Você se lembra como era ser adolescente? A raiva, a confusão, a rebeldia? A necessidade intensa de expressar-se, mesmo que fosse em maneiras que fossem desagradáveis às pessoas em torno?
Ou talvez você tenha um filho adolescente. Talvez você tenha saudade dos dias em que ele ou ela era uma criança dócil, obediente, querendo apenas ser exatamente como você.
Felizmente, a adolescência não dura para sempre. E na maioria dos casos, se você tiver valores bons e sólidos que transmitiu com amor, seu adolescente passará por esta fase de conflito e sairá do outro lado como uma pessoa que encherá você de orgulho.

Na verdade, ocorre muitas vezes que quanto mais problemas ele causa a você, mais probabilidades ele tem de impressionar – e até surpreender você – mais tarde.

Isso porque, como o filho se afasta temporariamente de sua orientação, do seu domínio – sua "luz", por assim dizer – ele começa a questionar, a olhar dentro de si mesmo procurando respostas, a explorar os próprios sentimentos e a expressar-se de dentro para fora. De uma maneira caótica, tola, até destrutiva às vezes, ele começa a manifestar seu poder inato de pensar os próprios pensamentos, chegar às próprias conclusões, escolher as próprias metas e tomar suas próprias decisões.

E ao fazê-lo, ele começa lentamente a experimentar um senso de si mesmo, sem o qual ele permaneceria para sempre uma criança – alguém menor que dependente de você.

Por mais difícil que seja isso, é um estágio necessário na evolução de um ser humano autêntico. Uma criança pequena, por mais doce, preciosa e adorável que seja, em grande parte é um reflexo dos pais. Aquilo que você pensa, ela pensa. Aquilo em que você acredita, ela acredita. Como a lua, ela pode ser adorável, mas é um refletor. Você declara, e ela acredita. Você decide, e ela aceita. Você dá, e ela toma.

Como seres humanos, criados à imagem do Criador, nosso destino não é, em última análise, sermos luas. Fomos criados não para simplesmente refletir, mas para brilhar. Estamos destinados a nos tornar sóis, a oferecermos nosso "algo" único ao todo da Criação. Porém a transição entre refletir e brilhar, entre lua e sol, não é suave e linear. Não há progressão lógica de um estado de ser para o outro.

Por este motivo, essa transição exige aquilo que é freqüentemente conhecido como transformação – um salto de um estado de ser para outro, completamente diferente. E quando se trata de transformação, a regra é esta: para subir, primeiro você deve descer. Se você deseja tornar-se algo novo, deve primeiro deixar de ser aquilo que era antes.

Às vezes este processo é fácil. Às vezes as trevas da transição entre o velho e o novo são quase imperceptíveis. E às vezes a escuridão é tão intensa que parece não haver luz alguma. Quando este é o caso, significa que você deve ir mais profundo, mais longe dentro de si mesmo, para encontrar um nível de luz e poder que nunca tinha sentido antes.

Mas qualquer que seja o caso, o importante é isso: a escuridão não ocorre por si mesma. Ela não tem uma realidade intrínseca, permanente. Está ali somente em nome da transformação – a luz diferente, bem maior – que surgirá como resultado.

Procurando debaixo da luz

Há três anos perdi um irmão mais jovem para uma doença terrível e repentina. Meus estudos espirituais, que tinham sido extremamente importantes e agradáveis para mim, se tornaram difíceis e dolorosos. Tudo que eu podia me perguntar era: "Onde está D'us, e como Ele pôde fazer isto?"

Meu professor contou-me uma história que jamais esquecerei. Talvez você a tenha ouvido antes, embora provavelmente noutro contexto. Eis aqui a história:

Dois homens saíram de uma festa e viram um terceiro homem agachado sob um poste de luz, procurando alguma coisa.
"O que está procurando?" perguntaram eles.
"Meu relógio," respondeu o homem.
Dispostos a ajudá-lo na busca, eles perguntaram: "Onde exatamente o deixou cair?"
"Ali na frente," disse ele, apontando a distância.
"Então por que está procurando aqui?" um dos homens indagou confuso.
"Porque ali está escuro," respondeu o homem.

A experiência da escuridão

Geralmente procuramos nossas respostas na luz – naquilo que já conhecemos, que podemos entender, onde nos sentimos à vontade – i.e., naquilo que nos é familiar. Porém as verdadeiras respostas, aquelas que realmente importam, geralmente não estão ali. Aquelas respostas, as que nos permitem ver ou ser algo que antes não podíamos ver ou ser, estão "ali" – no local escuro.

