Yaacov desejava revelar o fim [i.e., a data da vinda de Mashiach] aos seus filhos, quando a Presença Divina se afastou dele e ele falou de outras coisas (comentário de Rashi sobre Bereshit 49:1).
O ensinamento chassídico fala sobre a ideia do precedente cósmico – como D'us estabelece as coisas de uma certa maneira, embora depois não sejam feitas, para que mais tarde, quando o processo é repetido, a “lembrança” duradoura da maneira que era originalmente tenha um impacto implícito (mas não tangível ou sentido) sobre a maneira pela qual as coisas ocorrem.
Um exemplo clássico disto é a interpretação chassídica da passagem talmúdica descrevendo nossa educação pré-natal: “A criança no útero da mãe… aprende a Torá inteira. Porém, no instante em que emerge ao mundo, vem um anjo e lhe dá um tapa na boca, fazendo-a esquecer tudo.”
A pergunta óbvia: por que nos fazem esquecer toda a Torá? Resposta óbvia: porque D'us quer que estudemos para aprendermos por nós mesmos, não para recebermos conhecimento como um presente do Alto. Pergunta óbvia nº 2: então por que somos ensinados? Resposta óbvia nº 2: porque a Torá, a sabedoria e vontade de D'us, está além da compreensão do homem mortal. Jamais conseguiríamos atingi-la por nós mesmos; ela deve ser ensinada a nós.
Em outras palavras, a Torá nos deve ser dada – caso contrário jamais a teríamos. Porém, também não devemos saber que a temos – senão jamais nos relacionaríamos com ela como algo que é nossa própria conquista e portanto significativa e importante para nós. Então tudo nos é ensinado, e depois feito esquecer. Nós nos esforçamos não para obter algo que está além de nós, mas para recuperar aquilo que já é nosso.
O princípio do precedente cósmico aplica-se não apenas a coisas que aparecem no palco da história e então desaparecem, mas também a coisas que quase acontecem – coisas que se supõem acontecer, ou que deveriam acontecer, ou meramente desejam acontecer, mas são impedidas de realmente acontecer. Quando D'us “muda de ideia” o que Ele está fazendo é estabelecer um precedente em potencial. Ele deseja que as coisas sejam de uma certa maneira na verdade, mas Ele também deseja que uma realidade diferente (ou até oposta) exerça sua influência sobre a maneira de ser das coisas (a diferença entre um precedente real e um precedente em potencial seria o grau dessa influência, como é acessível, como está profundamente oculto dentro do nosso subconsciente etc.). Assim, nos é dito que “no princípio, surgiu no pensamento de D'us criar o mundo com Justiça; então Ele viu que o mundo não poderia sobreviver a isso, então Ele colocou a Compaixão primeiro e a juntou com a Justiça.” D'us criou um mundo que tolera a imperfeição, mas Ele colocou padrõess absolutos nos “bastidores”, porque aquilo representa seu supremo potencial.
O mesmo aconteceu no leito de morte de Yaacov, quando ele deseja revelar aos filhos o segredo de Mashiach e a suprema redenção. D'us impede que isso aconteça, porque é parte integrante do Seu plano cósmico de que não deveríamos saber. Porém, Ele permite a Yaacov o desejo e a intenção de nos contar, para que o potencial para esse conhecimento exista, significando que nos mais profundos recessos de nossas almas, o conhecimento está ali.
E este, é claro, é o próprio lugar onde esse conhecimento é mais potente e mais útil. É o que nos permite sobreviver à longa noite da história judaica. É como sabemos, com absoluta certeza, que a Redenção chegará.
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