Meu caminho até colocar tefilin foi longo e tortuoso. Mesmo agora, quando olho para trás para contemplar minha jornada, não está claro por que eu viajei dessa maneira.

No lar de minha infância nós guardávamos os Grandes Dias Festivos, Pêssach e Chanucá, e eu freqüentava uma escola ortodoxa de hebraico à tarde. Minha família não guardava o Shabat e não era casher. A maioria de meus amigos eram judeus. Jogar basebol e acompanhar os Brooklyn Dodgers eram minhas paixões, e memorizar os acontecimentos do esporte era um estudo que me agradava.

Meu quarto no apartamento de minha família no Brooklyn dava para uma sinagoga ortodoxa, na qual me lembro de ter entrado somente no dia de meu bar mitsvá. Fui obrigado a colocar tefilin antes de meu bar mitsvá pelo rabino que tratava seus alunos como se ainda vivêssemos num shtetl na Europa Oriental, de onde ele viera. Eu não entendia por que precisava colocar tefilin. Achava que isso era outra indignidade que os adultos jogavam sobre mim.

O estudo de hebraico era obrigatório para meu bar mitsvá, para satisfazer meus pais e professores, sem que eu entendesse o significado do texto. Esta experiência me manteve distante de minhas raízes judaicas por décadas.

Quando adolescente, porém, conheci minha futura esposa, Phyllis, uma judia religiosa e instruída. Por influência dela, concordei em comparecer aos serviços das Grandes Festas com ela. Para minha surpresa, gostei dos sermões feitos por um rabino que irradiava bondade e sabedoria, e que mais tarde oficiou nossa cerimônia de casamento. Mas colocar tefilin não me teria ocorrido naquela época.

Depois do casamento, nosso lar era casher, embora meu papel fosse um tanto passivo. Formei-me em medicina e bioquímica, ajudava a criar uma família com três filhos maravilhosos, e terminei por tornar-me bem-sucedido como médico e acadêmico, fazendo pesquisa, ensinando e atendendo a pacientes.

No decorrer do tempo, minha vida aos poucos achou uma brecha para buscar uma conexão com minhas raízes judaicas. Comecei a guardar o Shabat durante um ano sabático na Califórnia, no laboratório de um laureado Nobel, e voltando a Chicago passei a freqüentar regularmente os serviços com meus filhos.

Aos 40 anos, desenvolvi uma inexplicável necessidade de ir a Israel. De algum modo, encontrei uma maneira de ir até lá por três vezes durante um período de cinco anos, com minha mulher e filhos; experiências que ainda me impressionam e enriquecem.

Por fim, descobri que o estudo da Porção Semanal da Torá tinha um significado para mim. Passei a freqüentar, quase sempre na companhia de minha mulher, encontros e aulas judaicas no interior do estado de Nova York. Um dos rabinos contava histórias místicas, especialmente aquelas de Rabi Nachman de Breslav. Elas muitas vezes me deixavam com vontade de aprender mais sobre D'us, uma ânsia que me surpreendeu pela sua persistência.

Transformei-me também num aluno ávido de um mitologista americano, cuja análise do mito na televisão e na imprensa revelou um ardente interesse dentro de mim, em saber mais sobre misticismo e Unicidade. Depois de um curso particularmente enriquecedor com duração de dois anos com meu professor, perguntei a ele como poderia continuar aprendendo ao retornar para Chicago. Ele sugeriu que procurasse os Lubavitchers em minha comunidade, porque eles me ensinariam. Foi o que eu fiz, e encontrei-me numa sala de aula estudando o Tanya, o livro básico do Chassidismo Chabad, com Rabi Aron Wolf.

Ao aprender mais, comecei a entender que estava confrontando assuntos importantes em minha vida. Estava conquistando meus objetivos de longo prazo na vida: familiares, profissionais e econômicos. Contudo, sentia que algo importante estava faltando. Tinha um senso de que minhas aspirações não eram suficientemente grandes. Eu precisava criar uma nova estrutura de vida para mim. Decidi reconcentrar minhas energias utilizando um novo conjunto de valores para orientar-me no sentido de viver uma vida centrada em D'us.

Mais de uma década atrás, eu lera sobre a comunidade de Crown Heights no Brooklyn e sobre o Lubavitcher Rebe, numa série de artigos no The New Yorker, por Lis Harris (mais tarde publicados como o livro "Dias Sagrados"). Fiquei bastante impressionado pela rica vida espiritual ali contida. Embora eu não soubesse como viver uma vida centrada em D'us, acreditava que estudar o Tanya com Rabi Wolf, e aprender diversos aspectos da Chassidut com um estudante graduado em Lubavitch na Universidade de Chicago, era um bom começo.

As novas idéias eram muito atraentes, e descobri-me considerando o Chassidismo notavelmente enriquecedor. Um passeio com Rabi Wolf a Crown Heights para sentir como as pessoas vivem numa comunidade voltada a Torá e mitsvot fez estas idéias ganharem vida. Aos poucos, conforme aumentava meu conhecimento, fiquei mais disposto a aproximar-me de D'us por meio do estudo, que tanto apreciava. Mas praticar um ritual diário de prece formal era o que menos me interessava. Eu tinha desenvolvido minha própria prática diária de meditação e prece: uma corrida matinal, de preferência ao nascer do sol, como uma forma de observar a maravilha do mundo natural.

No entanto, após dezoito meses de estudo do Chassidismo, comecei a entender que havia um caminho bem traçado para mim, que os judeus tinham utilizado por milênios, para viver uma vida com um sentido mais profundo. Tornei-me consciente de que colocar tefilin era parte disso, e comecei a considerar o cumprimento dessa obrigação delineada na Torá como uma maneira de aproximar-me de D'us.

Pouco antes de Pêssach deste ano, aprendi que Pêssach é uma ocasião especialmente favorável para "passar" sobre obstáculos a fim de atingir novas alturas espirituais. Ao estudar a Porção Semanal da Torá (Shemot 13:9), de repente percebi que o mandamento de D'us articulado por Moshê para que os judeus colocassem tefilin incluía a mim. O sentimento de D'us comunicando-Se comigo via Moshê era tão direto que foi difícil de ignorar. Lendo esta Porção da Torá durante anos, eu de certa forma jamais entendera que a ordem também era dirigida a mim, não apenas para o povo judeu no deserto.

Estava claro que o texto da Torá não tinha mudado, mas eu tinha.

Esse senso de ser comandado, junto com os ensinamentos de Rabi Wolf de que esta era uma ocasião especial na qual eu era ordenado a "saltar" obstáculos, tornou minha má vontade anterior de colocar tefilin em desacordo com minha nova visão sobre a vida. Claramente, me fora pedido para colocar tefilin todos os anos quando eu lia esta Porção, mas eu não tinha respondido.

Isso era diferente da desconcertante exigência do rabino de minha infância, que dava a impressão de que eu deveria colocar tefilin para ele; agora eu colocaria tefilin simplesmente porque isso me fora pedido por uma Autoridade Maior.

Colocar tefilin e recitar as preces matinais, além de minha corrida e estudo todas as manhãs, continua a aproximar-me de uma vida dimensionalmente maior, mais significativa numa conexão diária e eterna com D'us.