Nota do Editor: Escrevi esse artigo após saber o horrível assassinato do menino de nove anos, Leiby Kletzky, de abençoada memória, no Brooklyn, Nova York. Que sua família seja consolada, e que a alma de Leiby encontre paz e bênção.

Quando eu estava na faculdade, o irmão mais novo de meu amigo foi baleado certa noite por causa de um biper. Quinze anos de idade, e baleado nas costas, numa festa repleta de crianças, por causa de um aparelho de $100.

Fiquei arrasada. A dor, o vazio e o horror criados por esta perda foi algo que ficará comigo para sempre. Fui ao funeral e para o luto, e fiquei perto da família durante a maior parte do julgamento. Infelizmente, devido a detalhes técnicos no sistema legal (o assassino confessou antes que lessem para ele os seus direitos, portanto sua declaração não podia ser admitida no tribunal, e ele alegou não ser culpado, etc.) ele terminou recebendo um tapinha no pulso por ter tirado uma vida jovem, bela e inocente.

Recentemente tivemos a reunião de 20 anos da minha classe do Ensino Médio. Embora eu não pudesse comparecer, alguns dos meus amigos estavam lá. Eles me puseram a par daquilo que todos estavam fazendo. E isso incluiu a família de Marc. Ninguém tinha esquecido o que acontecera. Seu irmão mais velho, nosso colega de classe, era agora um professor bem-sucedido, casado e feliz, com dois filhos e um terceiro a caminho. E eles mencionaram que o filho mais novo se chama Marc.

No Judaísmo, quando sabemos de uma morte, a resposta que devemos dar é Baruch Dayan HaEmet, Bendito seja o Verdadeiro Juiz. No decorrer dos anos tenho entrado em conflito com essa resposta. Realmente tenho. Há vezes em que parece apropriada, outras vezes é difícil de engolir.

É difícil dizer. Mas realmente, existe algo a se dizer?

Quando meu avô idoso faleceu, não tive problemas em recitar essas palavras. Ele tinha levado uma vida plena. Estivera presente para seus filhos e netos, e tivera até o mérito de conhecer alguns bisnetos. Supomos que é assim que deve ser a vida. Nós, os bisnetos, pranteando a perda do nosso bisavô. Baruch Dayan HaEmet.

Mas e quando se trata dos bisavós pranteando seus bisnetos? Quando é um bebê de três meses em Israel com a garganta cortada por um terrorista, ou um menino de dois anos que ficou órfão em Mumbai, ou os irmãos de um menino de nove nos no Brooklyn. E a lista continua.

Baruch Dayan HaEmet, Bendito Seja o Verdadeiro Juiz.

É difícil dizer. Mas realmente, há alguma outra coisa a dizer?

Quando as coisas fazem sentido, quando tudo caminha na ordem natural, é fácil deixar D'us fora disso. Mas quando isso não ocorre – quando as coisas trágicas e incompreensivelmente vão noutra direção – por mais difícil que seja, há somente uma coisa em que podemos confiar. Isso não é natural. Isso não é algo que faça sentido. Isso é algo que somente nosso Criador pode entender. E não temos escolha exceto confiar que de alguma forma, há um motivo e um significado para isto.

Um dos mais poderosos momentos em minha jornada no Judaísmo ocorreu numa conversa sobre o assassinato do jovem Marc. Eu estava em Israel, estudando para o ano, e tinha me tornado muito mais conectado ao Judaísmo. Estava gostando do estudo, do significado, do estilo de vida. Porém não podia aceitar minha dificuldade em conectar-se a um D'us que permitia que a tragédia acontecesse. Um D'us que permitira que Marc fosse baleado nas costas, arrasando para sempre a família e os amigos.

Sentei-me ali certa noite debatendo isso com uma amiga. Eu disse enfaticamente que de maneira alguma eu queria viver num mundo, ou acreditar em um D'us, que permitia que uma criança inocente fosse brutalmente assassinada. Minha amiga olhou nos meus olhos e respondeu que não queria viver num mundo onde aquela desculpa para um ser humano, aquele assassino, fosse mais poderosa que o seu D'us.

Aquilo me atingiu. Era tão verdadeiro. Eu também não quero viver num mundo onde meu D'us não é maior que estes monstros. Isso me ajuda a entender por que essas coisas acontecem? Não. Mas quem disse que devemos sempre entender? Não podemos. Porém podemos acreditar que tragédias desprezívels não ficarão impunes. Que elas não serão esquecidas. E que um dia – se D'us quiser, imediatamente – não mais sofreremos como agora, pois nosso exílio chegará ao fim.

Baruch Dayan HaEmet.
Bendito seja o Verdadeiro Juiz.


Sara Esther Crispe é escritora, palestrante e mãe de quatro filhos, é editora de TheJewishWoman.org e da seção Society & Living de Chabad.org.