Recebi sua carta, na qual você exprime suas opiniões pessoais sobre aquilo que considera a abordagem correta para o Judaísmo. A seu modo de ver, o caminho certo deve ser atingido em duas fases: primeiro, o entendimento, pela razão e pelo intelecto, da "linguagem" da Torá, etc., e segundo, a aceitação definitiva da Grande Aliança e do Jugo.
Minha opinião, que difere radicalmente da sua, foi publicada em diversas ocasiões no passado, e a repetirei brevemente mais uma vez.
O mundo é um sistema bem coordenado por D’us, e nele não há nada supérfluo ou faltando, com uma reserva, no entanto: por razões somente conhecidas do Criador, Ele concedeu livre arbítrio ao ser humano, por meio do qual o homem pode cooperar com o sistema, construindo e contribuindo com ele, ou fazer o inverso e provocar a destruição até mesmo das coisas já existentes. Partindo dessa premissa, segue-se que a duração da vida de um homem nesta terra tem o tamanho exato para que ele cumpra seu propósito; não é um dia mais curta, nem um dia mais longa. Então, se ele permitir que um único dia, ou semana, que dirá meses, passem sem cumprir seu propósito, é uma perda irrecuperável para ele e para o sistema universal como um todo.
O segundo pensamento para se ter em mente é que o mundo físico em geral, como pode ser visto claramente a partir do corpo físico do homem em particular, não é algo independente e separado do mundo espiritual e da alma. Em outras palavras, não temos aqui duas esferas separadas de influência, como os pagãos costumavam pensar: ao contrário, o mundo agora está consciente de uma força unificadora que controla o sistema universal, aquilo que chamamos de monoteísmo. Por este motivo, é possível entender muitas coisas sobre a alma a partir de seus paralelos no corpo físico.
O corpo físico exige uma ingestão diária de determinados elementos em determinadas quantidades, obtidos por meio da respiração e do consumo de alimentos. Nenhuma quantidade de pensamento, fala ou estudo sobre estes elementos pode substituir a verdadeira ingestão de ar e comida. Todo este conhecimento não acrescentará um milímetro de saúde ao corpo, a menos que lhe seja dado o sustento físico; pelo contrário, negar a ingestão dos elementos exigidos enfraquecerá as forças mentais do raciocínio, concentração, etc. Assim, é óbvio que a atitude correta para assegurar a saúde do corpo não se faz primeiro pelo estudo e depois pela prática, mas o oposto, comer e beber e respirar, que por sua vez fortalecem também os poderes mentais de estudo e concentração, etc.
O mesmo ocorre no caso da alma e dos elementos que ela exige diariamente para seu sustento, mais conhecido por seu Criador, e que Ele revelou a todos no Monte Sinai, na presença de milhões de testemunhas, de aparências diversas, esferas de vida, caráter, etc., que por sua vez transmitiram-na de geração em geração, ininterruptamente, até os dias de hoje, cuja verdade é assim constantemente corroborada por milhões de testemunhas, etc.
Em terceiro lugar: Conta-se que um famoso filósofo alemão, autor de um complicado sistema filosófico, quando lhe disseram que sua teoria era inconsistente com os duros fatos da realidade, replicou: "Pois tanto pior para os fatos."
Porém, a atitude normal de uma pessoa é aquela expressa por Maimônides, que as opiniões são derivadas da realidade, e não a realidade das opiniões. Nenhuma teoria, não importa o quanto seja inteligentemente concebida, pode mudar os fatos: se algo é inconsistente com os fatos somente pode causar dano a quem a aceita.
A conclusão de tudo que foi dito acima, em relação à atitude que você sugeriu e ordem de duas fases, é bastante claro. E do ponto de vista prático, o essencial é isso: todo dia que passa para um judeu sem que este pratique uma vida segundo a Torá é uma perda irreparável para ele e para todo o nosso povo, prejudicando-os, pois todos nós formamos uma única unidade e somos mutuamente responsáveis um pelo outro – e também pela ordem universal, e todas as teorias tentando justificar esse ponto não podem alterá-lo de modo algum.
Finalmente, desejo assinalar que há uma diferença em como o acima exposto deveria afetar o indivíduo preocupado e seu amigo, que deseja ajudá-lo e colocá-lo no caminho certo. Mais uma vez, a seguinte analogia pode ser útil.
Quando um paciente impõe condições antes de aceitar o tratamento prescrito pelo médico, então, apesar do fato de que estas condições são prejudiciais à terapia completa, mesmo assim, se ao concordar com o paciente pelo menos algum sucesso será atingido, é necessário fazê-lo, se o paciente é categórico, pois além da ajuda parcial que pode lhe ser dada desta maneira, existe a esperança de que o paciente possa mais cedo ou mais tarde entender o por quê. É por isso que tenho argumentado repetidamente com você que sua abordagem está errada, e que você está perdendo um tempo valioso e causando muitos danos a vocês mesmos com sua atitude, e embora você ainda não concorde plenamente comigo, tento ajudá-lo se eu puder, embora no presente você ainda siga sua própria opinião.
Que D’us o ajude, e a seus amigos, a ver a luz e a se colocar no caminho da Torá e mitsvot, que assegura a verdadeira felicidade para o corpo e para a alma, em completa harmonia.
Com bênçãos,

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