Tendo tido a oportunidade de visitar a esposa do Rebe, Rebetsin Chaya Mushka, o Sr. Jules Lassner ficou profundamente impressionado pelo seu calor, hospitalidade e pelo interesse genuíno que ela demonstrava pelos outros.

Numa manhã de domingo, quando ele passava pelo Rebe para receber um dólar para caridade, ele reuniu coragem para dizer: “Após conhecer sua esposa, entendo a expressão: ‘Por trás de todo grande homem há uma grande mulher!’”

O Rebe abriu um sorriso de orelha a orelha.

Quem foi a Rebetsin, que teve o mérito único de ser filha e depois esposa de Rebes sagrados e que mudaram o mundo?

Pouco se sabe sobre ela. Não devido à falta de interesse, mas ao seu ardente desejo de permanecer desconhecida.

Rabi Chesed Halberstam, ajudante pessoal da Rebetsin, relata que em certo Rosh Hashaná ele perguntou a ela se preferia ouvir o shofar tocado em casa, em vez de ir ao “770”, a sinagoga central Lubavitch onde seu marido tocava juntos com seus chassidim.

Ela respondeu: “Não posso suportar o alvoroço que as pessoas fazem quando apareço em público.”

Ela preferia sentar-se sozinha em casa, distante da comunidade e da pequena família que tinha deixado Outras em sua situação poderiam ter procurado, ou pelo menos concordado em receber a honra e o respeito direcionados a esposa de um Rebe. Não ela. Ela preferia sentar-se sozinha em casa, distante da comunidade e da pequena família que tinha deixado, do que tirar vantagem de seu status de Rebetsin e ter a atenção voltada para si mesma. 1

Rabino Shmuel Lew de Manchester, Inglaterra, relata uma história ocorrida quando sua filha adolescente estava estudando numa escola Lubavitch em Nova York. O avô da menina, Sr. Zalmon Jaffe, que tinha um caloroso relacionamento com a Rebetsin, mencionou a ela que sua neta não tinha família em Nova York, o que seria especialmente difícil para ela quando chegasse o inverno, pois haveria um casamento na família em Londres, e ela não poderia ir. A Rebetsin disse a ele para não se preocupar. “Eu manterei contato com ela, se D'us quiser.”

Passaram-se as semanas, mas a moça não ouviu falar da Rebetsin. Somente mais tarde foi revelado que a Rebetsin tinha telefonado para a escola, pedido para falar com a Srta. Lew. A secretária, sem saber quem estava do outro lado da linha, disse: “Desculpe, mas nossa escola não permite telefonemas.” A Rebetsin agradeceu e desligou, e por fim encontrou uma outra maneira de contactar a moça.

O que é incrível é que a Rebetsin não se identificou para a secretária – o que certamente teria produzido resultados imediatos e teria poupado a ela futuro incômodo e esforço; era simplesmente o jeito dela.

De fato, qundo a Rebetsin fazia pedidos às mercearias e falava com os comerciantes locais, ela se identificava simplesmente como “Sra. Schneerson da President Street.”

Seu nome, seu endereço, mas não seu status.

Como isso nos lembra da nossa primeira Rebetsin, Tziporah, esposa de Moshê. “Ela não se comportva de maneira superior e esnobe, ‘à maneira da realeza’, mas de forma simples e com humildade. Foi por esse motivo que Moshê a desposou.”  2

Um Paradigma de Altruísmo

Durante várias décadas, o Rebe, além de seus outros deveres exaustivos, recebia pessoas para audiências privadas algumas noites por semana.
Às vezes ele chegava em casa às três da madrugada, às vezes às cinco, e em algumas ocasiões voltava quando já estava claro lá fora.

A Rebetsin certa vez contou à Sra. Hadassah Carlebach, parente da Rebetsin e às vezes sua confidente, que sempre esperava acordada pelo Rebe. Que seu marido voltasse para uma casa às escuras e encontrasse o jantar frio não lhe passava pela cabeça.

Segundo Louise Hager, que também tinha um relacionamento próximo com a Rebetsin, ela tomava medidas extraordinárias para que o marido encontrasse em casa um porto seguro de paz, tranquilidade e apoio.

Isso demandava enorme sacrifício pessoal.

