Com a Porção desta semana da Torá, Vayechi, concluímos o Livro de Bereshit. "Então Yossef faleceu, aos cento e dez anos… e ele foi colocado num caixão no Egito" é seu versículo final.
Esta conclusão do livro inteiro é um tanto surpreendente, tendo em vista o princípio de que "deve-se sempre terminar com uma nota positiva". Por que Bereshit não poderia ter concluído alguns versículos antes, quando vimos que Yossef teve uma longa vida e mereceu ver seus netos e bisnetos?

Por que a descrição da morte de Yossef não poderia ter esperado até o Livro de Shemot?
Devemos portanto concluir que o falecimento de Yossef está de certa forma relacionado com o tema do próprio Bereshit.

A diferença básica entre Bereshit e os outros quatro Livros de Moshê é que Bereshit relata a história inicial de nossos antepassados e das doze tribos – a preparação para nossa existência como uma nação distinta – ao passo que os outros quatro livros contêm uma narrativa de nossa história como um povo.

O Livro de Bereshit começa com uma narrativa da criação do mundo. O Sábio, Rabi Yitschac, explicou que embora a Torá devesse ter começado com um mandamento prático, D’us escolheu começá-la com a Criação para refutar os argumentos dos gentios, que um dia alegariam que os judeus tinham roubado a Terra de Israel das nações que ali viveram antes de sua conquista.

Para registrar sua afirmativa, os judeus dirão: "O mundo todo pertence a D’us; Ele o criou e dividiu como julgou apropriado. Foi Sua vontade dá-la a eles, e foi Sua vontade tirá-la deles e dá-la a nós."
Certamente D’us não mudou toda a ordem de Sua Torá apenas para dar uma resposta aos argumentos dos gentios. Os comentários de Rabi Yitschac devem portanto conter um ensinamento mais fundamental para o povo judeu como um todo.

Os países do mundo são conhecedores da missão especial dos judeus. Sua alegação, no entanto, é que exatamente porque os judeus são diferentes, eles deveriam limitar-se ao serviço espiritual de D’us e não se aterem a uma terra física.

Como os judeus são um povo como nenhum outro, não devem ter o direito de alegar a propriedade de um país. Para o não-judeu, os reinos espiritual e físico são incongruentes e incompatíveis.
"O mundo inteiro pertence a D’us" – explica o judeu – o mundano e o espiritual. Ambos requerem santificação por meio da luz da santidade – a missão sagrada do judeu.

Com este conceito tem início o Livro de Bereshit, e com esta nota ele termina. O caixão de Yossef permaneceu no Egito para fortalecer e inspirar os Filhos de Israel durante seu exílio ali. Yossef é um símbolo da capacidade do povo judeu de superar até o mais difícil dos obstáculos, imbuindo até a matéria física mais comum com santidade e trazendo a longamente esperada Redenção.

Adaptado de Likutê Sichot do Rebe, vol. 30