Tia Rosie nasceu judia. Ela faleceu a noite passada. Nesse ínterim, teve muito pouco contato com o Judaísmo. Muito pouco. Tia Rosie – a tia de minha mulher, única irmã de sua mãe – é fácil de descrever. Era baixinha, rechonchuda, grisalha e sempre sorridente. Desde que a conheci, há mais de duas décadas no dia de meu casamento, ela sempre foi baixinha, rechonchuda e quase sempre sorridente. Ela via o mundo como ele era, mas nunca via o mal. Podia criticar as pessoas, especialmente parentes – não foi somente a idade que a fez mordaz. Às vezes ela podia ser um tantinho ácida, como uma laranja doce. Mas com todo o julgamento vem a aceitação.
Ela amava simplesmente. Ela amava generosamente. E gentilmente. Deixemos estas duas palavras se entrelaçarem e talvez se tenha um vislumbre de sua personalidade. Uma gentileza generosa. Uma generosidade gentil. Mas mesmo então, alguma sutileza, alguma nuance quixotesca poderia escapar à atenção.
Ela nem idealizava nem romanceava, embora se pudesse tomá-la por devota de uma das duas atitudes, tanto otimismo e animação havia em seu modo de ser. Ela podia ficar furiosa, contrariada, mas resistia a isso. Tinha repulsa pelas paixões, pois temia o fogo na alma.
Enfrentava a vida com uma espécie de placidez. Podia-se descrevê-la como temerosa – tanto apreensiva quanto reverente, ansiosa e respeitosa. Mas não era tímida. Uma pessoa simples, para quem lógica e discussão eram estranhos, pois sua prece e D’us eram reais, tangíveis sem constrangimento.
Tia Rosie tinha apenas uma sobrinha, minha mulher, e comprazia-se com ela e seus filhos. Suas realizações eram secretamente triunfos para ela. Mas suficientes. Há uma virtude furtiva. E se você consegue imaginar um apego impaciente, afeição ansiosa e fervor para sorrir, então talvez você tenha uma idéia do que era Tia Rosie.
Eu comecei: "Tia Rosie nasceu judia. Ela faleceu a noite passada. Nesse ínterim, ela teve muito pouco contato com o Judaísmo." Este, evidentemente, é o tema principal aqui. Sua irmã, a mãe de minha esposa, disse: "Ela deveria ter um enterro judaico adequado. Afinal, nasceu judia, e é isso que ela era." E pediu-me para ver se era assim.
Minha sogra mora na Flórida. Minha mulher e eu em outro estado. Tia Rosie morava no Nordeste. E portanto chamei um sheliach – um emissário, rabino de Chabad – Rabi Moshe Bleich de Welesley, Massachussets. Não nos conhecíamos. E aqui estava eu, um judeu de uma cidade distante, pedindo-lhe para fazer o funeral da tia de minha mulher, como deve ser o enterro de um judeu. Contei-lhe a história de Tia Rosie. Uma alma judia precisando aproximar-se. Mas o Lubavitcher Rebe ensinara que nenhum judeu, nenhum filho de Avraham, Yitschac e Yaacov, Sarah, Rivca, Rachel e Leah, podia se afastar do Judaísmo, ficar distante de casa. Trata-se de aproximar-se daquilo que já somos.
O sheliach fez o que fez porque é isso que os judeus fazem uns pelos outros. Talvez ele jamais tivesse visto qualquer um de nós – eu, minha mulher, os parentes dela. Mas uma neshamá, uma alma judaica, sempre reconhece outra, pois ao fazê-lo, reconhece a si própria. Esta bondade é descrita no livro básico da filosofia Chassídica de Chabad, o Tanya, capítulo 32, para que todos vejam. "Ama teu próximo como a ti mesmo" (Vayicrá 19:18)… pois quanto à alma e espírito, quem pode conhecer sua grandeza e excelência em sua raiz e fonte no D’us vivo? Sendo todos iguais…"
A unicidade e união do povo judeu. Tia Rosie teria gostado disso, se alguém lhe perguntasse.
Ela, que evitava contendas, que fugia da discórdia, que abominava a discordância – ela que sabia tão pouco sobre o que era, uma alma judia. Pois um judeu não se importar – ou importar-se com – outro judeu? Creio que ela teria gostado do Chabadnik, o rabino – o judeu – que certificou-se de que sua vida terminaria como começou. E acho que ela teria nos pedido para considerar que amar ao próximo judeu e a unidade judaica deveria estender-se, em palavra e ação, ao judeu no outro lado da mesa, no outro lado do espectro, no outro lado nosso. Pois os lados são externos, e dentro está somente uma neshama, uma alma judia…L'ilui nishmata – para a elevação da alma – de Raizel bat Yossef.
O Rebe nos ensina a nos concentrarmos no positivo e no prático. Em homenagem a Tia Rosie – e não temos todos nós uma Tia Rosie em nossa vida? – acenda velas de Shabat. Se você já costuma acender velas, encoraje alguém a fazê-lo. Dê um sorriso extra a cada dia, como está escrito: "Sirva a D’us com alegria" (Tehilim 100:2) e "Cumprimente cada pessoa com um semblante agradável" (Ética 1:15). E reze pelo bem-estar de Israel, Jerusalém, e pelo povo judeu no mundo inteiro, para que o conflito atual leva à definitiva e verdadeira Redenção, ao tempo em que "o mundo inteiro estará repleto da consciência da Divindade", e quando "aqueles que habitam no pó despertarão e se alegrarão".
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