Nasci em Samarkand, no Uzbequistão, em 1939. Morávamos num bairro com nossa grande família e várias famílias Lubavitch, incluindo aquelas de Reb Moshê Nisselevitch e, por algum tempo, Reb Berel Zaltzman, Foi Reb Berel, com seu calor, que me inspirou a tornar-me um chassid Lubavitch. Ele apresentou-me à sua família e a outros jovens chassidim que formavam a comunidade local, e que por fim se tornaram meus amigos de longa vida. Samarkand era afortunada por ter essas pessoas morando ali, bem como várias outras figuras veneráveis uma ou duas gerações mais velhas que nós.
Nossa casa era localizada na parte mais nova da cidade, perto da estação de trem. Meu pai, Refoel, era um empresário de sucesso e um importante ativista da comunidade. Durante os anos da guerra, centenas de refugiados judeus, entre eles russos de Lubavitch, ficaram em nossa casa. Eles tinham ido para a Samarkand para escapar de Hitler, e meu pai os ajudava a encontrar trabalho e um lugar para morar.
Morando na União soviética, o Judaísmo tinha de ser praticado secretamente. Mas mesmo naqueles tempos amargos, meu pai assegurava de ter um melamed, um professor particular, que ensinava Torá aos meus irmãos mais velhos e para mim.
Reb Moshê Nisselevich era a força vital de Samarkand. Junto com um grupo de jovens, ele fundou a organização Chamá em 1954, e seguiu em frente para criar uma rede de escolas informais, secretas em porões e outros locais escondidos, para que crianças judias pudessem crescer no caminho de Torá até mesmo no deserto espiritual soviético.
O trabalho de Chamá não era apenas espiritual: no inverno, a organização distribuía carvão para os pobres, e antes de qualquer festa, lembro-me de ir com meu pai ao mercado para comprar sacos de arroz e batatas para distribuir. Quando jovem, fui muito inspirado por tudo isso, e por fim me tornei um membro do Chamá.
Todos nós conhecíamos pessoas que tinham passado dez, até vinte anos em prisões soviéticas por fazerem o tipo de trabalho que Chamá fazia. Sabíamos exatamente o quanto era arriscado. Portanto Reb Moshê entrevistava longamente as pessoas antes que elas pudessem participar deste perigoso trabalho.
Entre outras coisas, eu ensinava crianças judias em várias casas diversas. Tínhamos cerca de cem professores na cidade e nas aldeias vizinhas, e a certa altura tínhamos 1.500 alunos. Cada professor conhecia somente os detalhes que eram pertinentes à sua própria classe. A polícia não deveria saber o que você não precisa saber. As autoridades torturavam uma pessoa para extrair informação, mas sobre aquilo que não se sabe, não se pode contar.
O Rebe prestava muita atenção a tudo isso, e estava sempre perguntando sobre o trabalho de Chamá, mas em código: ele se referia a nós como “Mumme Nechama – Tia Nechama” como se fosse um nome de mulher. Ele nos dava orientação e bênção através de vários canais. Ele poderia enviar uma mensagem com alguém visitando Moscou, e respondíamos através da mesma rota.
Quando finalmente pudemos deixar a União Soviética em 1971 e chegamos a Israel, o Rebe nos encorajou a continuar a obra de Chamá, ajudando os judeus russos em Israel, e aqueles que permaneceram na União Soviética. Como sempre, Reb Moshê Nisselevich tinha grandes planos, e no decorrer dos anos ele conseguiu trazer milhares de jovens russos para yeshivot. O Rebe disse que se as yeshivot Lubavitch não pudessem aceitar todos, a prioridade era eles irem a uma instituição educacional religiosa de qualquer tipo.
Mas não ficamos em Israel por muito tempo. Tínhamos apenas conseguido um apartamento em Nachlat Har Chabad e comprado uns poucos utensílios, quando minha esposa me disse: “Devemos ir para o Rebe.”
