Estávamos chegando ao final de nossa refeição de Shabat, nesta ultima sexta-feira a noite. Preenchida com o calor de um agradável ambiente familiar, os nossos filhos mais jovens estavam se preparando para dormir.  Binah, que recentemente se tornou bat-mitsvá, pediu permissão para ir à casa de sua amiga para um encontro de Shabat.

"Sim, querida, você pode ir", eu disse. "Apenas certifique-se que você estára de volta as 10:15."

Para mim não é algo comum estar cansada demais para aguardar Binah e seu irmão mais velho, que foi até a casa de um amigo para a refeição do Shabat, e que somente depois voltaria para casa. Apos limpar a mesa, eu me retirei para o meu quarto e mergulhei num profundo sono.

As duas horas da madrugada, meu marido pula da cama. Minha filha mais velha está chamando ele. Os soldados estão na porta. "Está tudo bem?", Atendo eles ainda sonolenta. As duas horas da madrugada, meu marido pula da cama. Minha filha mais velha está chamando ele. Os soldados estão na porta.

"Está tudo bem?", Eu atendo eles ainda sonolenta.

Meu marido verifica se todas as crianças estão a salvo em casa. Ele volta e relata que esta tudo bem para os soldados.

"O que está acontecendo?" Perguntei.

"Algum tipo de incidente de segurança", ele responde. "Eles estão verificando se está tudo bem com todas as famílias. Acho que seria melhor recitar os Salmos."

Levanto-me para acompanhar o meu marido em oração, concentrando-me nos versos positivos e bloqueando mentalmente todos os versículos que parecem insinuar más notícias. "Pense positivo e será positivo", eu dizia a mim mesma.

De hora em hora eu olhava pela janela do meu quarto. Ao lado, eu podia visualizar os veículos militares dirigindo-se na direção das casas recém-construídas do outro lado da aldeia - uma visão incomum no Shabat para a comunidade religiosa de Itamar. Isto é obviamente um caso em que profanar a santidade do Shabat é permitido: Vidas estão claramente em perigo...

De hora em hora eu olhava pela janela do meu quarto. Ao lado, eu podia visualizar os veículos militares dirigindo-se na direção das casas recém-construídas do outro lado da aldeia - uma visão incomum no Shabat Tochas militares estão explodindo no céu escuro da madrugada, iluminando as montanhas aos nossos arredores, um sinal claro de que o Exército está à procura de alguém ou algo ameaçador lá fora. Eu continuei a recitar os Salmos, tentando captar dentro do que conheço palavras de paz e tudo de positivo, ou não, pois eu não sou uma profetisa.

Eu vejo um grupo de soldados atravessando a pé o pátio da sinagoga logo abaixo de minha janela vestidos com capacetes, coletes à prova de bala e carregados com armas.

O fluxo de veículos continua. jipes Militares e ambulâncias estão agora saindo para fora da aldeia. Percebo civis caminhando rapidamente para os escritórios da vila, que também são visiveis da minha janela. Durante os tempos de perigo os escritórios servem como sede para a força-tarefa de emergência que coleta e transmite informações para nós, cidadãos.

Vendo os civis andando livremente do lado de fora, percebo que o incidente tinha chegado ao seu fim. Talvez agora possamos saber o que aconteceu. Eu ainda mantenho-me otimista.

Meu marido avista um amigo e caminha para cumprimentá-lo. Pela janela eu vejo eles se abraçarem num forte abraço. Eu tento discernir em seus movimentos se está tudo bem. Uma hora se passou desde que nos acordaram.

Exausta, eu me rastejo de volta para a cama, esperando o retorno de meu marido com as notícias.

Finalmente, ele entra e fica de pé, imóvel e em silêncio. Alguma coisa certamente esta errada.

"Alguém está ferido?"

"Sim", responde ele calmamente, e não acrescenta mais nada. Eu reconheço que se ele pudesse, certamente iria garantir-me que ninguém tinha sido assassinado. Fiquei pasma.

"Terroristas infiltraram na vila e arrombaram uma das casas", ele me fala lentamente e se cala novamente. Infelizmente, nos últimos 12 anos que vivemos aqui, Itamar tem presenciado muitos incidentes semelhantes.

"Alguém saiu ileso?" Pergunto-lhe as hesitações, bem versado conhecendo as ramificações de tal ocorrência, mas desejando apenas ouvir a parte boa da mesma forma que ele se obstem de dizer-me a parte ruim.

"Três das seis crianças foram salvas." Eu imediatamente entendi que os pais também não foram poupados.

Não querendo deixar-me às apalpadelas para mais perguntas, ele acrescenta: "Havia cinco mortos no total, os Fogels..."

Um forte arrepio aperta meu coração.

É Shabat, digo a mim mesma, tente não chorar no Shabat.

Eu tentava derrotar as lágrimas que ameaçavam submergir-me com o poder da minha mente, regulando a minha respiração, ao ritmo de uma meditação Chassídica. Eu me arremessei e me virei em minha cama. Nas próximas horas eu não consiguia dormir. Rumo a madrugada, eu finalmente caio num sono curto, entrecortado, tendo sonhos muito estranhos.

Acordo às sete horas ao som das vozes de meus filhos, ainda esperando brevemente que a noite passada não havia sido nada mais que um terrível pesadelo.

