Estamos em uma época de casamentos e minha agenda está repleta de convites.
Minha mãe me convidou para sairmos às compras. “Vai ser divertido”, ela prometeu. “Você não compra nada novo há séculos, vamos ver o que podemos encontrar.”
Ela estava certa: foi divertido. A loja de departamentos que visitamos tinha uma enorme loja de roupas clássicas e começamos a vasculhar prateleira após prateleira.
Quando compro roupas, procuro estilos mais modestos. No judaísmo vestimos saias e vestidos sem fendas ou transparências, camisas sem ostentar decotes. E lá encontrei algumas roupas ótimas que estavam de acordo com o estilo judaico de nos vestirmos, então comecei a selecionar algumas peças lindas para provar.
Nesse momento, minha mãe pegou um vestido que eu nunca, em um milhão de anos, experimentaria: o tipo de coisa que parecia ter saído direto da passarela de moda. “Experimente!”, ela sugeriu, “estou muito curiosa para saber como vai ficar”. Eu concordei, e pegamos um monte de vestidos de todos os estilos e fomos para o provador. Experimentei tudo, era como uma brincadeira. Coloquei o vestido, olhei no espelho e não pude acreditar o quanto eu parecia uma atriz no tapete vermelho. Foi divertido por cerca de um segundo!
De repente, vendedoras e clientes começaram a me dar conselhos sobre como usar um vestido como esse em um casamento. O vestido precisava desse tipo de ajuste, desse tipo de alteração. Uma série de falhas que eu nunca soube que precisavam de repente ser corrigidas. Claramente, o vestido que experimentei revelou muito: tanto que eu precisaria me preocupar em como iria usá-lo e me sentir bem nele. Esse vestido de “tapete vermelho” expunha impiedosamente defeitos e imperfeições que eu nem imaginava ter. Eu estava prestes a voltar para meu provador quando outra mulher apareceu, usando um vestido semelhante. Ela era linda, com cabelos maravilhosos, pele e rosto perfeitos. Ela olhou atentamente para seu reflexo no espelho.
Logo as “conselheiras” de estilo cairam sobre ela. “Tente prender a respiração.” “Procure ficar mais ereta.” “Talvez com um cinto.” “Talvez um xale.” Eu não pude acreditar. Aqui estava uma mulher linda, e tudo o que alguém podia ver era o que havia de errado com ela.
De repente, lembrei-me de um casamento que fui uma vez. Foi um casamento judaico ortodoxo e a grande maioria dos convidados estava vestida com recato. Gostei de conversar com a mulher sentada ao meu lado, mas fiquei surpresa com o marido dela, que parecia cada vez mais irritado com as roupas conservadoras que ela estava vestindo. De vez em quando ele se virava para ela e dizia: “Tire o casaco” (ela estava usando um cardigã brilhante por cima do vestido). Ele queria exibir-se com ela. Eu me perguntei o que esse marido pensava que sua esposa estava escondendo ou precisava mostrar?. Ao falar com ela – ao desfrutar de uma conversa realmente profunda e fascinante – pensei que todos estávamos vendo claramente o que ela possuía: uma grande personalidade, um espírito alegre e uma inteligência formidável. Isso era muito mais valioso do que qualquer outra coisa.
O Rei Davi declarou: “A glória da filha do Rei está no interior.”
Num certo nível, este aforismo reflete a cultura do antigo Oriente Médio: a filha de um rei – que era uma pessoa destacada – era mantida em segurança dentro de casa em vez de desfilar pelas ruas para que todos ficassem boquiabertos. Mas na tradição judaica, este ditado é ainda mais profundo. Pois o Rei é D'us , e cada uma de nós é sua filha: cada uma de nós deve guardar a nossa dignidade, lembrar sempre que temos um tesouro interior e garantir que nossas roupas externas reflitam o nosso valor intrínseco. Isto é comumente chamado de “modéstia”, mas o conceito judaico de modéstia é muito diferente do que o da sociedade secular. Podemos ver isso na própria palavra: em inglês, “modesto” também pode significar “pequeno e insignificante”. (Dadas essas conotações, quem então a escolheria sem reservas?) A palavra hebraica para modéstia, porém, é tzanua, que está intimamente relacionada com tzin'ah, que significa “privado” ou “secreto”.
Nesta forma de pensar, ao sermos modestas, estamos simplesmente reconhecendo que existem algumas partes de nosso corpo que não são públicas: que podemos escolher o que revelar e a quem. De minha parte, acho que vestir-me de acordo com esse princípio ajuda a garantir que não ficarei obcecada com cada detalhe físico. Como todo mundo, gosto de estar estilosa e em forma, mas escolho não exibir meu corpo; não é o que me define.
Ser tzanua me ajuda a focar em quem realmente sou, não no que aparento ser. Não quero impressionar o mundo através da minha forma física, por isso tento trabalhar o meu intelecto, os meus traços de caráter e a forma como trato as pessoas.
Bem, voltando a loja de roupas, acabei encontrando um vestido de festa que se adapta aos princípios judaicos de discrição. É elegante e sinto-me bem nele. E toda vez que eu o visto, sinto-me como uma verdadeira filha do Rei..
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