interessante para contar e começou a falar.
“Quando eu era um jovem universitário na Alemanha assisti a uma palestra do Professor Buber. Era uma palestra que não tinha a ver com as aulas da universidade. Ele falou sobre o Chassidismo e era algo que realmente me interessava. Ele era um orador brilhante, um contador de histórias cativante e manteve a multidão que o assistia literalmente impressionada por mais de uma hora.
Depois da palestra todos lhe aplaudiram de pé. Quando me levantei, a pessoa do meu lado, provavelmente percebendo que eu era um judeu observante, puxou meu paletó e disse:
‘Não fique tão impressionado rapaz. Não tenho certeza nem mesmo que o Professor seja casado com uma mulher judia.’
Fiquei sem palavras. Como ele podia dizer uma coisa dessas! Não dava para acreditar. ‘Não se preocupe,’ ele continuou calmamente. ‘Não é Lashon Hará (‘fofoca’) pois ele mesmo se orgulha disso, vá até ele e pergunte você mesmo.’
Então me aproximei do palco onde o Professor estava circundado de admiradores e, assim que todos saíram, lhe cumprimentei pela palestra excelente e perguntei bem baixinho se era verdade que ele não observava os mandamentos Divinos.
Ele me olhou com um olhar de quem sabe tudo e falou com um tom de misericórdia na sua voz.
“Meu jovem amigo, existem muitos níveis de observância da religião; existe o judaísmo mundano de Moshê que depende da palavra escrita e mandamentos físicos e o judaísmo puro de Avraham; uma elevação filosófica cristalina do intelecto voltado à verdade. Esse é o meu judaísmo. O nível de Avraham.”
Olhei para ele em estado de choque e disse: ”Isso é o oposto de tudo o que pregam os mestres Chassídicos sobre quem você acabou de falar! E se você me perguntar, afirmo que esse nível que o senhor está se referindo não passa de ‘egoísmo cristalino’!
“Você é jovem.’ Ele respondeu muito calmamente, “quando ficar mais velho e tiver alguma experiência talvez entenderá.” E foi embora.
“Ora,” meu vizinho continuou, “me graduei na universidade e alguns anos depois veio a guerra. Vi muitas mortes e destruição, muita. Passei pelos campos de concentração. Vi meus pais e meus três irmãos e quatro irmãs serem assassinados frente aos meus olhos. Vi o que significa ser um judeu no holocausto. Estive lá por quatro anos e foi como milhões de anos no inferno!
“Mas então um dia a guerra acabou. Demorei mais de um ano até conseguir me recompor e ‘funcionar’ quase normalmente. Então meu tio que morava na America me escreveu convidando para morar com sua família. Fui para Los Angeles. Ele me ajudou muito, me conseguiu um bom trabalho e comecei a economizar dinheiro para me mudar para Israel. Então um dia vi num jornal judaico que Martin Buber falaria em um local próximo onde eu estava. Comprei um ingresso e fui. Lá estava ele, o mesmo homem, um pouco mais velho, com as mesmas histórias e as mesmas conclusões filosóficas. Esperei até ele acabar e parar os aplauso e as pessoas começarem a sair. Então fui até o palco, cumprimentei-o e falei: ‘Professor Buber, o senhor lembra-se de mim?’ Ele se desculpou e disse ‘não’.
“Há mais ou menos quinze anos em Berlim lhe perguntei por que o senhor não observava a Torá e o senhor me respondeu que entenderia quando ficasse mais velho e tivesse experiência. O senhor se lembra? Quero que saiba, professor, que envelheci muito desde então. Vi coisas que o senhor nunca viu e tive a experiência de horrores indescritíveis que o senhor jamais poderá imaginar. E posso lhe afirmar, sem sombra de dúvida, que o senhor está completamente errado!!! Não existe tal coisa como judaísmo sem mandamentos. Esse não é o judaísmo de Avraham nem de qualquer outro.
Você sabe o que ele me respondeu? Ele simplesmente olhou para mim e disse, ‘Você segue o teu judaísmo e eu seguirei o meu!’
Olhei de volta para ele e disse, “Certo! Você seguirá o seu judaísmo, e eu farei o de D’us.”
Foi isso o que eu descobri. Avraham foi o fundador do judaísmo porque percebeu que D’us, o Criador, está recriando tudo constantemente. Ele era completamente devotado a D’us mesmo que perdesse tudo. Assim como o homem que sentou ao meu lado e me contou a sua história. No holocausto ele viu como o judaísmo resultou apenas em dor e sofrimento e qualquer pessoa normal teria fugido de tudo isto. Mas, no entanto, ele escolheu a maneira do Criador, junto com todos os Seus mandamentos, completamente acima da lógica e de qualquer filosofia.
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