Os desafios que levam à transformação não precisam necessariamente serem muito intensos. Podem ser pequenos e triviais como uma conversa frustrante, sentimentos de mágoa, um desapontamento no trabalho, ou uma conta inesperada. Estas coisas podem certamente ser usadas como um ímpeto para nosso crescimento e expansão, para aprender coisas novas e tentar novas maneiras de ser.

Ou a escuridão pode ser, D'us não o permita, enorme e incompreensível.

Mas qualquer que seja o caso, se você procurar as respostas apenas onde há luz – nos locais que conhece, nos hábitos que o deixam à vontade, nos paradigmas que já tem – é quase certo que jamais chegará muito mais longe de onde está agora.

Mas se em vez disso você estiver disposto a lidar com o desconforto do desconhecido, para chegar, mesmo em momentos ocasionais, ao vasto mistério, poderá descobrir ali um potencial inteiramente novo, um novo entendimento, um novo nível de luz. E esta luz, a luz que vem da escuridão, não brilha de fora para dentro, brilha nas profundezas do seu coração, sua mente e sua alma – de dentro para fora.

O Processo Triplo

O triplo processo de transformação – da luz para a escuridão, a uma luz muito maior e mais interior – é um dos pólos espirituais ao redor dos quais o mundo gira.

Na verdade, quando nossos antepassados, Adam e Eva, comeram da Árvore do Conhecimento e foram exilados do Jardim do Éden, eles estavam seguindo este padrão.

No Jardim do Éden antes do pecado, tudo era belo. Tudo era sagrado. Não havia caos, rebelião nem trevas. Adam e Eva, juntamente com tudo que havia no Jardim, simplesmente refletiam a intensa luz Divina da Criação.

Porém D'us colocou uma serpente no Jardim – uma serpente que seduziria nossos ancestrais e introduziria as trevas, o mal e o exílio no paraíso deles. A serpente não apareceu ali por acidente. D'us incluiu intencionalmente o potencial para a escuridão em Seu plano para a criação. E Ele o incluiu de tal maneira que seria interiorizado – tornado uma parte de quem nós somos. Isso porque, para que você tenha o potencial de transformar alguma coisa, ela precisa ser sua.
Quando D'us colocou a serpente no Jardim do Éden, Ele correu um grande risco. Sua opção de fazê-lo garantiu que nós iríamos cair, que iríamos nos rebelar, e pecar. Ele nos deu um enorme desafio.

Porém ao mesmo tempo, Ele nos deu uma oportunidade ímpar – que não é compartilhada nem pelos anjos mais elevados. Ele nos deu o poder de transformar todas as trevas do nosso mundo em luz. Ele nos deu o poder de nos transformarmos de recipientes passivos de Sua luz em verdadeiros parceiros na Criação.

O Paradigma da Transformação:
Tudo Que Desce Deve Subir


A Cabalá chama esse processo de yeridá l'tzorech aliyá – uma "descida com o propósito da subida" que se seguirá. É o padrão Divino através do qual ocorre toda transformação.

O simples crescimento não exige este processo triplo. É linear, natural, lógico e progressivo. Mas a transformação, uma mudança essencial de um estado do ser para outro, sempre segue esse caminho, de uma forma ou outra.

Eis como isso funciona:

No primeiro estágio do processo, há harmonia, um senso de união, luz. Tudo está funcionando perfeitamente. Porém essa harmonia é superficial e portanto instável. Como o Jardim do Éden antes da queda, desde que as circunstâncias estejam certas tudo parece bem. Porém o potencial para divisão e destruição está sempre ali; apenas não foi concretizado ainda. Enquanto a luz brilhar, a escuridão será suprimida. Porém ainda existe em potencial.

No segundo estágio a unidade se rompe e o potencial para a escuridão é concretizado. Há colapso e caos. Como o Jardim do Éden depois da queda, como nosso adolescente rebelde que de repente rejeita os valores dos pais e deseja "encontrar-se", aquilo que certa vez foi harmonioso se transforma em caos. Porém este caos tem um propósito intrínseco. Está lá em prol do nível mais elevado de unidade que virá como conseqüência.

O estágio final é transformação. Como a fênix renascendo das cinzas, do caos surge uma unidade totalmente nova e uma reluzente luz nova. E dessa vez ela é permanente.

Isso porque a luz agora não é mais imposta de fora, mas se tornou uma autêntica expressão daquilo que está lá dentro. Uma vez que isso aconteça, simplesmente não há mais escuridão – não porque foi suprimida, mas porque se transformou em luz.

