Nasci em Fez, no Marrocos, numa família profundamente religiosa. Após a fundação do Estado de Israel, nossa família imigrou dali e fomos para Tiveria (Tiberíades).
Os anos 50 foram de severa austeridade em Israel, uma época de pobreza e fome. Isso permitiu ao movimento kibutz recrutar novos filhos de imigrantes com promessas de comida, educação e estabilidade econômica, o que aconteceu com minha família. Os tempos eram difíceis, meus pais eram ingênuos sobre a vida no kibutz, e tinham muitos filhos para cuidar. Portanto quando um par de homens jovens chegou de um kibutz próximo e falou com eles, foram persuadidos e relutantemente deram sua permissão para eu ir a um kibutz. Quando nos separamos, meu pai deu-me um Sidur, um Chumash, e suas bênçãos.
No kibutz, eu era o único levando um estilo de vida religioso. Gradualmente, desisti de usar tsitsit, e então das minhas preces diárias, mas ainda tentava me manter casher e cuidar Shabat da melhor maneira possível. Quando cheguei na idade de bar mitsvá, e meus pais foram ao kibutz para a celebração, meu pai ficou chocado ao descobrir nenhum traço de prática judaica – não havia sinagoga e eu não tinha tefilin. Ele levou-me de volta para Tiveria com ele e pelos próximos dois meses, da manhã à noite, ele me levava ao rabino da nossa comunidade, que me dava todas as aulas de Bar Mitsvá que eu tinha perdido.
Então, após eu ter passado dois anos tornando-me socialmente integrado na vida do kibutz, meu irmão mais velho disse aos meus pais que não seria saudável afastar-me dali agora, então eles me deixaram retornar. De volta ao kibutz, meu nome mudou de Machluf para Micha. Então, em vez de Turgeman, adotei o sobrenome “Peled”, que era o nome do grupo jovem de serviço civil pré-militar em que eu estava muito envolvido.
Depois do exército, fui enviado pela Agência Judaica para Vancouver, no Canadá, onde conheci e casei-me com Bracha, minha esposa. Mais tarde, fomos novamente solicitados a atuar como emissários no nordeste do Canadá, dessa vez em Calgary, para o JNF (Jewish National Fund/Fundo Nacional Judaico). Uma noite, durante nossa missão ali, dois homens jovens bateram à nossa porta.
“Shalom ALeichem!” eles anunciaram. “Soubemos que vocês são emissários de Israel.”
Eles se apresentaram como chassidim Chabad que tinham vindo para Calgary naquele verão numa missão própria, procurando judeus, e terminamos passando a tarde toda conversando. Foi a primeira vez que eu tinha visto um chassid Chabad de perto. Não muito tempo após voltar a Israel, fui diagnosticado com um melanoma grave e maligno que tinha se espalhado pelos meu vaso linfático. Fui aconselhado a viajar para os Estados Unidos, pois o tratamento que eu precisava não era disponível em Israel. Em seguida, tivemos alguns amigos devotados que escreveram ao Rebe pedindo uma bênção.
Como ainda tínhamos seguro de saúde canadense, preferimos primeiro buscar tratamento em Vancouver. Passamos alguns meses com Rabino Yitszchac e Henia Wineberg, os emissários Chabad da cidade. Foi assim que conheci seu pai, Rabino Yosef Wineberg, um conhecido palestrante. De tempos em tempos, ele vinha nos visitar e eu voltava para Nova York com ele para receber um dólar e uma bênção do Rebe.
Em 1989, meu médico em Vancouver recomendou que eu fosse ao Centro Médico Monte Sinai em Miami Beach, que era especializado no tratamento de minha doença. Quando encontrei Rabino Avrohom Korf, o diretor de Chabad na Flórida, ele se ofereceu para contratar-me para trabalhar na yeshivá local. Além de prover-me um emprego, isso significava que eu estaria seguro medicamente. “Por favor, D'us” ele disse, “quando você estiver se sentindo melhor, estou certo de que vai ajudar a yeshivá onde puder.”
E assim, entre os tratamentos, comecei a visitar a yeshivá onde fora recebido com calor e afeição. O diretor da yeshivá, Rabino Leibel Shapiro, apresentou-me aos alunos, fez-me estudar com eles, e assegurou que eu realmente me tornasse uma parte do ambiente.
Tendo me estabelecido em Miami, fiz uma viagem a Nova York com minha esposa, para que eu pudesse novamente ir até o Rebe quando ele doava dólares para caridade e para receber suas bênçãos antes do meu novo tratamento. Como minha condição tinha se tornado muito mais complicada, este era esperado durar cinco anos.
Quando contei ao Rebe sobre minha ligação com a yeshivá de Miami, ele declarou: “Você acha que veio a Miami apenas por razões médicas? Saiba que o real motivo pelo qual você veio é fortalecer a yeshivá, ter uma boa influência sobre os jovens alunos, e fortalecê-los com seu amor pela vida, sua paixão, seu espírito positivo e seu otimismo.”
O Rebe então deu-me uma bênção para que eu saísse da condição que ameaçava minha vida com boa saúde.
Meu encontro com o Rebe durou apenas alguns momentos. Mas, apesar da longa fila de pessoas esperando atrás de mim e a pressão dos organizadores para a fila seguir se movendo, quando fiquei na frente desse tsadik cujos olhos penetravam diretamente até meu coração, o tempo pareceu parar. Senti como se o Rebe tivesse falado comigo durante uma hora.
O Rebe também disse que meu tratamento não iria levar cinco anos completos, como um resultado de eu estar “ocupado com as questões espirituais da yeshivá.” Na verdade, meu tratamento terminou um pouco antes do esperado. Na carta de liberação que meu médico escreveu quatro anos e meio depois, ele disse que minha atitude positiva tinha salvo a minha vida.
Durante os anos que passei na yeshivá, fiz enorme progresso nos meus estudos de Torá. Poucos anos depois, com o encorajamento de Rabino Schapiro, até viajei para Israel para ser testado sobre meus conhecimentos e então recebi minha ordenação rabínica. A certa altura, quando eu já tinha começado a recuperar minha força, a comunidade judaica marroquina de North Miami Beach perguntou se eu iria assumir o lugar do rabino deles, que tinha partido recentemente. Eu não era um grande erudito de Torá, mas eles queriam minha energia e minha atitude, portanto aceitei a responsabilidade e assumi o cargo.
Depois disso, e através do meu contato com Rabino Mordechai Eliyahu, Rabino Chefe Sefaradita de Israel naquela ocasião, assumi um cargo no rabinato israelense. Passei seis anos como rabino de Netiv Hashayara, uma aldeia agrícola costeira de judeus Mizrahi, antes de mudar para as colinas de Matê Binyamin, onde tenho atuado como rabino de Beit Horon desde então.
Foi o Rebe que me colocou no caminho em direção ao rabinato quando ele me encorajou a voltar à yeshivá com a idade de quarenta e quatro anos. Pelas minhas visitas ao Rebe, passei a sentir um vínculo muito próximo, profundo com ele, e o impacto que ele teve sobre mim é indescritível.
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