A Sra. Hager observa que embora a Rebetsin tivesse sido criada num lar semelhante àquele que teve mais tarde – onde o homem da casa (na época seu pai) era totalmente devotado ao bem-estar da nação judaica – enquanto crescia na Europa, ela tinha sido abençoada com uma família grande e bastante apoio. O mesmo não ocorria nos Estados Unidos, onde não tinha muitos membros da família, nem qualquer filho para mantê-la ocupada. Portanto era com grande custo pessoal que ela “abria mão” do marido para que as vidas de outras pessoas fossem melhoradas e portanto um mundo inteiro se beneficiasse.  3

O Supremo Sacrifício

Mais uma vez nos lembramos de Tziporah. Ela, também sacrificou muito do seu relacionamento pessoal com o marido para que ele pudesse servir à comunidade em geral. De fato, segundo nossos Sábios, ela não estava presente no Egito quando a carreira de Moshê decolou e ele foi entronado como líder dos israelitas. Ela não teve o prazer de ficar ao seu lado quando ele foi iniciado como profeta.

Imagine o orgulho que ela teria (com todo o direito) sentido se visse seu marido enfrentar o tirano faraó, iniciar dez exibições históricas de poder Divino, e levar liberdade a escravos maltratados!

Na verdade, segundo uma opinião, 4 ela nem sequer esteve presente no Sinai, para testemunhar a conquista mais monumental de seu marido – quando ele foi escolhido para entregar a palavra de D'us ao homem, mudando para sempre a paisagem da história do mundo!

E o supremo sacrifício que essa supermulher terminou por fazer foi aceitar uma separação de seu sagrado marido, para que ele pudesse atingir um nível de profecia mais elevado e sem precedentes, mencionado na Torá como profecia “face a face”.

Sem os seus sacrifícios, onde estaríamos hoje?

Foi nos seus passos que a Rebetsin caminhou, levando uma vida devotada ao próximo.

Não Apenas “Altruísta”

“É uma questão de vida ou morte,” implorou a mãe.

Era uma manhã de inverno em 1966, às 3:30 da manhã. O Rebe já tinha saído do escritório para ir para casa – de certa maneira mais cedo que de costume, pois não tinha havido yechidut (audiência privada) naquela noite.

Então uma mulher telefonou freneticamente para o secretário do Rebe dizendo que sua filha, um bebê, tinha acabado de cair e estava numa situação crítica. Os médicos estavam discutindo sobre qual procedimento tomar, e ela precisava desesperadamente da bênção e do conselho do Rebe.

O secretário do Rebe explicou em tom de desculpa que ela teria de esperar até a manhã, e que ele consultaria o Rebe assim que ele chegasse.

“É uma questão de vida ou morte”, suplicou a mãe. “Preciso de uma resposta agora!”

O secretário decidiu ligar para a casa do Rebe. Se alguém atendesse, ele pediria desculpas por chamar tão tarde. Discou pouco à vontade; a Rebetsin atendeu: “Ver ret?” (Quem está falando?)

O secretário se identificou e disse imediatamente: “Desculpe por ligar tão tarde,” e continuou desculpando-se. “É chutzpah telefonar a uma hora tão tardia, mas há uma senhora aqui em desesperada necessidade. Ela diz que é uma questão de vida ou morte.”

“Por que está se desculpando?” exclamou a Rebetsin. “Pelo contrário, meu marido e eu fomos enviados a este mundo para servir às pessoas em necessidade vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana. Com o seu chamado, você está nos ajudando a cumprir nossa missão.” 5

Há muitas pessoas que se sacrificam pelos outros, mas quantas delas não se sentem justas por isso?

As palavras da Rebetsin não eram apenas altruístas – eram mais do que isso, Elas refletiam uma total abnegação de si mesma.6

Deixando Espaço para Outros

A Sra. Leah Kahan, parente da Rebetsin, certa vez a visitou em casa. Na mesa da sala de jantar havia alguns itens manufaturados que se podia identificar como tendo a função de angariar fundos. A Rebetsin voltou-se para a Sra. Kahan e numa voz repleta de orgulho, disse: “Veja o que os shluchim e shluchot [os emissários do Rebe em todas as partes do mundo] me enviaram.” Ela continuou a falar sobre como a vida deles era extenuante e ocupada, “porém apesar de suas ocupações, tiveram tempo para pensar em mim! E por que eu? Quem sou eu?”

A essa altura, a Sra. Kahan, que não pôde mais aceitar a modéstia da Rebetsin, interveio e disse: “Rebetsin, não sabe o que você significa para os shluchim?” A Rebetsin, com um ligeiro sorriso mas um tanto contrariada, respondeu: “Leah, você está sendo um pouco severa.” Como se para dizer: “Você não está dando suficiente consideração às provações e aos sacrifícios, e no que significa para eles separar um tempo para pensar sobre mim.”