Tornando-se parceiro da Criação

Este processo de transformação ocorre em níveis diferentes em todos os aspectos da vida. É também o paradigma para a Criação como um todo.

Ao final do processo não obedeceremos a D'us apenas porque Ele sabe mais do que nós, porque Ele é infinitamente maior, mais forte, e sagrado do que nós.

Em vez disso, faremos a vontade de D'us porque ela se tornou a nossa vontade. Em vez de sermos simplesmente servos de D'us, ou mesmo Seus filhos, seremos Seus parceiros também, partilhando Sua perspectiva, brilhando lado a lado.

Voltando ao nosso adolescente rebelde, quando ele completa este processo, seus valores, crenças e compromissos não são mais meramente um reflexo daqueles de seus pais. Agora são seus. Neste estágio não se trata mais de obediência. Em vez de obedecer aos pais, ele os entende, compartilha sua perspectiva e suas metas, e melhor ainda, expressa-as em sua própria maneira, pessoal e única.

Adolescência global

Nosso mundo está chegando ao fim de seu longo período de adolescência. Isso porque muitos de nós somos pesquisadores. É por isso que muitos de nós sonham com um mundo pacífico, harmonioso, bom e Divino, um mundo de abundância, propósito e significado. Sem ao menos perceber isso, começamos a partilhar a visão do nosso Criador.

Nosso conflito ainda não terminou por completo. Obviamente, precisamos crescer. Ainda estamos no processo de nos tornarmos tudo aquilo que somos destinados a ser. Porém estamos chegando mais e mais perto do final desse processo. E quando encontrarmos – encontrarmos totalmente – nossa própria luz interior, ela será nossa para sempre. Não haverá mais conflito, porque quem devemos ser e quem genuinamente seremos, se tornarão um e somente um.

É isso que D'us deseja de nós – e ainda mais importante, para nós. Nosso supremo destino não é simplesmente submissão, inclinar a cabeça e fazer a coisa certa. Nós certamente faremos o que é correto, mas de uma maneira que é infinitamente mais poderosa e significativa.

Estamos destinados – sempre estivemos – a abraçar totalmente nossa própria essência, sentir a Divindade não somente do exterior, mas vinda de dentro. Na verdade, este é o propósito da Criação.

A Era da Transformação

Nessa época da história, estamos testemunhando o colapso de muitas das coisas que já acreditávamos estabelecidas. Não importa se este colapso se expressa em nossa liderança, nossos valores, nossos filhos, nossas comunidades, nosso ambiente, nosso senso de segurança, ou nossos sonhos, mas ele pode ser tremendamente doloroso, assustador e confuso.

Porém esta escuridão, como sempre, está aqui por um motivo: estimular você a transformar, realizar seu verdadeiro potencial, para tornar-se a pessoa que você realmente nasceu para ser. Esses tempos são desafiantes. Porém jamais houve, em toda a história, uma oportunidade como essa que hoje se apresenta a nós.

E essa oportunidade, este potencial para transformação, se expressa não apenas num sentido global, mas nos próprios detalhes reais e tangíveis de sua vida pessoal.

Da próxima vez em que você se sentir bloqueado, frustrado ou desapontado, confrontado por um obstáculo ou desafio – seja num relacionamento, trabalho ou qualquer outra área da vida, saiba que você está sendo apresentado a uma Divina oportunidade para acessar seu poder latente de fazer a escuridão brilhar.

Talvez você tenha medo da escuridão – a vulnerabilidade, incerteza ou desconforto que quase sempre acompanham a verdadeira mudança. Mas dessa vez, não pare ali. Em vez disso, pergunte-se o que você faria se os seus medos não fossem um obstáculo.

Talvez você se comunicasse mais autenticamente com alguém que ama. Talvez tentasse entender o ponto de vista de outra pessoa. Talvez você desse aquele telefonema que está adiando. Talvez você se matriculasse naquele curso, se candidatasse àquele emprego, começasse aquele programa de exercícios, aprofundasse o seu relacionamento com D'us, desse a alguém um abraço ou um sorriso, ou fosse o primeiro a pedir desculpas, mesmo se não fosse o único a estar errado.
Este é o x da questão: a todo momento, você tem uma opção. Como o homem que perdeu o relógio, você pode confinar sua busca ao espaço sob a luz, permanecendo limitado pelo seu passado, por aquilo que é seguro e familiar. Ou, você pode aventurar-se até o desconhecido e e buscar, revelar a luz maior e o potencial que estão ocultos no coração das trevas.

A escolha é sua.