Qual é o objeto mais espiritual que você possui?

Sua casa? Seu carro? É claro que não. Talvez seus livros? Talvez um objeto religioso com o qual você se afasta da sua vida comum do dia-a-dia para comungar com uma realidade mais elevada? Abra sua carteira. Tire uma única nota de um dólar. Coloque-a na mesa à sua frente. Olhe-a longamente, de modo contemplativo.

Em muitas maneiras, esta é a coisa mais espiritual em sua posse.

Mas primeiro devemos explicar o que queremos dizer com "espiritual". As definições de "material" e "espiritual" variam, obviamente, segundo o contexto no qual os termos são usados. Porém uma definição bem comum seria que as coisas materiais são concretas e distintas, ao passo que quanto mais abstrata e abrangente uma coisa é, mais espiritual.

O que, na essência, é o dinheiro? A suprema abstração do produto humano. Uma pessoa gasta seu tempo, energia e habilidade fazendo pão. Uma outra escreve poesia. Uma terceira, uma quarta e uma quinta constrói móveis, cultiva tomates e escreve minutas legais. Outra dirige caminhões, ensina crianças, dirige equipes de vendas, derrama aço na fôrma, prepara remédios, conserta linhas de transmissão de energia ou debate filosofia. Cada uma dessas coisas, por si mesma, é concreta e distinta, confinada a si mesma. Uma página de poesia não produzirá um pedaço de pão, e um cesto de tomates não iluminará uma rua à noite. Porém o ser humano encontrou uma maneira de abstrair todas essas coisas da sua essência comum – numa unidade de criatividade e necessidade humana. Assim abstraídas, elas podem ser transferidas, permutadas, convertidas.

Olhe de novo para o pedaço de papel na mesa à sua frente. O que é isso? É um pão, um minuto de sabedoria, uma dúzia de kilowatts/hora de eletricidade, meio copo de vinho, um pedaço de brinquedo, um milionésimo de um Van Gogh. Um pedaço de vida humana que pode ser dobrado e colocado no bolso.

Porém existe ainda outra definição de espiritualidade: aquela que aproxima você de D’us. Nesse sentido, também, o dinheiro pode ser o bem mais espiritual que você possui.

A Torá inclui 613 mitsvot – seiscentas e treze ações que, como D’us desejou que as fizéssemos, nos conectam com Ele. Mas quando nossos Sábios dizem simplesmente "a mitsvá", estão se referindo à mitsvá da caridade.

Em seu livro Tanya, Rabi Shneur Zalman de Liadi explica: Cada mitsvá conecta uma pessoa com D’us por meio de um membro, faculdade ou área específica de sua vida. Quando estudamos Torá, por exemplo, nosso cérebro e nosso intelecto são os veículos que vêm para incorporar a vontade Divina e nos conectar com D’us. O ato de rezar utiliza a nossa faculdade da fala e a emoção do amor em nosso coração. Outras mitsvot empregam nossas mãos ou pés, nossa capacidade de sentir alegria ou tristeza, reverência ou esperança, na maneira de nos vestirmos ou comermos ou construir um lar, ou pela maneira que damos à luz ou enterramos nossos mortos ou entramos no casamento.

Há uma mitsvá, no entanto, que é cumprida com a totalidade da pessoa. Quando damos uma moeda para a caridade, damos nossa própria vida. Porque com esta moeda, poderíamos ter comprado o pedaço de pão que mantém juntos a alma e o corpo. E para ganhar esta moeda, nós devotamos todo o nosso ser.

Com todas as outras mitsvot, nós nos conectamos a D’us com alguma coisa – com nossa mente, nosso estômago, nosso lar. Com "a mitsvá" da caridade, nós mesmos somos a conexão. A moeda ou cédula que damos não é, fisicamente, parte de nós. Porém é a essência daquilo que somos.