Pergunta:

Caro Rabino,
Tenho uma questão sobre judeus religiosos. Eles têm esse hábito de não demonstrar afeição em público. Nunca se vê um casal religioso andando de mãos dadas pela rua, e certamente não se beijam em público, pois é considerado falta de recato. Porém, eu acho que isso ensina às crianças que afeição é ruim e o romance é tabu. Como eles terão casamentos bem-sucedidos se não veem os pais demonstrando afeição?

Resposta:

Eis aqui uma história verdadeira que aconteceu a uma família que conheço. São pessoas observantes e tementes a D'us, e de fato os pais nunca demonstraram afeição física, nem mesmo na frente dos próprios filhos.

Certa vez essa família estava no carro, os pais sentados na frente, e a grande prole atrás. Quando estavam parados num farol vermelho, uma das crianças apontou para uma cena que atraíra sua atenção. Ao lado do carro, na calçada, estava um casal jovem engajado numa demonstração pública de afeição.

As crianças expressaram sua desaprovação, gritando “Uuuuuu!” e chamados de “Eca!”

Os pais tinham algumas opções para reagir a essa situação. Poderiam ter encorajado a inocente aversão dos filhos ao romance em público ou talvez devessem ter corrigido a opinião severa das crianças dizendo que na verdade não há nada de nojento no amor entre duas pessoas. Ou poderiam simplesmente sorrir e deixar aquilo passar.

Mas bons pais sabem que há certas chances de ensinar que não acontecem com frequência, e se não forem aproveitadas, serão perdidas. Algumas lições são mais bem ensinadas de maneira espontânea. Em vez de os pais se sentarem com o filho para falar a respeito daquilo, às vezes é melhor esperar até que a criança veja ou escute algo, faça um comentário ou uma pergunta, e usar aquilo como uma abertura para tocar no assunto. Um pai precavido tem um estoque de lições prontas, e espera pacientemente pela oportunidade certa para compartilhá-las. Aquele era um desses momentos. E o sábio pai dessas crianças que tinham rotulado um ato de amor como nojento aproveitou a chance de ensinar-lhes uma lição de vida.

“Não é nojento,” disse ele aos filhos. “Apenas estão no lugar errado.”

Ouvi essa história da filha de doze anos, que hoje já é adulta e mãe. Tantos anos depois ela ainda se lembra daquilo que o pai disse, e qual o impacto que suas palavras simples tiveram sobre ela. A princípio ficou chocada. Seu pai, um rabino, não achava aquilo nojento? Os meus pais também fazem isso?

Mas então ela entendeu. Claro que fazem. Eles se amam, e quando as pessoas se amam é isso que fazem. Algumas coisas devem ser feitas em particular. Não porque seja nojento, mas porque são preciosas, e não devem acontecer na rua.

Há casais que ninguém jamais verá se tocando, mas qualquer um pode ver o profundo amor que partilham. Isto está refletido na maneira de conversarem, de olharem um para o outro, e da maneira de falarem sobre o outro. E há alguns casais que são do tipo beija-abraça-agarra em público, porém em alguns casos isso não passa de um show para os passantes. O quanto uma afeição pode ser íntima se todo espectador pode ver aquilo? O romance tem significado verdadeiro se é compartilhado com estranhos?

Quando um casal está seguro de seu amor mútuo, não sente necessidade de demonstrar afeição a outros fora do relacionamento. E mesmo assim todos, incluindo os filhos, saberão que o amor está ali. A afeição física é mais poderosa quando é mantida reservada, em local correto.