Reb Nota foi contratado por um simples aldeão para ensinar seus dois filhos. Tudo sobre Reb Nota parecia bastante comum. Ele ensinava, rezava, estudava, comia, ele descansava. No Shabat costumava se juntar à família durante a refeição de Shabat e depois retirava-se ao seu quarto, para desfrutar um pouco de descanso.

Na sexta-feira, a dona da casa acordou no meio da noite e ouviu ruídos. Em seguida, o silêncio. Após alguns momentos de confusão, ela percebeu que era a voz melodiosa do professor, e que ele estava cantando as preces noturnas do Shabat! Ela decidiu observá-lo mais atentamente no dia seguinte.

Na refeição do Shabat durante o dia, a mulher notou que Reb Nota apenas fingia comer. De vez em quando ele colocava alguns bocados de comida num lenço que tinha no colo. Como ela jamais percebera isso antes? Depois da refeição, ela ouviu novamente à porta de Reb Nota. Dessa vez, também, escutou a mesma bela voz entoando as preces matinais do Shabat, com grande devoção. Pelo buraco da fechadura ela viu que após completar suas preces, Reb Nota fez kidush com o vinho, abluiu as mãos para o pão e recitou a bênção hamotsi. Então serviu-se da modesta refeição que tinha guardado no lenço.

A mulher percebeu que Reb Nota não era um simples professor, e revelou ao marido tudo aquilo que havia visto. Juntos, fizeram a Reb Nota a seguinte oferta: "Sabemos que é um homem justo. Pedimos que permaneça conosco e não lhe faltará nada. Pode estudar e rezar à vontade. Nossos filhos são simples como nós e sabemos que eles jamais serão grandes eruditos de Torá. Pedimos apenas que como retribuição, passe algum tempo com eles todos os dias, ensinando a porção semanal da Torá, leis simples e ensinamentos éticos, para que eles possam ter uma vida íntegra e repleta de amor a D’us e ao próximo."

Reb Nota concordou com a generosa oferta do casal. O tempo passava, e os aldeões começaram a perceber as maneiras simples mas exemplares de Reb Nota. Voltaram-se a ele em busca de conselho e ensinamentos de Torá. O aldeão e sua mulher recebiam calorosamente em sua casa os eruditos que começaram a chegar de longe para ouvir os ensinamentos de Reb Nota. D’us abençoou o casal e sua loja prosperou.

Finalmente, os anciãos de Vladova pediram a Reb Nota que se mudasse para sua cidade, e ele concordou. Poucos anos depois, a comunidade de Chelm na Polônia convidou-o para ser seu rabino, Reb Nota aceitou o pedido e foi ali que se tornou famoso como o rebe, Reb Nota de Chelm.

Passaram-se os anos, e os negócios do aldeão começaram a declinar. Por fim, ele se viu obrigado a vender suas propriedades até que nada lhe restou. A essa altura, sua mulher disse: "Talvez você devesse procurar Reb Nota de Chelm e pedir-lhe uma bênção. Certamente ele se lembrará de nós e nos abençoará."

O aldeão viajou a Chelm, Imagine sua surpresa quando chegou ao escritório de Reb Nota e, após esperar, na fila para ser recebido foi cumprimentado da mesma maneira que todos os outros visitantes!

O aldeão procurou lembrar-se que era a véspera do Shabat e que Reb Nota estava ocupado. Com certeza seria diferente depois. Durante todo o Shabat, o aldeão recebeu a mesma gentileza e reconhecimento que qualquer outra pessoa que tinha vindo passar o Shabat com Reb Nota, mas nada além disso.

O homem ficou tão desapontado que mal podia se conter. Quando estava na hora de sair, apresentou a Reb Nota seu bilhete como faziam todos os outros visitantes. Reb Nota leu a mensagem e abençoou-o, como fizera com todos os outros que ali se encontravam.

O aldeão não pôde mais se refrear. Reuniu sua coragem e disse: "Rebe, tenho uma pergunta que está me incomodando."

"Faça-a" – disse Reb Nota gentilmente.

"Todos os dias, durante cada uma das três preces diárias, mencionamos os méritos dos Patriarcas. Nos dias que antecedem Rosh Hashaná, também pedimos a D’us: 'Lembra-Te do pacto que fizeste com Avraham e do sacrifício de Yitschac.' De Rosh Hashaná até Yom Kipur, pedimos a D’us para nos ajudar pelo mérito dos Patriarcas. Finalmente, chega Yom Kipur e no decorrer daquele dia lembramos a D’us o mérito dos Patriarcas. Na última prece de Yom Kipur, Neilá, lembramos a D’us de 'Nosso Pai Avraham que Te conheceu desde a infância.' Já não mencionamos Avraham, Yitschac e Yaacov o suficiente? O que é acrescentado aqui?"

Reb Nota sorriu. "Certamente você tem uma resposta. Por favor, compartilhe-a comigo."

"Bem" – começou o aldeão – "no clímax de Yom Kipur, estamos preocupados de que um anjo acusador possa dizer: 'Qual o mérito dos Patriarcas? Mesmo que eles jamais tivessem existido, todos ainda conheceriam a grandeza de D’us, que criou céu e terra e os sustém.' E é por isso que dizemos: 'Nosso pai que Te conheceu desde a infância.' Avraham reconheceu a grandeza de D’us quando ninguém mais O reconheceu. Foi Avraham o primeiro a tornar conhecido o Nome de D’us. "O mesmo ocorre comigo" – continuou timidamente o aldeão. "Sem mim, o Rebe seria ainda um homem justo. Mas quem conhecia e quem jamais ouvira falar do Rebe anos atrás? Não fui eu que tornei o nome do Rebe conhecido? Por que então, Rebe, não toma conta de mim quando estou passando necessidades?"

Reb Nota sorriu bondosamente mais uma vez. "Vá em paz e D’us certamente fará seu negócio prosperar daqui em diante."

E assim foi. A partir daquele dia, os negócios do aldeão prosperaram, até que ele de novo recuperou sua antiga fortuna.

Reb Nota costumava contar este incidente a seus chassidim, elogiando o aldeão e sua fala simples. Os chassidim, por sua vez, acrescentaram que não foi à toa que Reb Nota negou uma calorosa acolhida ao aldeão. Pois foi exatamente por isso que ele teve o mérito de ter um discernimento tão poderoso.