Meu primeiro encontro com Chabad aconteceu em 1960 quando eu tinha dezessete anos, e uma amiga convidou-me para um farbrenguen onde o Rebe discursou. A partir daquele momento, eu fiquei totalmente ligada com o movimento. Era um dia muito frio de inverno, e eu me lembro de sentir que embora meu corpo estivesse congelado, minha alma estava em fogo.
Comecei a estudar filosofia chassídica, e quando me formei no ensino médio, matriculei-me numa instituição altamente considerada de estudo avançado para jovens judias., o seminário Beit Yaakov, em Williamsburg.
Todo dia, depois da escola eu trabalhava como babá na casa de um importante educador rabínico. Enquanto cuidava das crianças eu, sem saber, eu atraía a atenção de um casal mais velho que morava perto. Eles me abordaram e explicaram que tinham notado meu amor pela Torá e se ofereceram para pagar minha viagem a Israel para encontrar um jovem que dirigia um seminário cabalístico ali. Eles estavam convencidos de que seríamos um bom par para o casamento.
Na época, eu não tinha ninguém para pedir conselho sobre uma questão tão séria. A oferta parecia exótica e interessante, mas eu não estava certa de que seria adequada para mim. Além disso, eu tinha apenas dezoito anos de idade. O casal bem intencionado realmente não me conhecia ou sabia o que eu estava procurando num parceiro de vida. Como eles poderiam sugerir uma alma gêmea para mim? Quanto mais eu pensava sobre isso, mais aborrecida eu ficava, mas não sabia a quem pedir conselho objetivo.
Foi então que decidi ir até o Rebe. Eu não conhecia o protocolo adequado, portanto assim que cheguei na Sede na Eastern Parkway, 770, sentei-me nos degraus fora do prédio e, não sabendo o que mais fazer, comecei a chorar.
Enquanto eu estava sentada ali derramando meu coração, um cavalheiro idoso se aproximou – mais tarde eu soube que era Rabi Mordechai Hodakov, o secretário chefe do Rebe – e perguntou-me o que havia de errado. Expliquei por que eu precisava falar com o Rebe.
Ele disse: “Espere aqui um minuto”, e entrou.
Voltou logo depois e me informou que eu tinha um encontro marcado com o Rebe no dia seguinte.
No dia seguinte, após uma noite insone, tive minha audiência com o Rebe.
Quando entrei, meus joelhos pareciam bambos, e me apoiei na sua mesa para não cair. Mas assim que olhei para os olhos azuis calmos, claros, compassivos do Rebe, consegui relaxar um pouco.
Depois que expliquei meu caso o mais resumidamente que pude, o Rebe respondeu:
“Este jovem está em Israel e você está nos Estados Unidos. Ele está lá e você está aqui. Vocês são muito diferentes um do outro.”
Então ele acrescentou:
“Você deveria retirá-lo da sua agenda.”
Saí contente e aliviada, não apenas porque tinha recebido uma resposta direta de alguém em quem confiava, mas porque tinha encontrado meu mentor. A partir daquele momento, eu estava certa de que havia adquirido não apenas um guia e um mestre, mas também um amigo compassivo, e – mais importante para mim – uma figura paterna, especialmente porque meu próprio pai tinha falecido quando eu tinha apenas dez anos.
Não muito tempo depois dessa audiência, alguém sugeriu um jovem empresário para mim. Encontrei-me com ele algumas vezes, mas estava insegura se ele era realmente minha alma gêmea. Dessa vez, fui à Sede Chabad e pedi para marcar um encontro adequado com o Rebe.
Quando vi o Rebe, e descrevi meu dilema, ele perguntou-me diretamente:
“Você gosta dele?”
Era uma pergunta óbvia, mas para mim, vindo de um rabino, era totalmente inesperada. Engasguei antes de responder:
“Sinto por ele um amor básico de um judeu.”
O Rebe sorriu de orelha a orelha e disse:
“Por um marido, você deve sentir mais do que um amor básico por um judeu.”
Aceitei isso como uma indicação de que eu não deveria mais buscar esse parceiro. E pouco depois disso, encontrei o homem que seria meu futuro marido.
Após o casamento fomos morar em Worcester, Massachusetts, e eu lecionava na escola primária. Nessa época, lembrei de uma audiência com o Rebe quando eu disse a ele que estava me sentindo um pouco triste e solitária. O Rebe respondeu:
“Uma professora nunca deveria estar solitária porque ela está ensinando crianças que vão continuar aprendendo e por fim ensinar a outras. A professora deve ter prazer e apreciação com isso.”
Em outra ocasião, durante uma longa espera para ver o Rebe, comecei a anotar algumas perguntas filosóficas num pequeno pedaço de papel que coloquei no meu bolso. Durante aquela audiência, depois que eu tinha discutido todas minhas questões urgentes e estava me preparando para sair, o Rebe perguntou:
“Você não tem nada mais que deseja perguntar?”
Em reação ao seu convite, tirei meu pequeno pedaço de papel e apresentei minhas perguntas. Em primeiro lugar, eu queria provar que a Torá é realmente verdadeira, e se há outras religiões que possam fazer uma alegação semelhante.
O Rebe respondeu com calma. Ele explicou que a cadeia da tradição judaica volta direto ao Monte Sinai onde a Nação de Israel inteira – cerca de três milhões de homens, mulheres e crianças – testemunharam um encontro com D'us. Isso é diferente da base de qualquer outra religião. A partir do momento dessa revelação em massa, formamos uma cadeia inquebrável de transmissão de pai para filho, no decorrer das gerações. Como resultado, nós, os judeus, temos um registro tão bom como aquele que prova a existência de uma figura histórica como George Washington. Podemos confiar naquele registro e nenhuma outra religião pode fazer tal alegação.
Minha próxima pergunta era de cunho mais pessoal. Perguntei:
“Se houver uma chance de fazer algo que é difícil e vai contra a natureza da pessoa, versus algo que é compatível com as forças naturais da pessoa, o que ela deveria escolher?”
Em resposta, o Rebe citou o Talmud, “Chatof v’echol – Agarre e coma,” que tem um paralelo no idioma inglês: “Take your day.” Ele explicou que agora, quando nos aproximamos da Era Messiânica, deveríamos todos agarrar qualquer oportunidade que nos chega para cumprir uma mitsvá, seja ela fácil ou difícil.
Também perguntei a ele sobre outra questão que para mim era pessoal – as leis de separação de gênero e por que a Torá é tão estrita sobre essa questão.
Ele respondeu:
“O poder potencial do vínculo feminino-masculino é como energia atômica. Quando usada numa maneira positiva e sagrada, não há nada mais poderoso e valioso no mundo, mas quando usada sem cuidado e não num contexto sagrado, pode ser a força mais destrutiva da existência. Portanto, vem a lei da Torá.”
Embora o secretário do Rebe fizesse várias vezes sinais de que meu tempo tinha terminado e que eu deveria sair, a cada vez o Rebe indicava que eu deveria ficar - ele queria responder a todas as minhas perguntas. Saí quase após um hora, sentindo-me profundamente comovida pela carinhosa atenção que o Rebe tinha dado a todas as minhas preocupações.
Mereci passar por várias outras audiências transformadoras de vida com o Rebe. E, embora muitos milhares de pessoas de todo o mundo tivessem tido experiências semelhantes à minha, aquela percepção não me afasta um milímetro do seu sentimento de que, aos olhos do Rebe, eu era tão preciosa para ele como um filho único.
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