Aqui somos presenteados com o outro lado do quadro.

Quando se tratava de si mesma, ela não aceitava crédito por levar uma vida altruísta Quando se tratava dela mesma, não aceitava crédito por levar uma vida altruísta; de fato, ela agradecia aos outros por “a ajudarem” a viver a vida por eles. Mas quando se tratava de outros e dos sacrifícios que eles faziam, sua voz se enchia de orgulho quando destacava seus méritos.

Última Vontade e Testamento

Dr. Robert Feldman era um dos médicos da Rebetsin.
Numa tarde de sexta-feira, a filha do Dr. Feldman, Sarah, visitou a Rebetsin junto com sua irmã mais nova. Na época, Sarah estava começando a namorar, e utilizou seu tempo com a Rebetsin para comentar este novo e empolgante estágio em sua vida. A Rebetsin a aconselhou como se fosse uma mãe, dando- lhe objetivo e propósito.

Cerca de um ano depois, Sarah estava para ficar noiva de seu futuro marido, Levi Shemtov. Seu pai arranjou para que ela visitasse a Rebetsin a fim de comunicar-lhe a boa notícia. A visita transcorreu de maneira muito agradável, e a Rebetsin estava obviamente encantada.

Aquele encontro ocorreu apenas dez dias antes de a Rebetsin falecer; sem que Sarah soubesse, a Rebetsin estava sofrendo dores terríveis.

Por ocasião do noivado de Sarah, a Rebetsin telefonou para desejar-lhe tudo de bom. Desnecessário dizer, a noiva ficou muito contente.

O futuro casal pretendia visitar a Rebetsin, mas foram informados de que teriam de esperar até que ela melhorasse. Infelizmente, isso não viria a acontecer. Na noite do falecimento da Rebetsin, 22 de Shevat de 1988, o Dr. Feldman acompanhou a Rebetsin na ambulância que a levou ao hospital.

O que se passava na mente da Rebetsin uma hora antes de ela falecer, você se pergunta?
A Rebetsin, sofrendo terrivelmente, não perguntou ao Dr. Feldman: “É muito grave? Será preciso uma cirurgia? Qual é o meu prognóstico?”

Em vez disso com suas últimas forças e com pouco tempo de vida, ela se compôs e perguntou animada: “Então, Doutor, como está o futuro casal? Eles estão felizes?” Enquanto as sirenes tocavam lá fora, ela não parou para pensar em si mesma e no seu destino, mas continuou a perguntar: “Quando é o casament? Por favor, fale-me a respeito…”

Pensando sobre o bem-estar de outros, ela devolveu sua sagrada alma ao Criador Foi assim que ela passou os últimos momentos na terra, cumprindo sua missão de “servir às pessoas em necessidade vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana.”

Com pensamentos sobre o bem-estar do próximo, ela devolveu sua sagrada alma ao Criador. Mas a história não para por aqui.

Logo depois da shivá, o período de sete dias de luto pela Rebetsin, o Rebe falou com o Dr. Feldman: “Diga-me, quando é a festa de noivado?” ele perguntou.

Essa não era uma pergunta fácil de responder. Segundo o plano original, a festa estava marcada para breve, ainda dentro dos trinta dias a partir do falecimento da Rebetsin, considerado pela Lei Judaica como um período de luto, embora em menor grau. No entanto, celebrar uma ocasião festiva não era um problema de pequena importância.

Antes que o Dr. Feldman pudesse responder, o Rebe continuou: “Deveria ocorrer no dia originalmente planejado, e não ser menor do que os planos originais. Na verdade, deveria ser ainda maior!

“Além disso,” continuou o Rebe – e aqui ele se afastou das orientações que tinha estabelecido sobre festas de noivado, de que elas deveriam ser feitas em casa e com poucos convidados, a fim de controlar as despesas – “não deveria ocorrer em casa, mas num salão alugado…” isso jamais fora ouvido antes – “… e deve haver música ao vivo [!], e o principal: muita alegria!”
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O tom de voz do Rebe suavizou-se e numa voz repleta de emoção ele disse: “Deveria ser feito assim porque é isso que a Rebetsin teria desejado… e isto é o que a fará feliz…”

Aparentemtente, a Rebetsin estava fazendo sua missão, cumprida à perfeição aqui na terra, mesmo lá do seu lugar elevado no céu.

O Rebe tinha assegurado que o legado dela iria continuar.