Na Rússia, tínhamos sonhado durante toda nossa vida em ver o Rebe pessoalmente. Portanto quando finalmente chegamos para Pêssach de 1972, e vimos o Rebe sorrindo calorosamente para nós, a sensação foi indescritível. O Rebe demonstrava grande afeição aos judeus que vinham da Rússia, e para nós, após tantos anos de vida oculta, estar na presença do Rebe era algo extraordinário.
A principal razão para nossa visita, porém era que já estávamos casados há seis anos, e ainda não tínhamos sido abençoados com filhos. Enquanto na Rússia, tínhamos consultado vários médicos importantes em Moscou, Leningrado e Tashkent para ver se eles podiam nos ajudar. Um médico disse à minha esposa: “Cabelo irá crescer na palma da minha mão antes que você tenha filhos.”
Mas em nossa audiência privada, o Rebe nos deu sua bênção para ter filhos, e nos disse que seu secretário Rabi Hodakov iria nos dar uma recomendação para um médico. O Rebe também perguntou sobre meus pais. Quando eles finalmente chegaram a Nova York naquele Shavuot, o Rebe prestou atenção extra ao meu pai nos farbrenguens públicos. Ele convidou meu pai a dizer l’chaim, e pediu a ele para cantar a canção tradicional Bukhariana, Atem Shalom.
Meu pai então pediu ao Rebe uma bênção para que seu filho – referindo-se a mim – tivesse filhos.
“Qual é o nome dele?” perguntou o Rebe.
“Moshiach”.
No meio do farbrenguen, o Rebe perguntou em voz alta: “Onde está Moshiach?” As pessoas que ouviram isso presumiram que o Rebe estava se referindo a Moshiach, o redentor do povo judeu há muito esperado. Mas então o Rebe deu um grande sorriso, e disse: “Eu estava me referindo a Moshiach filho de Refoel – embora esteja na hora de Moshiach filho de David chegar!”
Portanto o Rebe tinha nos dado sua bênção e então acrescentou uma bênção adicional ao meu pai. Graças a D'us, não tivemos de esperar. Não demorou muito, e minha esposa Bassi estava esperando nosso primeiro filho.
A data máxima prevista para o nascimento – que era exatamente cerca de nove meses após o farbrenguen quando meu pai tinha pedido uma bênção – passou, e começamos a ficar preocupados. Um dia Rabi Hodakov me viu no 770 e disse-me que o Rebe estava perguntando sobre nós. Ele sabia que minha esposa estava esperando, mas ele não tinha escutado nenhuma notícia de nós. O Rebe queria saber o que estava acontecendo. Imagine: O Rebe tinha o mundo inteiro sobre seus ombros, e aqui ele estava enviando Rabi Hodakov para perguntar-nos sobre nosso filho ainda não nascido!
No dia seguinte minha esposa deu à luz a nossa filha Breindi, que agora tem sua própria família. Finalmente, tivemos quatro filhos e outra filha, graças a D'us. Em nossa viagem para Nova York, Ezras Achim, uma organização que tem fornecido significativo apoio financeiro para Chamá e suas atividades, como parte de sua missão mais ampla de apoiar judeus na União Soviética, abordou-me com uma oferta para participar de seu trabalho de angariação de fundos. O Rebe aconselhou- me a aceitar o trabalho e deu-me sua bênção. Não muito tempo depois, a liderança de Ezras Achim ajudou-me e meus amigos próximos de Samarkand, Rabi Hillel Zaltaman e Rabi Binyomin Malachovski, estabeleceram o escritório Chamá em Nova York.
Apesar de sermos novos imigrantes que não falavam inglês, com muito trabalho, e com a ajuda de D'us, conseguimos transformar o Chamá em uma organização internacional, ajudando os judeus em Israel, Rússia e nos Estados Unidos. Penso nisso como mais um dos milagres do Rebe.
Rabi Moshiach Chudaitov é o vice-presidente executivo de Chamá, Ele mora em Nova York, onde foi entrevistado em julho de 2013.
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