Quando estudava na yeshivá, eu costumava sair para caminhar junto com um amigo todas as tardes de Shabat, enquanto conversávamos sobre nossos estudos. Uma semana, ouvimos algumas pessoas cantando. Não reconhecemos a canção, mas me senti atraído pela comovente melodia.
“Vamos ver de onde está vindo,” eu disse ao meu amigo.
Foi assim que terminamos indo à “Sinagoga Baal HaTanya,” uma pequena comunidade em Mea Shearim, Jerusalém. Ali encontramos dez homens, cantando melodias chassídicas, como é o costume Chabad ao final do Shabat. A canção, eu aprendi, era uma antiga música Chabad, com letras dos Salmos (62:6-7): “Somente por D'us minha alma espera silenciosamente, pois minha esperança vem d’Ele.”
Eles cantaram essa canção mais algumas vezes, antes de mudar para outras, e senti algo batendo no meu coração. Começamos a ir àquela pequena sinagoga no mesmo horário toda semana, e sempre que eu entrava, as pessoas começavam a cantar aquela canção para mim. Esse foi meu primeiro contato com Chabad. Após algumas semanas, o rabino, Rabi Shimon Yakobovitch, ofereceu-se para estudar Tanya comigo, logo comecei a me sentir como um Chabadnik.
A certa altura, Rabi Shimon sugeriu que eu escrevesse ao Rebe.
“Sobre o quê?” perguntei.
“Conte a ele sobre a canção que trouxe você para Chabad e peça-lhe uma bênção.”
Em 1954, eu tinha apenas quinze anos de idade e não sonhava em realmente receber uma resposta. Para minha surpresa, duas semanas depois, chegou uma carta do Rebe, endereçada a mim. Ele escrevia como ficou contente ao saber que eu tinha começado a aprender chassidut, e disse que eu iria “certamente” ajudar outros a fazer o mesmo.
Esta carta me aproximou ainda mais, e me deu a sensação de que eu tinha recebido uma missão especial para cumprir. Sugeri a um amigo que começássemos uma aula de Tanya numa sinagoga perto da Yeshivá Chevron, onde ambos estudamos, para sermos ensinados por Rabi Moshe Weber e Yehuda Reichman. De dois participantes, a classe rapidamente aumentou para quarenta.
Junto com essa nova classe, também lancei uma yeshivá noturna para alunos jovens do local, de escolas não-Chabad. Todas as tardes, durante uma hora e meia, esses meninos vinham para rever seus estudos em Halacha, Mishná ou Guemara, enquanto eu criava competições, administrava testes e distribuía prêmios aos participantes. Também tínhamos farbrenguens, reuniões informais com histórias chassídicas e canções, e estudava discursos chassídicos básicos com os meninos. Este programa fez um tremendo sucesso, e tornou-se popular entre os alunos, seus pais, bem como muitos rabinos proeminentes locais. Quando escrevi sobre isso ao Rebe, ele me incentivou a expandir, e mais me encorajaria a levar o programa para alguns dos bairros próximos, não-Charedi.
Enquanto isso, alguns dos meus colegas começaram a se ressentir da maneira que eu vnha promovido o estudo de chassidut para outros, e tentaram diminuir meus esforços reportando-me ao corpo docente. Eu estava para escrever ao Rebe sobre isso, mas aconteceu de eu receber uma carta do Rebe justo então, com um pequeno recado anexado. Dizia: “Ouvi dizer que algumas pessoas têm impedido você de promover chassidut. Certamente você não vai se incomodar com isso. Continue a espalhar as fontes, de uma forma que seja agradável a todos...”
Segui-se um vai e vem. Primeiro, o reitor supervisionando o desenvolvimento espiritual dos alunos, o mashguiach, tentou parar minhas visitas na tarde do Shabat ao shtiebel Chabad, insistindo que eu tinha de comparecer a uma aula sobre Mussar – ética judaica – feita na yeshivá naquela mesma hora. Escrevi novamente ao Rebe, que respondeu com uma longa carta com notas detalhadas no rodapé explicando por que a faculdade deveria me deixar continuar estudando chassidut, e sugerindo que eu tentasse falar novamente com eles pois “deveria ter havido um mal entendido”. Na verdade, acabei percebendo que eles não se importariam com o que eu estava fazendo se eu fosse um pouco mais discreto.
Quanto a mim, eu estava pronto para sair e ir para uma yeshivá Chabad, mas sempre que eu levava a ideia ao Rebe, ele insistia para que eu permanecesse. Ele queria que eu desse um bom exemplo para os outros alunos ali continuando a “aprender diligentemente, de acordo com o padrão de estudo da yeshivá,” que por sua vez iria ajudar a trazer os ensinamentos da chassidut para novos círculos.
Em 1959, quando eu tinha dezenove anos, finalmente estava pronto para viajar até o Rebe para o período das Grandes Festas. Durante aquele período, meu pai informou ao Rebe que eu tinha recebido ordenação rabínica, e o Rebe disse que eu deveria tentar ser ordenado por vários rabinos adicionais antes da minha viagem.
No dia após minha chegada a Nova York, fui informado que eu tinha um encontro com o Rebe naquela mesma tarde.
O Rebe estava interessado em saber sobre minha viagem; sobre os detalhes das minhas atividades ao voltar para casa e quem assumiria enquanto eu estivesse fora; sobre a despedida pública a noite que a yeshivá me deu e a festa mais modesta que meus amigos da yeshivá fizeram ao ir embora; sobre meu relacionamento com a faculdade – que tinha melhorado – e as ordenações recebidas.
Em minha carta de seis páginas que entreguei ao Rebe, eu perguntava sobre usar ilustrações para ensinar o Talmud; embora hoje isso seja comum para o curso em escolas religiosas, então naquela época era menos comum. O Rebe disse que eu tinha de usar tudo aquilo que ajudasse os alunos a entender.
Então ele perguntou: “E sobre as ilustrações para ensinar yirat Shamayim – temor ao Céu?”
A pergunta me intrigou, portanto não respondi, mas o Rebe o fez: “A melhor maneira de ilustrar yirat Shamayim é incorporando-o!”
Então ele fez alguns pedidos surpresa para mim, pedindo que eu fizesse um pilpul – uma palestra talmúdica – na conferência da Torá a ser realizada no 770 após as festas, e que eu fosse visitar vários rabinos e líderes judaicos durante minha estadia nos Estados Unidos.
Antes de sair, eu perguntei sobre permanecer no 770 como um estudante regular, o único item da minha carta que o Rebe não tinha abordado. “Por que falar sobre isso agora?” ele respondeu, deixando-me saber que iríamos discutir aquilo após os feriados. No final, fiquei mais alguns meses, até depois de Chanucá, quando o Rebe lembou-me que eu tinha “um trabalho significativo e sagrado esperando por você em Jerusalém.” Eu acho que ele adiou me dizendo que eu não deveria permanecer no 770 para que eu pudesse apreciar plenamente o tempo que estive lá.
Minha viagem de retorno foi por navio, via Inglaterra. Ao chegar em Londres, vi o emissário Chabad, Rabi Nachman Sudak, esperando por mim com uma carta do Rebe.
“Espero que você tenha chegado a Londres em segurança,” começou, antes de perguntar se eu havia aproveitado a oportunidade para falar com os passageiros judeus no navio sobre ensinamentos chassídicos (o que eu havia feito). O Rebe então pediu que eu fosse falar na yeshivá local “sem humildade” sobre minhas atividades em Jerusalém, pois isso encorajaria os estudantes em Londres a serem mais ativos.
Mesmo durante a viagem eu não podia fazer uma pausa na minha missão.
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