Após o episódio do pecado do Bezerro de Ouro, a Torá relata: “D'us falou a Moshê: “Vai, levanta daqui, você e o povo que você trouxe da terra do Egito...” (Shemot 33:1)
Rashi comenta: “Você e o povo” – Aqui não diz “seu povo.”
Rashi está abordando a seguinte dificuldade:
Antes, quando D'us informou Moshê sobre o pecado cometido pelo povo, Ele ordenou a Moshê, “Desça, pois seu povo, a quem você trouxe do Egito, se tornou corrupto” (Shemot 32:7).
Rashi explica que a frase costumeira "seu povo" refere-se à “mistura de povos convertidos” (erev Rav) – a quem Moshê aceitou dentro do povo judeu, por conta própria, sem consultar D'us. D'us depreciou a multidão misturada, referindo-se a eles como o povo de Moshê e não o povo de D'us, pois foram eles que instigaram o pecado do Bezerro de Ouro.
Após Moshê, com sucesso, pedir perdão a D'us, e depois que os judeus idólatras foram punidos, D'us disse a Moshê para continuar na direção da Terra de Israel.
Rashi conclui que o povo mencionado em cada versículo era de fato formado por diferentes segmentos da nação. O povo no capítulo 32 – “Vai e leve o povo para onde Eu lhe disse” – constituía-se de membros remanescentes do povo judeu original, que não pecou com o Bezerro de Ouro e que foi poupado da pena capital.
O povo no capítulo 33 – “Vai, suba daqui, você e o povo que você trouxe da terra do Egito” – formava-se por alguns membros da multidão misturada, que pecou com o Bezerro de Ouro, mas os quais foram poupados da punição, pois não haviam testemunhas do pecado, nem advertência prévia. E Moshê foi ordenado a levar esses pecadores da mistura de povos, junto consigo, na subida a Israel.
Assim, Rashi comenta: “Você e o povo” – Aqui não diz “seu povo”. Embora previamente a multidão misturada estivesse num estado degradado, pecaminoso – “seu povo”’ – agora eles estavam prontos para ir a Israel e seriam mencionados numa maneira mais digna, inclusiva: “o povo”. Embora eles tivessem pecado na maneira mais ofensiva, por meio do seu arrependimento, eles se elevaram da sua posição inferior e se juntaram à remanescente nação judaica – “o povo”.
O Baal teshuvá, que estava engajado com o mal, por meio do seu arrependimento, elevou-se e transformou aquela experiência negativa em energia sagrada. Assim, ele revelou que D'us é Um, até com as forças negativas dentro da Criação.
Para atingir essa mostra de Sua unidade no mundo, D'us "criou" o pecado do Bezerro de Ouro, para que esse pecado pudesse ser retificado por meio do arrependimento. O pecado mais baixo e mais escuro foi perpetrado pela multidão misturada, por aqueles indivíduos que não apenas pecaram por eles mesmos, mas também incitaram outros a pecar. Seu arrependimento, portanto, representa a total realização do “plano” Divino, ou seja, a transformação do mal abjeto, para revelar a unidade de D'us.
A Lição:
Não se justifica não ensinar e mesmo não interagir com aqueles que estão engajados em comportamentos pecaminosos, pois a mais profunda expressão da unidade de D'us se alcança não com o serviço do justo, mas com a difícil transformação do penitente.
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