A Porção da Torá desta semana nos introduz ao sagrado Mishcan. A maior parte desta Porção contém descrições detalhadas dos muitos utensílios usados. Dessa maneira, D'us dedica vários versículos a cada componente, descrevendo suas medidas exatas e o aspecto, para que Moshê entendesse exatamente como construir cada utensílio. Tal Porção da Torá, que parece conter apenas uma lista dos diversos objetos, poderia ter uma aparência um tanto monótona. Entretanto, logo no início nos defrontamos com uma estranha discrepância.
No início da explicação da Arca Sagrada, D'us ordena a Moshê: "Eles construirão a Arca" (Shemot 25:10), usando a forma plural, como se falando a um grupo de pessoas que participarão na construção das várias partes do Mishcan. Certamente poder-se-ia esperar que a descrição de cada um dos numerosos itens seguisse uma estrutura gramatical semelhante. Entretanto, este não é o caso. Na verdade, a Arca é a única vez onde encontramos o uso da forma plural; todos os outros itens da descrição são precedidos pela ordem no singular "Tu construirás," parecendo indicar que uma única pessoa estaria envolvida na edificação do Mishcan. Como resolver esta contradição? Quem era de fato responsável pela sua real construção?
Antes que tentemos resolver nosso problema, primeiro devemos preceder nossas observações com um importante princípio. Os comentaristas explicam que os muitos utensílios e as vestimentas dos Cohanim do Mishcan não eram escolhidos ao acaso. Ao contrário, cada um dos vários componentes representava uma faceta do Judaísmo e do povo judeu. Dessa maneira, cada utensílio e sua descrição continham numerosas mensagens e temas subjacentes para a nação judaica. A Arca Sagrada, explicaram os comentaristas mais tarde, corresponde à Torá e seu estudo; isso não é surpresa, pois a Arca continha o verdadeiro Rolo da Torá e as Tábuas dos Dez Mandamentos entregues diretamente a Moshê por D'us. Portanto, a descrição da Arca deveria nos fornecer alguma percepção sobre a natureza da Torá e seu estudo.
Neste estilo, o Ramban procura esclarecer a discrepância gramatical acima apresentada. A respeito de qualquer projeto ou empreendimento meritórios assumidos em nome do Judaísmo, a pessoa pode-se considerar um parceiro simplesmente por contribuir com dinheiro e outros recursos para ajudar outras pessoas a completarem o projeto. Por este motivo, a respeito de todos os outros utensílios do Mishcan, a Torá dirige sua ordem somente a Moshê, pois o povo judeu já fizera sua parte ao contribuir com a matéria prima para o fundo de construção. Agora Moshê deve continuar o trabalho realmente construindo os utensílios.
Entretanto, este não é o caso quando se trata do estudo de Torá. Portanto, a ordem de construir a Arca, que como já foi mencionado antes representa a Torá e seu estudo, é dirigida não apenas a Moshê, mas a todo o povo judeu. D'us deseja indicar que embora o povo tenha contribuído com prata e ouro, deve apesar disso participar da real construção da Arca Sagrada - e, por extensão, do estudo de Torá.
É claro que quem doou os recursos pelo mérito do estudo da Torá deve ser grandemente louvado e parabenizado. Entretanto, ao mesmo tempo, deve entender que não pode simplesmente sentar-se de lado e permitir que outros sozinhos estudem a Torá. Todos devemos participar neste empreendimento. Também não devemos pensar que a Torá é um livro fechado, reservado para eruditos e mentes brilhantes. A Torá pode ser estudada em muitos níveis diferentes e de vários ângulos, de forma que cada indivíduo pode abordá-la segundo seu próprio nível. Do amador ao grande erudito, a pessoa só tem a ganhar estudando-a.
A Torá é eterna e lá está para que a estudemos a qualquer tempo - e agora é o tempo de abri-la e vermos os tesouros que contém.
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