Meu marido já estava na sinagoga, rezando na primeira oração da manhã, como ele faz todos os dias. Devo levantar-se para contar às crianças do incidente, antes que elas corram para fora e escutem as notícia chocante de outras fontes.

"O encontro de Shabat que fui na noite passada foi na casa dos Fogels!" Binah me diz em meio às lágrimas, ao sentar ao lado dela em sua cama. "Partimos todas de lá juntas e Tamar [Fogel] estava com a gente!"

"É por isso que ela sobreviveu", eu respondo, acariciando-a gentilmente.

Durante o Shabat, tudo gira em torno do atentado terrorista que deixou Tamar e dois de seus irmãos mais novos tão terrivelmente órfãos em idade tão precoce.

"A Sra.Fogel estava ajudando na organização das comemorações para o vigésimo aniversário do Talmud Torá [escola dos meninos]," meu filho de catorze anos de idade nos fala com lágrimas nos olhos.Neste ano, até que a bebê Hadas nasceu, Ruth Fogel havia trabalhado como secretária para a escola, enquanto a secretária regular estava de licença para a maternidade.

"No ano passado ela foi professora da outra turma do nono grau," disse minha filha que agora estuda no décimo grau. "Ela também nos deu aula..." e, recordo-me agora, a Sra.Fogel, muitas vezes deu carona a minha filha para a escola.

Após as orações da manhã cada uma das crianças vai para uma reunião, organizadas especialmente com os seus educadores mais próximos da vila e com profissionais no tratamento de traumas. Lá eles escutam a história toda de uma forma que é, supostamente adequada à sua idade (será que realmente existe alguma maneira de dizer as crianças que seus colegas de escola e seus pais foram brutalmente assassinados a sangue frio?)

Embora eu mal conhecia a família pessoalmente, isso não ajuda a aliviar o choque, o horror, a dor que eu compartilho com meus filhos, com minha comunidade e com o meu povo. E, eu me recordo, D'us diz que também partilha da nossa dor com a gente: "Em todos os seus problemas, Ele está com problemas."(Isaías 63:9; Talmud Taanit, 16a)

Os nomes das vítimas ainda não foram liberados para o público em geral. Após o termino do Shabat, ligo para o meu filho de dezessete anos na Yeshivat Mercaz Harav - em Jerusalém. Foi apenas há três anos que estávamos em nosso juízo final em preocupação sobre o que estava acontecendo lá?Ele estava apenas na nona série naquela época, e, pela providência divina foi para fora da yeshiva quando o pistoleiro atirou contra a os meninos que estudavam na biblioteca, ferindo o companheiro de quarto dele e assassinando um de seus colegas juntamente com sete outros alunos...

Eu não posso fazer uma chamada fora do meu telefone celular - a rede está ocupada, provavelmente sobrecarregada com chamadas de pessoas que acabaram de escutar a notícia terrível. Eu chamo novamente a partir de nossa linha local e ele responde imediatamente.

"Você ouviu as notícias?" Pegunto-lhe gentilmente.

"Certamente. Meus amigos me disseram que algo estava acontecendo em Itamar e eu estava justamente agora verificando na Internet. Estava preocupado com você." Eu não perguntei porque ele não nos ligou diretamente para descobrir se estava tudo bem.

Meu coração ficou despedaçado. Por que meus filhos tem que conhecer tanto sofrimento em tão tenra idade?

Ao contrário do meu coração, minha fé é um todo, como é a fé de nossa comunidade e de todos aqueles que constroem suas casas em cada parte da Terra de Israel. Estamos conscientes de que ao viver onde vivemos estamos protegendo Jerusalém desses ataques hediondos, e Tel-Aviv, Haifa, Netanya, Ashdod... Não importa o quanto sofremos, nossa fé cresce cada vez mais. Nós canalizamos nossa dor em ações positivas, situando-se solidamente em nossa determinação de nunca sucumbir ao uso da violência contra a brutalidade que nos bate na cara de novo e de novo. Para cada judeu assassinado, mais pomares, mais campos e mais estufas serão plantadas; outra casa, outro bairro, outro vilarejo será construído, com a compaixão e a benevolência que aprendemos da Torá e iremos continuar a ensinar aos nossos filhos.

O nosso legado é o mesmo legado de fé que os Fogels, Ehud, Ruth e seus três filhos inocentes, nos deixaram.Juntos, eles construíram um lar em Netzarim, em Gush Katif, apenas para serem expulsos de suas casas, suas vidas arrancadas, para nossos inimigos caminharem por cima de suas ruínas em uma fantasia de paz que nunca foi realizada. Destemidos, eles se mudaram para a cidade de Ariel, e então, finalmente, Itamar - apenas dois anos atrás.Rabino Ehud encontrou seu lugar como um dos rabinos da escola aqui e Ruth continuou a construir a sua linda família em seu novo lar. Juntos, eles plantaram um olival e ensinou seus filhos a amar o povo de Israel, amar a Torá e amar a Terra de Israel. Juntos, eles foram arrancados de nós pelas mãos brutais de terroristas sanguinários.

Que as almas dos Fogels sejá atada no fascículo de vida.

Já não é mais Shabat, agora sim podemos chorar.