O Talmud (Tratado Berachot 17a) relata que o grande sábio Rabi Alexander acrescentava a suas preces diárias as seguintes palavras de súplica: "Mestre do mundo, está claramente revelado a Ti que nosso desejo é concordar com a vontade Divina. Entretanto, é o fermento na massa que nos impede de fazê-lo."

Nossos sábios usam de forma críptica a metáfora de "fermento na massa" para caracterizar a má inclinação dentro de nós. Que quer dizer este conceito de chamêts que nos impede de encontrar a espiritualidade?

Rabi Chaim Friedlander explica que a fermentação da massa é basicamente um processo natural. Adicionar fermento ou outros agentes de levedura simplesmente apressa a transformação química. Quando farinha e água são misturadas e uma determinada quantidade de tempo passa naturalmente, uma alteração química ocorrerá, tornando a mistura chamêts. O processo de fermentação foi colocado em movimento simplesmente permitindo-se que a natureza seguisse seu curso nesta mistura. Por outro lado, a matsá, embora seja composta de ingredientes idênticos, é produzida por intervenção humana. É um processo apressado, que atinge seu objetivo através de manipulação cuidadosa e estritamente supervisionada dos ingredientes, dentro de um período de tempo específico. Nossa iniciativa e criatividade, não o decorrer natural do tempo, produz o resultado desejado.

Chamêts, portanto, é simbólico de teva, natureza. A noção de que a natureza governa nossa existência e nos impele vida afora é antiética a um judeu de Torá. Ao contrário, a matsá sugere uma força Divina acima e além do curso natural dos eventos que subjugam a natureza à sua vontade, e produz um resultado desejado para facilitar o plano Divino para o homem.
O Zohar relata que, quando o povo judeu deixou o Egito, confundiu-se quanto a determinados pontos da fé. Hashem exclamou que eles deveriam tomar seu remédio e sua incerteza espiritual desapareceria. A medicina era a matsá, e ao comê-la os Filhos de Israel ficaram curados de sua moléstia espiritual.

Ao comer matsá no sêder deste Pêssach, ao invés de se concentrar em quão pesada e dura é, por que não prestar atenção na mensagem da matsá que insiste para reafirmarmos que Hashem dirige todos os eventos da vida, e que nossas ações têm impacto na maneira como Ele se relaciona conosco. A natureza não determina nosso destino – isso é feito por nosso comprometimento com a Torá e as mitsvot.