A frase “um olho por um olho” é encontrada em muitos lugares na Torá.1 Isso significa que realmente socamos o olho de um agressor de olho?
Contrário àquilo que alguns gostariam de dizer, esta frase nunca foi compreendida ou aplicada no sentido literal. Mas sim, segundo a Torá Oral, é uma diretiva para compensação monetária para a parte injuriada, como é evidenciado pela tradução de Targum da expressão.2
O Talmud 3 e comentaristas 4 bíblicos demonstram que esses versículos não devem ser lidos literalmente. Por exemplo, se o perpetrador é ele próprio cego – como podemos cumprir a injunção de “um olho por um olho”? E se uma das partes tivesse apenas um olho funcional antes do incidente? Ou o olho da vítima somente foi danificado a um terço da sua visão anterior, mas ainda pode ver um pouco?
Podemos também deduzir o significado dos versículos pelo contexto.
Maimônides afirma:
Como sabemos que a intenção da declaração da Torá com respeito à perda de um membro, “um olho por um olho”, é restituição financeira?
Aquele mesmo versículo continua “um golpe por um golpe.” E a respeito da penalidade por dar um golpe num colega, é explicitamente declarado: “Quando um homem ataca seu colega com uma pedra ou um punho… ele deveria pagar pelo ferimento e por suas despesas médicas.” 5 Assim, aprendemos que a palavra tachat mencionada a respeito de um golpe indica a necessidade de restituição financeira, e assim pode-se concluir que o significado da mesma palavra com respeito a um olho ou outro membro também é restituição financeira.6
Além disso, a respeito de um exemplo quando alguém mata outra pessoa, a Torá nos diz que ele não pode dar restituição por uma vida que foi tirada, implicando que em outros casos fazemos compensação monetária.7
Mas mesmo sem essas deduções lógicas, o significado dessa frase é conhecida para nós através da tradição. Conforme Maimônides conclui:
Embora essas interpretações sejam óbvias pelo estudo da lei Escrita, e sejam explicitamente mencionadas na Tradição Oral transmitida por Moshêno Monte Sinai, elas também são todas consideradas como halachot de Moshê (i.e., tradição oral voltando ao Sinai). Isso é o que nossos ancestrais viram na corte de Yehoshua e na corte de Shmuel de Ramá, e em toda corte judaica que tem funcionado desde os dias de Moshê, nosso mestre, até a presente data.8
Em resumo, esta é uma figura de discurso e claramente não é para ser tomada literalmente, assim como na linguagem inglesa, se você disser a alguém para tomar um banho, não significa que você deseja que a pessoa tire a plumagem e carregue a banheira para outro lugar. Nem quando você diz “Você deu uma surra no outro time!” não significa que você vai encontrar o outro time ferido e sangrando na sala de emergência. Assim também, “um olho por um olho” não está falando sobre olhos: é meramente uma expressão que se refere à compensação monetária no mesmo valor do prejuízo causado.
Punições da Torá
“Um olho por um olho” pode ser uma expressão, mas a Torá sempre usa linguagem precisa, portanto por que usar essa expressão em particular?
Há um subtexto proposital aqui: O perpetrador merece ser ofendido ou perder um membro na mesma maneira que a vítima, mas D'us é compassivo, portanto o perpetrador faz restituição financeira à vitima. Por esse motivo é importante ter em mente que, como no caso com todas as transgressões interpessoais, meramente dar compensação financeira não deveria ser visto como ter feito emendas por aquilo que foi feito, o que nunca pode ser totalmente correto; o melhor que podemos fazer é oferecer compensação monetária e pedir perdão à vitima.
Assim, a Torá Escrita e a Torá Oral andam de mãos dadas.
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