Além de ser a porção final no livro de Bereshit, a Parashat Vayechi é única pela maneira peculiar como aparece no rolo da Torá.
Ao contrário de qualquer outra porção da Torá, claramente separada de sua vizinha, ou por começar numa nova linha no rolo da Torá ou por pular um número significativo de espaços, a Parashat Vayechii é stumá ou selada, continuando diretamente nos calcanhares da porção prévia sem a divisão normal. Rashi declara que "fechando" a separação normal, a Torá quer dizer que, com a morte de Yaacov, os olhos e corações do povo judeu foram fechados e anuviados pela amarga servidão deles aos egípcios, que começou na época de sua morte.
Há apenas um problema com a explicação de Rashi: a escravidão física não começaria realmente por pelo menos mais cinqüenta anos, após as mortes de Yossef e o restante de seus irmãos. A que poderia o Rashi estar se referindo?
O Sfat Emet responde que Rashi de maneira alguma se refere à escravidão física que o povo judeu suportaria mais tarde; ao contrário, está se referindo ao mal-estar espiritual que dominou os Filhos de Israel quando Yaacov morreu. Enquanto o grande Patriarca estava vivo, seus filhos e netos puderam afastar as terríveis influências que permeavam a imoral sociedade egípcia, permanecendo separados na província de Goshen. Entretanto, quando Yaacov se foi, era natural que o povo judeu começasse a se sentir mais confortável residindo no estrangeiro, baixando a guarda e permitindo que aspectos da desprezível atmosfera egípcia penetrasse aos poucos em seu espírito nacional.
Já na época da morte de Yaacov, seus olhos e corações começaram a se tornar nublados pela impureza do ambiente em que viviam.
Referindo-se à servidão espiritual com o mesmo termo geralmente aplicado a uma escravidão física, Rashi está nos enviando uma poderosa mensagem sobre a gravidade de tornarmo-nos presas das influências de uma nação estrangeira: só porque não estamos fisicamente escravizados, isso não significa que estamos a salvo de sermos subjugados pela sociedade que nos rodeia.
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