Nasci em Crown Heights em 1952, e encontrei o Rebe pela primeira vez oito dias depois; meus pais o convidaram para meu brit milá e o homenagearam para ser o sandak – aquele que segura o bebê durante a cerimônia. Naquela época, o Rebe somente aceitou ser sandak para três bebês, e tive o privilégio de ser o último dos três.
Na cerimônia, o Rebe fez um discurso, e deu ao meu pai cinco dólares para minha futura matrícula na yeshivá. Esse era, ele explicou, um costume que tinha aprendido com o Rebe Anterior, cujo nome eu recebi.
Fui informado que chorei muito. A maioria dos bebês chora num brit, é claro, mas eles tendem a se acalmar após alguns poucos momentos, mas eu não parava. Quando meu tio avô disse isso ao Rebe, ele disse que era um bom sinal: Quando o Rebe Anterior também tinha chorado como um bebê no seu brit, seu avô, o Rebe Maharash, declarou que ele seguiria em frente para ensinar Chassidut às pessoas. Portanto isso é algo que eu ainda estou tentando cumprir, o máximo possível.
Pouco mais de vinte anos depois, em 1973, eu estava estudando na yeshivá no 770, quando fui escolhido com mais seis alunos para irmos para a Austrália. Nós fomos o quarto grupo de estudantes enviados à Yeshivá Guedolá em Melbourne, e ensinar Chassidut aos outros alunos e membros da comunidade seria a parte mais importante do nosso trabalho.
Antes de partirmos, tivemos uma audiência com o Rebe. A maneira que funcionava era que cada grupo iria partir perto de Pêssach, e retornaria dois anos depois. Portanto, quando entramos na sala do Rebe, entramos junto com o grupo que tinha acabado de retornar. Nós seis estávamos no lado esquerdo da sala, e os seis que estavam retornando estavam no lado direito perto da porta, Rabino Hodakov, o secretário do Rebe, estava de pé perto dele.
“Estes são todos?” o Rebe perguntou.
“Esses são aqueles que voltaram e esses estão indo,” Rabino Hodakov respondeu.
“Esses são todos?” ele perguntou novamente.
Rabino Hodakov se repetiu, mas o Rebe perguntou: “Onde estão os grupos anteriores?” O primeiro e o segundo grupo já haviam retornado alguns anos antes, mas muitos deles ainda estavam estudando no 770 e o Rebe queria que eles também estivessem presentes.
“Eu deveria chamá-los?” Rabino Hodakov perguntou.
“Se não for demorar muito.”
Rabino Hodakov correu e começamos a ouvir ruídos vindos do lado de fora. Onde está Kaplan? Minkowitz! Morosow!
Ficamos ali por cerca de cinco ou dez minutos desconfortáveis, enquanto o Rebe permanecia sentado, apenas olhando para sua escrivaninha. Finalmente, todos eles entraram, liderados por Rabino Hodakov, e ficaram na parte de trás da sala. Então o Rebe começou a recitar um discurso chassídico.
Meu pai era um empresário que com frequência viajava para o extremo oriente e trazia de volta diferentes aparelhos toda vez que ia. Um deles que me trouxe era um gravador portátil, inédito na época. Fitas cassete ainda não tinham se tornado padrão, portanto tinha apenas um cassete, que eu iria constantemente apagar e reutilizar.
Eu tinha este gravador comigo, e estava pronto para usá-lo assim que o Rebe começou a falar. Naquelas máquinas, você realmente tinha de apertar os botões “tocar” e “gravar”, a fim de gravar qualquer coisa. Portanto, pela Lei de Murphy, quando atingi os botões, acidentalmente apertei tocar antes de gravar, e comecei a ouvir todo barulho que tinha sido gravado antes. Alguém que estava de pé atrás de mim deu-me um soco amigável – como se eu não tivesse percebido que estava fazendo barulho.
Então, eu imediatamente fechei e pressionei gravar novamente – dessa vez corretamente. O discurso que o Rebe fez para nós tem sido desde então impresso, graças àquela gravação.
Após o discurso, o Rebe nos disse que onde quer que o Rebe Anterior fosse, ele sempre visitava o rabino local, e sugeriu que fizéssemos o mesmo.
Viajamos em uma rota muito mais longa até a Austrália – era depois de Pêssach quando os quarenta e nove dias do Omer são contados, e não queríamos perder um dia atravessando a linha internacional, portanto voamos para leste, cruzando o Atlântico no lugar de irmos pela rota mais curta, para o oeste. Em cada local que parávamos – na Europa, Israel e Singapura – íamos visitar o rabino local.
O Rebe deu a cada um de nós uma cópia do Tanya, a obra fundamental da filosofia Chabad, bem como dinheiro para tsedacá nos locais que visitamos: libras britânicas para a Inglaterra, dólares americanos [na época] para Israel, e libras australianas para a Austrália.
Os dois anos em que ficamos na Austrália foram lindos, mas longos anos. Agradeço ao Rebe por dar-me a oportunidade de passar aquele tempo totalmente envolvido com os alunos da yeshivá; foram meus melhores anos. Mas também estávamos totalmente afastados de todos que conhecíamos. Não havia fax, nem WhatsApps, e nem e-mails. Meu irmão me enviava uma carta diária sobre o que estava acontecendo no 770 e no decorrer daquele período, creio que recebi oito cartas do Rebe. Ele enviava cartas semelhantes para cada um de nós seis individualmente.
No verão australiano de 1974 (que era inverno nos Estados Unidos), viajei junto com Rabino Benzion Milecki para as cidades de Adelaide e Perth, para encontrar judeus, e para fortalecer as comunidades judaicas existentes naqueles locais.
Enviamos um relato de nossas atividades ao Rebe, e incluímos alguns clipes de jornais locais que tinham mostrado histórias sobre o que estávamos fazendo. Quando finalmente retornei da Austrália para casa, vi que minha mãe tinha aqueles clipes da nossa visita a Adelaide.
“Como você conseguiu isso?” perguntei. Eu nunca tinha enviado isso a ela. Ocorreu que o Rabino Binyomin Klein, o secretário do Rebe, tinha batido na porta da minha mãe um dia com os clipes dos jornais. “O Rebe disse para trazer esses aos pais.”
O Rebe assegurava que meus pais podiam ter algum nachat, alegria, de seu filho, pensando que eu não tinha sido suficientemente cuidadoso em enviar os clipes a eles. Ele sabia quem eu era.
Quando finalmente retornamos, já era novamente época de Pêssach. Ao final da festa, entrei na fila para receber um pouco de vinho do copo do Rebe.
Enquanto eu estava esperando, comecei a pensar sobre aqueles dois longos anos. Uma pequena voz dentro de mim dizia: “”Você sabe, aqueles foram dois anos de trabalho duro. Após dar tanto para o Rebe, eu realmente deveria estar recebendo alguma apreciação.”
Quando cheguei mais perto do Rebe, ele pegou um garrafa inteira de vinho – além de derramar vinho do seu copo, o Rebe também dava pequenas garrafas de vinho a determinados indivíduos – e entregou a mim. ‘Este é para seus alunos,” ele disse.
Percebi que o Rebe estava me dizendo algo, eu não tinha ido à Austrália por mim mesmo, mas para uma missão. “Pare de pensar sobre todo o trabalho que você fez na Austrália,” eu senti que ele estava me dizendo: “Pense sobre seus alunos!”
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