Meus avós estavam muito empolgados. Após me formar na escola em Londres, eu estava indo para o exterior estudar no seminário Beit Rivka em Nova York. Minha prima mais velha, Leah Jaffe, tinha ido para um seminário em Paris, mas eu seria a primeira menina na minha família a ir para Nova York.
Não que fosse minha primeira viagem a Nova York. Eu tinha ido muitas vezes antes, geralmente com meus avós, Reb Zalman e Rosalyn Jaffe de Manchester. Eles desfrutavam um relacionamento pessoal e muito próximo com o Rebe, e com a Rebetsin também. Quando se tratava do Rebe, você poderia dizer que meu avô não tinha filtro, ele escrevia ao Rebe toda semana, e partilhava tudo com ele. Quando ele descobriu que tipo de flores a Rebetsin gostava, ele passou a enviar a ela um buquê todo Shavuot, e em 1963, eles começaram a visitá-la sempre que iam a Nova York.
Por fim, seus netos se juntaram a eles: algumas das minhas primeiras lembranças envolvem essas visitas à Rebetsin: aquele aperto de antecipação em meu estômago quando descíamos a President Street, e nos aproximando da casa do Rebe – entrar na casa, vendo os pequenos pacotes que pessoas ou comunidades diferentes tinham enviado como presentes. Vinda da Inglaterra, eu senti eu sentia como se estivesse indo ao encontro da Rainha. Não era muito chique ou exagerado, mas havia um verdadeiro senso de elegância sobre a Rebetsin, e o ambiente era acolhedor e pacífico.
Meu avô nos fazia cantar para a Rebetsin, e também andávamos ao redor da sala, partilhando aquilo que tínhamos estudado na escola, ou as coisas que tínhamos feito. Ela estava sempre muito interessada em ouvir sobre nosso envolvimento em atividades que o Rebe tinha promovido. “”Oh, isso é maravilhoso” ela dizia, e nos dava balas embrulhadas.
Às vezes, saíamos para que meus avós tivessem algum tempo sozinhos com a Rebetsin. Afinal as visitas eram deles: Havia um grande privilégio para nós, mas eram meus avós que estavam mantendo a conversa, e nós éramos quase como acessórios. Foi somente uma vez quando estava no seminário que recebi um convite especialmente para mim.
Foi em 1984, e eu já estava em Nova York por um mês, quando meus avós foram para uma visita e me levaram, junto com muitos outros netos, até e Rebetsin. “Chaya vai ficar aqui,” eles disseram orgulhosamente a ela, “Ela está indo para o seminário Beit Rivka.”
“Muito bem,” a Rebetsin disse, assentindo a cabeça. ”Você deve manter contato.” Parecia que ela estava apenas sendo educada, mas então, quando estávamos saindo, a Rebetsin voltou-se para mim.
“Você vai ficar aqui,” ela disse, “portanto deve saber que tem uma amiga no bairro. Você vai pegar meu número com seus avós e podemos manter contato.”
Aquelas palavras foram surpreendentes, mas na hora eu estava muito nervosa. Minha amiga no bairro? O que isso significa? Passou uma semana antes de eu ligar, e uma ajudante disse-me que a Rebetsin não estava disponível. Uma parte de mim ficou aliviada, porque eu estava tão nervosa. Deixei uma mensagem, e disse que eu chamaria outra hora.
Após tentar uma ou duas vezes mais com o mesmo resultado, não me senti à vontade para ligar de novo. Em vez disso escrevi uma carta, dizendo o que estava acontecendo, como minhas aulas eram, sobre meus outros trabalhos, e assim por diante. Entendi que a Rebetsin não precisava ser incomodada.
Agora, por volta dessa época, minha prima Leah estava se casando. Ela era a primeira das minhas primas a se casar, apesar disso ser tão empolgante, eu não podia voar até Manchester para o casamento; a viagem era muito mais cara naqueles dias e não fazíamos isso com frequência. Eu apenas tinha minhas amigas em Nova York para celebrarmos juntas.
Sentindo-me deixada de fora, liguei para meus parentes na Inglaterra, e no dia antes do casamento, falei com meus avós para desejar-lhes Mazal Tov.
“Onde você tem estado?” meu avô perguntou.
“Bem aqui em Nova York,” respondi, pensando por que ele estava perguntando.
“Bem,” ele respondeu. “A Rebetsin tem tentado entrar em contato com você.”
“Ela tem? O que ela quer?” Pensei que as linhas deviam ter se cruzado porque parecia tão surreal. Como ela poderia estar tentando fazer contato comigo antes de ter meu número? Somente após fazer um pequeno trabalho de detetive, descobri que a Rebetsin tinha ligado para minha escola, somente para ser informada pela secretária – que não reconhecera sua voz – que ligar para alunos por telefone era contra a política do Beit Rivka.
“Eu não sei, mas falamos com ela, e ela disse que está tentando fazer contato com você.”
Ele sugeriu que eu enviasse outra carta, e para incluir o número do telefone de meu dormitório, bem como indicando as horas em que eu geralmente estaria ali.
Segui seu conselho, mas não fazia sentido para mim. Por que a Rebetsin queria fazer contato comigo?
O dia seguinte era sexta-feira que, como eu dissera à Rebetsin, era o melhor dia para falar comigo. Ainda duvidando se ela iria realmente ligar, avisei as outras sete meninas em meu apartamento; éramos um bando de loucas e às vezes atendíamos o telefone de forma engraçada, portanto elas tinham que estar cientes e cautelosas..
A certa altura naquele dia, eu tive de correr até o mercado Kahan para compras de Shabat. Na volta, minha amiga chamou-me no meio da Avenida Eastern Parkway, completamente sem fôlego: “Ela ligou!”
“Você está brincando.”
“Ela deixou um recado também: ‘Por favor diga a ela que A sra, Schneerson da President Street ligou, e se ela poderia por favor ligar-me de volta.”
Corri até o apartamento, respirei fundo, e disquei o número. Após o primeiro toque, a própria Rebetsin atendeu o telefone.
Eu disse alô, tivemos uma pequena conversa, e então eu disse: “Entendo que a Rebetsin me ligou, e estou retornando a ligação.”
“sim,” ela disse, “imaginei que com a sua prima se casando, provavelmente você está se sentindo um pouco solitária e com saudades de casa, e eu só queria ligar para você para entrar em contato.” Aquela foi a essência da conversa: que minha amiga no bairro estava pensando em mim.
Liguei novamente mais tarde, e marcamos um horário para eu visitá-la. Minha mãe, Sra, Hindy Lew, estava vindo para Nova York para Chanucá, e perguntei se ela poderia ir junto, também. “É sua visita”. Lembrei dela dizendo numa voz melodiosa. “Você que sabe.” Acabamos tendo uma visita muito agradável.
Continuei a manter uma conexão com a Rebetsin durante todo o tempo que permaneci no seminário. E, quantos mais anos se passam desde aquela primeira chamada, mais eu aprecio a maneira que a Rebetsin tem pensado à frente do tempo que eu iria provavelmente apreciar seu telefonema, a maneira que ela buscou meu contato para dizer que alguém estava pensando em mim e se importando comigo. Fazer tudo isso para um garota de dezessete anos foi espantoso. Minha reação inicial tinha sido o que a Rebetsin quer de mim? O que posso fazer por ela? Não pensei por um segundo que era apenas sobre estar ali para mim.
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